Estudo mostra que uso de contraceptivos orais por portadoras de enxaqueca e
risco cardiovascular dobra chances de AVC
A cefaleia afeta quase 40% das mulheres na sua vida reprodutiva, fase em que
a anticoncepção hormonal é o método mais utilizado para a realização do
planejamento familiar. No entanto, se a dor de cabeça está presente,
principalmente a enxaqueca, elas têm de tomar cuidado na hora de usar
anticoncepcionais.
No caso da enxaqueca comum (sem aura), que acomete 11% das mulheres, segundo
o Estudo Americano de Prevalência e Prevenção das Enxaquecas, os
anticoncepcionais hormonais combinados (estrogênio e progestagênio) podem ser
usados, mas com algumas limitações. Em mulheres sem patologias cardiovasculares
prévias, podem ser tomados somente até os 35 anos. Após essa idade, há um
aumento da incidência de acidente vascular cerebral (AVC), e, nesse caso, os
métodos combinados são considerados categoria 3 nos Critérios de Elegibilidade
para o Uso de Anticoncepcionais da Organização Mundial da Saúde (OMS).
— Isso quer dizer que ele só deve ser usado em pacientes com enxaqueca sem
aura e nessa faixa etária quando não houver outra forma disponível efetiva de
anticoncepção. O ginecologista, porém, deve ficar atento a mulheres que
iniciaram anticoncepção hormonal combinada e não apresentavam enxaqueca e, de um
momento para outro, passaram a manifestá-la. Nesse caso, esse tipo de método
deve ser suspenso — explica Jarbas Magalhães, secretário da Comissão Nacional de
Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo).
Já a enxaqueca com aura, um complexo de sintomas neurológicos que ocorre
imediatamente antes ou ao longo do surgimento da enxaqueca, presente em 5% das
mulheres, segundo o mesmo estudo, está associada a riscos independentes de
fenômenos cardiovasculares e pode ser agravada intensamente pelo uso de
anticoncepcionais hormonais combinados. Se as mulheres usuárias forem fumantes,
o risco é considerado inaceitável para a OMS e para a Sociedade Internacional de
Cefaleia.
Um estudo recente realizado com mulheres com mais de 45 anos mostrou que a
enxaqueca com aura se associa a um aumento significativo de maior risco
cardiovascular (infarto de miocárdio e AVC isquêmico) e a um número
significativo de mortes devido à doença cardiovascular isquêmica. O levantamento
mostrou ainda que o risco de AVC isquêmico em mulheres com menos de 45 anos foi
de 3,6. Nas mulheres que usavam anticoncepcionais orais combinados com
estrogênios, o risco teve um aumento significativo e expressivo: 7,2. Além
disso, outros autores mostraram aumento de risco exponencial para AVC em
mulheres usuárias de anticoncepcionais hormonais combinados que eram fumantes.
Por essas razões, os anticoncepcionais hormonais combinados são
contraindicados nos casos de enxaqueca com aura ou enxaquecas complexas e devem
ser evitados nos casos de enxaqueca comum, nos quais as mulheres tenham outros
riscos envolvidos, segundo Magalhães. Como alternativa, as mulheres têm à sua
disposição métodos anticoncepcionais não hormonais e métodos hormonais somente
com progestagênios, como pílula (desogestrel), implante subdérmico
(etonogestrel) e DIU liberador de hormônio (levonorgestrel).
O tema faz parte das discussões do XVI Congresso Sul-Brasileiro de
Ginecologia e Obstetrícia e I Jornada Sul-Brasileira de Mastologia, que ocorrem
no Costão do Santinho Resort, em Florianópolis, Santa Catarina, até esta
quarta-feira.
Fonte Zero Hora
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