Foco no conforto e segurança do paciente, redução da dose de radiação, integração das soluções, produtividade x custos, crescimento da fabricação local, entre outros, são tendências da indústria de radiologia
Mais de 12 mil pessoas, dentre estas, mais de quatro mil radiologistas de 27 países, todos circulavam por estandes com variados tamanhos e cores. Os cerca de 110 expositores não pouparam investimentos para propagandear seus lançamentos e novidades durante o maior encontro da área de diagnóstico por imagem para a América Latina e 4º maior do mundo.
Com direito à apresentação de escola de samba e acrobacias circenses, a 42° Jornada Paulista de Radiologia (JPR), realizada entre os dias 3 e 6 de maio, em São Paulo, chamou a atenção para o que há de mais moderno em soluções e equipamentos médicos para o segmento de radiologia.
Um setor que, em 2011, movimentou US$ 1 bilhão no Brasil, segundo a Abimed (Associação Brasileira de Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares) e que deve crescer, em média, 9,5% ao ano, de acordo com estimativa da Abimo (Associação Brasileira de Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios).
Mesmo sob a lógica de mercado, onde o lucro e a competição são fatores cruciais para os negócios, o foco no paciente parece ser a estratégia prioritária dos fabricantes. “Listaria como tendência aspectos como conforto, segurança do paciente e melhoria da definição de imagem dos equipamentos”, ressalta o vice-presidente da GE Healthcare para a América Latina, Daurio Speranzini.
Lançada há apenas seis meses, mas com importantes contratos de venda, a ressonância magnética Discovery MR750w + GEM, de 3 Tesla, é exemplo de conforto ao proporcionar, segundo Speranzini, alívio ao paciente por ser maior do que os aparelhos tradicionais.
O executivo conta que 14 máquinas já foram negociadas sendo oito com laboratório Dasa, cinco com o Fleury e uma com o Hospital do Coração (HCor).
Para a geração de imagens com mais detalhes e brilho, o que possibilita maior precisão ao diagnóstico, as fabricantes de monitores apostam em tecnologias LED, OLED (superior ao LCD), Full HD e 3D.
Um exemplo é a japonesa Eizo que agitou seu estande com o monitor multitouch capaz de aumentar ou diminuir as imagens com toque dos dedos, o MS231WT.
Trabalhar com menores doses de radiação é outro fator perseguido pelas empresas no intuito de proteger o paciente. As últimas tecnologias, apresentadas durante a JPR, aumentam a precisão do tratamento e diminuem os efeitos colaterais. São exemplos disso a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), uma técnica que libera doses variadas de radiação; e a radioterapia guiada por imagens (IMRT), em que imagens tridimensionais de um tumor, por exemplo, são geradas por máquinas capazes de direcionar os feixes de radiação para o ponto exato.
A alemã Siemens levou à Jornada Paulista de Radiologia um sistema de imagem intervencionista, batizado de Syngo DynaCT 360, que utiliza tecnologia robótica e permite um procedimento de angiografia (visualização por radiografia da anatomia do coração) gire 360 graus em seis segundos, fornecendo imagens de tecidos moles com grande campo de visão (35×25 cm, 13,8 x 9,9 polegadas), durante o tratamento minimamente invasivo, bem como para acompanhamento de tumores.
As estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que em 2012 vão ocorrer cerca de 520 mil novos casos de câncer no País e 312 mil brasileiros receberão indicação para radioterapia. A previsão, que já não é motivadora, acarreta em outra conta: 90 mil pacientes vão deixar de receber o tratamento devido à defasagem no número de serviços de radioterapia.
O Inca aponta que o Brasil possui uma carência de aproximadamente 140 aparelhos de radioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o País conta com aproximadamente 230 aceleradores lineares, atendendo apenas 66% da demanda.
Integração das soluções
A oferta de infraestrutura para exames de imagem é um gargalo que o Brasil precisa enfrentar, tendo em vista a demanda crescente, impulsionada pelo aquecimento econômico e o consequente aumento no número de empregos e poder aquisitivo das classes C e D. Paralelo a este cenário, as empresas sofrem, ainda, com as pressões sobre os custos dos sistemas de saúde.
Plataforma de soluções integradas e a busca pela fabricação local tem sido a estratégia comum de alguns fabricantes do segmento de diagnóstico diante dessa constatação.
“O brasileiro, hoje, busca por uma saúde melhor e de menor custo. O hospital e a clínica têm que ter uma solução mais integrada. O médico precisa de uma infraestrutura não apenas de TI, mas hospitalar”, garante o vice-presidente sênior de Healthcare da Philips, Vitor Rocha.
Conseguir fazer mais com menor custo. Esta é uma das premissas da Carestream – líder global em imagens de raios x. Entre as novidades presentes na JPR estão os detectores wireless de raios x, conhecidos como DRX-1.
“O detector possibilita transformar um raio-x tradicional em digital, assim o hospital não precisa trocar o equipamento e consegue, no mínimo, dobrar a capacidade de exames”, explica o diretor geral da Carestream Health Brasil, Robert Eisenbraun.
Integração também é tendência para a tecnologia PACs (Picture Archieving Communication System, na sigla em inglês). A catarinense Pixeon lançou em março deste ano, a terceira versão do software Aurora 3.0, que, segundo o CEO da empresa, Fernando Peixoto, é o único PACS do mercado que não precisa fazer transferência de imagens multi-slices para o servidor e depois para as estações diagnósticas. O processamento das imagens já é realizado diretamente no servidor, o que elimina tempo e custo.
“Hoje a reconstrução da imagem dos concorrentes normalmente está na estação diagnóstica. O custo do hardware na ponta é muito maior. Essa tecnologia não tem mais o segundo passo. Esse tempo de processamento que oscilava entre 30 segundos a um minuto e meio, agora, se transforma 5 segundos por exame”, disse Peixoto ao Saúde Web, às vésperas do lançamento do Aurora 3.0.
Apesar dessa tendência global de integração das tecnologias e serviços, a realidade do Brasil ainda está distante do que se almeja. A impressão dos exames, por exemplo, ainda é largamente feita nos tradicionais filmes.
“O material é nocivo ao meio ambiente e o custo é oneroso. A forma mais simples e econômica é o papel”, conta o coordenador de marketing da japonesa OKI, Márcio Marquese. Entretanto, a impressão em papel torna-se cada vez mais irrisória nos países em que o sistema de saúde possui uma rede de informações digitalizada, como é o caso do Canadá. Mas, de acordo com a realidade brasileira, o papel ainda é o meio mais adequado, na opinião de Marquese.
Estimativas do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) apontam que menos de 20% dos equipamentos médicos de diagnósticos são digitais, incluindo raios-x.
Fabricação Local
Tornar o Brasil polo de fabricação e posteriormente de exportação é o desejo de Speranzini, da GE. O vice-presidente da companhia acredita que esta é a forma do Brasil se destacar entre emergentes como a China, que é o “quintal de fabricação do mundo” e a Índia, referência em serviços devido a sua mão de obra barata.
A fábrica da companhia, em Contagem (MG), inaugurada há dois anos, recentemente obteve o aval de órgãos reguladores para a fabricação de tomógrafos. Atualmente, ela está em plena operação produzindo raios-x analógicos e digitais. A GE aguarda a liberação de outros tipos de equipamentos.
Entre as fabricantes, a Philips é a que possui o maior portfólio nacional, cerca de 70% dos aparelhos vendidos são produzidos localmente, entre eles estão: a linha completa de raio-x, ressonância magnética de 1,5 e 3 Tesla, tomógrafos de 16 e 64 cortes, linha de monitores Dixtal e de anestesia.
Já a Siemens, em plena JPR, anunciou a expansão do parque fabril, de Joinville (SC), para a produção de equipamentos de ressonância magnética, tomografia, raio-x analógico e digital. A fábrica, que contou com investimentos de R$ 50 milhões, deve começar a operar a partir do segundo semestre deste ano.
“A consolidação da produção local é importante para atender essa demanda crescente do setor”, ressalta o presidente da divisão de Saúde no Brasil, Armando Lopes.
Seguindo a tendência dos concorrentes globais, a Toshiba Medical também decidiu pela fabricação local. A fábrica de aparelhos de diagnóstico por imagem será inaugurada até o fim deste ano, em Campinas (SP). O objetivo da empresa é também desenvolver localmente softwares
complementares aos equipamentos.
“Há dez anos, 80% das multinacionais tinham sedes no exterior. Agora, quase 90% delas possuem uma sede na América Latina, onde o principal alvo é o Brasil”, enfatiza o presidente da Sociedade Paulista de Radiologia, Ricardo Baaklini.
A JPR evidenciou que inovação e pesquisa e desenvolvimento já estão a caminho do Brasil. Foco no paciente, integração das soluções, redução de custos e aumento de produtividade pavimentam essa estrada, que ainda será longa.
Fonte SaudeWeb
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