Quem faz cirurgia de redução do estômago deve receber acompanhamento médico especial para o resto da vida.
O alerta foi feito no IV Congresso Brasileiro de Atualização em Endocrinologia e Metabologia, realizado em São Paulo na semana passada. Isso porque o procedimento, apesar de trazer grandes benefícios cardiovasculares para os pacientes, costuma reduzir a capacidade de absorção de nutrientes importantes, tornando o paciente mais vulnerável à perda de massa óssea e fraturas, por exemplo.
Os médicos ouvidos pela reportagem garantem que praticamente todos os pacientes que necessitam de internação após o procedimento tiveram complicações porque abandonaram o acompanhamento médico. Esse desligamento é uma situação comum, de acordo com a endocrinologista Maria Edna Melo, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Maria Edna atua no Ambulatório de Obesidade Mórbida do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que faz o seguimento pós-operatório dos pacientes. “Lá, os únicos casos de pacientes que precisam ser internados são aqueles que abandonam o tratamento”, conta.
Segundo a endocrinologista, observam-se casos de desnutrição principalmente quando o paciente passa por técnicas não recomendadas pelo Conselho Federal de Medicina, que levam a uma diminuição drástica dos nutrientes no organismo. Ela acrescenta que 99% dos pacientes acabam precisando de suplementação para suprir a falta de substâncias importantes, como a vitamina D, a vitamina B-12, o cálcio e o ferro.
Inicialmente, no primeiro ano após a cirurgia, o acompanhamento deve ser feito a cada três ou quatro meses, por uma equipe especializada – composta de cirurgião, nutricionista, endocrinologista e psicólogo. A partir do segundo ano, as consultas podem ser mais espaçadas e, após o quarto ou quinto ano, o acompanhamento passa a ser anual, de acordo com o cirurgião Ricardo Cohen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
“Isso não deve ser visto pelo paciente como um fardo, mas como uma oportunidade de monitorar a saúde, prevenindo doenças”, enfatiza Cohen. “Além disso, se o paciente continuasse obeso, acabaria ficando o resto da vida dependente de remédios para o diabete ou hipertensão, necessitando de um acompanhamento médico muito mais intenso.”
Na conferência A vida pós-cirurgia bariátrica, ministrada durante o Congresso, a endocrinologista Regina Matsunaga Martin falou sobre a atenção que o paciente deve ter com alterações ósseas, justamente pela deficiência na absorção de cálcio e vitamina D que costuma ser provocada pela redução. No caso da aposentada Regina D’Ugo Miele, de 63 anos, o cuidado foi redobrado após passar pela cirurgia, há três meses: mulher e idosa, está no grupo de risco para osteoporose.
Com 20 quilos a menos, Regina conta que cuida dos ossos com alimentação rica em cálcio, com muito leite e derivados, além da exposição diária ao sol, importante para a absorção da vitamina D. Ela também ingere suplementos. “Em alguns casos, a suplementação é para a vida toda. Mesmo assim, o paciente está em vantagem, pois se continuasse obeso, a sobrecarga sobre o sistema músculo-esquelético também levaria ao enfraquecimento e ao aparecimento de problemas articulares”, ressalta Cohen.
Fonte Estadão
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