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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pesquisadores desenvolvem artificialmente órgão semelhante ao fígado humano

Para cada nova doença que surge, milhares de pesquisas são necessárias até que se determine qual combinação de substâncias químicas será capaz de combatê-la.

Um longo processo é percorrido para que a fórmula saia do laboratório e chegue às prateleiras das farmácias. No meio do caminho, os cientistas realizam os chamados ensaios clínicos — bateria de testes que servem para atestar a segurança e a qualidade dos remédios, bem como acompanhar seus efeitos nos pacientes após o lançamento. Um resultado inesperado em algum desses experimentos pode fazer um estudo de anos voltar à estaca zero. Para diminuir os riscos de fracasso na elaboração dos tratamentos, cientistas americanos desenvolveram um fígado artificial, compatível ao humano, a ser implantado em ratos utilizados no experimento. A ideia é prever com mais segurança — ainda durante os testes com animais — como a droga afetará as pessoas.

Antes de ser testada em humanos, uma droga precisa ser experimentada em animais. São feitos quantos ensaios forem necessários, em bichos de pequeno e médio porte, até que se tenha absoluta certeza da segurança do medicamento. Só então a fórmula é testada em um organismo humano saudável, em que os voluntários podem ou não apresentar efeitos colaterais. A última etapa consiste em ministrar os remédios em pessoas que sofrem do problema a ser combatido e observar os resultados.

Contudo, o sucesso dos testes em animais não significa, necessariamente, que a droga terá efeitos positivos em humanos, uma vez que não há como comparar dois organismos tão diferentes. É aí que entra o fígado artificial, desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Harvard. A escolha desse órgão específico para ser sintetizado, por meio da engenharia de tecidos, deve-se ao fato de ele ser o responsável por metabolizar e sintetizar inúmeras substâncias, entre elas, medicamentos. Após implantá-lo nos ratos, os estudiosos descobriram que o fígado de laboratório não só imita a atividade molecular do tecido humano como produz interações e lesões exclusivas do órgão natural. É como se os testes fossem realizados em um rato com fígado humano, misturando duas etapas de ensaios que costumam ocorrer de forma separada.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. Uma das autoras do estudo, Luvena Ong, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ligado à Harvard, explica que, para a ciência, a importância da criação de órgãos artificiais se dá não só pela possibilidade de produzir e substituir órgãos danificados, mas também para entender os processos celulares e moleculares que estão por trás das funções deles. “Esses modelos artificiais nos permitem sondar essas funções de uma maneira inatingível pelos modelos celulares, orgânicos e de animais”, diz, em entrevista ao Correio.

Comparados a outros métodos existentes para testar medicamentos, Ong comenta que o protótipo feito pelos estudiosos de Harvard se diferencia pela facilidade de criação. “A maioria dos outros modelos de fígado humanizado requer técnicas complicadas e especializadas para se desenvolver”, explica. “A segunda vantagem é que nosso modelo demonstra de forma mais precisa o metabolismo humano específico da droga para outros sistemas.”

Artificiais
Engenharia de tecidos significa o desenvolvimento e a manipulação de moléculas, células, tecidos e órgãos criados em laboratório para substituir partes do corpo que tenham ficado defeituosas por qualquer motivo. As células crescem fora do organismo por vários anos, mas, ainda assim, a possibilidade de os cientistas conseguirem criar tecidos tridimensionais complexos e capazes de reproduzir o design e a função do tecido humano é alta.

Fonte Correio Braziliense

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