Não desista: quem tem o gene da obesidade pode atenuá-lo malhando, diz estudo |
Revisão de estudos sobre o tema mostrou que malhar pode reduzir em até 30% os efeitos do gene "engordativo"
Com as festas de fim de ano à porta, uma nova pesquisa oferece novidades que trazem esperança a respeito da obesidade e do destino, bem como sobre as consequências das escolhas que fazemos.
Os pesquisadores envolvidos reuniram os resultados de dezenas de estudos dedicados aos efeitos do exercício físico sobre o chamado gene da obesidade, que, acredita-se, aumenta em 12% ou mais o risco de que seus portadores tenham sobrepeso ou obesidade.
Vários anos atrás, os cientistas identificaram esse gene, conhecido como gene "associado à massa de gordura e à obesidade", ou gene FTO. Acontece que ele é bastante comum, infelizmente.
Segundo as estimativas, cerca de 65% das pessoas de ascendência europeia ou africana e talvez 44% dos descendentes de asiáticos têm alguma versão do gene FTO. Essas descobertas parecem sugerir que a maior parte de nós tem o sobrepeso como destino, uma ideia desanimadora – e que pode até ser do tipo "autorrealizável".
Um artigo publicado em fevereiro no The New England Journal of Medicine relatou que voluntários que descobriram ser portadores do gene FTO – ou de genes similares que incitam o acúmulo de gordura – começaram a comer alimentos mais gordurosos e em quantidades maiores, de modo mais inconsequente, ao longo dos três meses após terem sido informados de que tinham o gene. Isso ocorreu, provavelmente, porque eles acreditavam que o seu destino, pelo menos em termos de peso, já estava determinado.
Mas o novo estudo, publicado neste mês pela revista PLoS Medicine, sugere enfaticamente o contrário. Ele constatou que a atividade física, mesmo em pequenas doses, pode subverter o destino genético.
"Logo após a descoberta do FTO, em 2007, estudos mostraram que a atividade física atenua o efeito do gene no ganho de peso corporal", disse Ruth Loos, chefe de pesquisas no Instituto de Ciências Metabólicas em Cambridge, Inglaterra, e autora sênior do estudo.
"No entanto, tais pesquisas foram seguidas por experimentos que não conseguiram confirmar essa relação de forma convincente ou que não encontraram relação alguma".
Na esperança de reduzir a confusão entre os cientistas sobre o papel que o exercício físico pode exercer na atividade do gene, ela e seus colegas contataram os muitos pesquisadores que já haviam publicado sobre o assunto nos Estados Unidos e na Europa e lhes pediram, como cortesia profissional, que reanalisassem seus dados.
Loos e seu grupo suspeitavam de que parte da razão pela qual os resultados variavam era que as equipes de pesquisa empregavam métodos muito diferentes para quantificar e definir níveis de atividade física. Assim, na maioria das vezes, elas definiam uma pessoa fisicamente ativa como alguém que se envolve em pelo menos uma hora de atividade física, de moderada a vigorosa, por semana.
Mesmo de acordo com esse padrão bastante generoso, apenas 25% dos 218 mil portadores de FTO que tinham sido estudados em várias experiências até hoje se qualificaram como ativos.
Contudo, essas pessoas, segundo mostraram os dados recém-reanalisados, conseguiram superar, em parte, sua herança genética. Ser fisicamente ativo, de acordo com a nova análise, "reduziu o efeito do FTO em cerca de 30%", disse Loos.
Por mais que isso ainda deixe intacto 70% do efeito "engordativo" do gene, acrescenta ela, as consequências da atividade física sobre o funcionamento desse gene parecem ser substanciais o suficiente para talvez permitir a manutenção de uma silhueta normal por que alguém que de outra forma se tornaria bastante obeso.
Os cientistas ainda não entendem como o gene FTO promove o ganho de peso, apesar de suspeitarem que ele afeta o apetite e comportamento.
"Embora haja apenas dados funcionais limitados, parece que o gene se expressa bastante no cérebro", disse Lu Qi, professor assistente do departamento de nutrição da Escola de Saúde Pública de Harvard e um dos dezenas de cientistas que concordaram em reexaminar seus dados para a nova pesquisa. O gene é especialmente ativo "nas regiões que regulam o equilíbrio do consumo e do gasto energético", continua ele.
"A perda do equilíbrio energético é a base do desenvolvimento da obesidade." Consequentemente, a atividade física pode ter efeitos compensatórios no cérebro e na produção de energia.
"A atividade física está entre os fatores mais importantes do gasto energético", disse Qi. "Biologicamente, é possível que esses dois fatores, os genes e atividade física, possam interagir e afetar o equilíbrio energético".
Também é possível que o exercício altere diretamente a forma como o gene FTO atua, modificando tanto o modo como ele expressa certas proteínas quanto a maneira de ele permanecer inativo. Mas todas essas explicações são "especulativas" no momento, segundo Loos, e exigem a realização de mais pesquisas.
Ainda assim, as implicações da nova análise podem ser encorajadoras. "Muitas vezes as pessoas acham que a obesidade é algo de família ou que está em seus genes e, portanto, acreditam que não têm controle sobre seus problemas de peso", explicou Loos.
"Nosso estudo mostra que a atividade física desempenha um papel no controle do peso, mesmo naquelas pessoas que são geneticamente predispostas a engordar".
Além disso, a quantidade de atividade física exigida não precisa ser muito grande, acrescenta ela. "Você não tem que correr uma maratona ou frequentar uma academia", disse ela.
"Passear com o cachorro, ir de bicicleta para o trabalho, cuidar do jardim – tudo isso conta" e deve ajudar a combater os efeitos do gene FTO.
"Esperamos que a nossa mensagem dê força para pessoas que talvez tenham desistido de controlar o peso", concluiu Loos.
Fonte IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário