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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Depressão na gravidez sem remédio

Médicos dizem que é preciso avaliar cada caso antes
de prescrever remédios antidepressivos para grávidas
Relatório mostra que 69% dos medicamentos de uso controlado, a maior parte para quadros depressivos, põem em risco a gestação

O que é mais perigoso para a mulher grávida: conviver nove meses com a depressão – e ficar suscetível a todas as sequelas, como danos cardíacos e isolamento social – ou tomar um medicamento de tarja preta que controla o transtorno de humor mas pode comprometer a saúde do feto?

Os especialistas já sabem que precisam encontrar uma resposta para esta pergunta, mas ainda não há um consenso universal sobre o uso de drogas controladas durante a gravidez.

Um novo relatório feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de ser divulgado com o objetivo de abastecer os médicos, gestantes e farmacêuticos com informações sobre este tema.

Durante 2010, foram monitoradas pelos técnicos da Anvisa todas as substâncias medicinais vendidas em farmácias e drogarias do Brasil e que precisam de receita para legitimar a venda. No total, foram comercializados 143 tipos diferentes de remédios controlados e, segundo relatório da Agência, 69,7% deles ameaçam, de alguma forma, a gestação, seja por risco de má formação fetal ou aceleração do parto.

“Decidimos focar o nosso primeiro boletim sobre os produtos farmacêuticos de uso controlado na gestação porque esta é uma área carente de informações”, explica Marcia Gonçalves de Oliveira, coordenadora do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados da Anvisa.

“O problema é que não se faz pesquisas, no Brasil e no mundo, com mulheres sadias e gestantes para atestar qual é a segurança dos medicamentos, até por uma questão de ética”, completa Márcia.

“A maioria das referências que temos, e que definem se um medicamento é arriscado ou não para a gestação, é de relatos espontâneos dos médicos e das gestantes que acabam sofrendo algum efeito colateral por conta da medicação. Resolvemos fazer este boletim com a classificação de risco para ajudar os médicos, os farmacêuticos e também alertar as usuárias.”

Risco ou benefício?
Um dos principais problemas da falta de informação científica sobre os reais perigos dos medicamentos controlados usados na gravidez é que as mulheres já portadoras de algum transtorno psíquico – como bipolaridade, esquizofrenia ou psicose – ficam sem muitas opções terapêuticas quando engravidam.

Outro obstáculo para a saúde feminina é que a depressão – que exige medicamento – cruza o caminho de duas em cada dez gestantes, como mostrou ensaio científico feito pela Sociedade de Pediatria do Canadá, sendo comum como a depressão pós-parto.

O quadro depressivo durante a gestação, de acordo com revisão de 99 estudos feitos por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, amplia em até 50% o risco do bebê nascer com menos de dois quilos. O baixo peso está associado a mais problemas cardíacos, respiratórios e até obesidade futura da criança, sem contar os prejuízos da doença na própria gestante.

Segundo o relatório da Anvisa, justamente para tentar sanar a depressão é que são utilizadas a maior parte das substâncias comercializadas no País (44% delas são para os transtornos comportamentais). Para fugir do dilema imposto à grávida com depressão, o psiquiatria da USP e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Joel Rennó Júnior afirma que sempre é preciso avaliar o risco e o benefício, de forma individual, antes de usar a medicação.

“Até hoje os trabalhos que avaliavam os riscos do medicamento para as grávidas não levam em consideração o perigo que as doenças não tratadas por medicações podem trazer”, pondera Rennó Júnior.

“Isolamento, abandono das crianças após o nascimento, desestrutura familiar, separações e uma série de outras consequências fazem parte dos prejuízos da depressão”, alerta o especialista, que diz ter acompanhado centenas de casos de grávidas que fizeram uso de remédios controlados e não tiveram nenhum problema com os seus filhos após o nascimento.

“É claro que não há como defender um uso descontrolado de medicamentos, ainda mais na gestação, mas os ginecologistas e os obstetras precisam ter mais atenção com a parte psíquica da grávida durante o pré-natal. Se identificarem algum problema, junto com um psiquiatra, devem avaliar individualmente o risco e o benefício de fazer um tratamento medicamentoso na gestação”, acrescenta o especialista.

Informações mais claras
Para o assessor do Conselho Federal de Farmácia (CFF), José Luis Miranda Maldonado, o novo relatório da Anvisa sobre o alerta das medicações durante a gravidez serve inclusive para as mulheres questionarem com seus médicos e com o farmacêutico sobre as vantagens e as desvantagens do uso.

“É uma área ainda muito nebulosa de informações que ainda é muito baseada em 'achismos'”, avalia Maldonado.

“Esta classificação de risco à gestação que está no relatório já existia e vinha escrita nas bulas das medicações, mas agora está tudo mais claro e direcionado. São dados que servem para assegurar o prescritos das medicações, o dispensador das mesmas drogas e as usuárias. Elas também podem questionar sobre os riscos e benefícios e cada caso deve ser avaliado.”

Fonte Delas

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