O álcool age negativamente no sistema nervoso por diversas vias |
Lapsos de memória, desequilíbrio, falta de coordenação motora; todos são
efeitos colatareis provocados pelo álcool, mas recuperáveis em curto prazo de
tempo. Mas o abuso no consumo de bebidas alcóolicas pode gerar sequelas
irreversíveis ao sistema nervoso. É o que explica o neurologista Leandro Teles
em entrevista. Confira:
Todo mundo sabe que o álcool prejudica o fígado, mas... e o
cérebro?
Leandro Teles - Sem dúvida nenhuma o álcool em excesso, seja
em quantidade, seja na frequência do uso, gera uma série de alterações agudas e
crônicas no sistema nervoso como um todo. O cérebro sofre e os nervos
periféricos, também. O álcool traz comprometimento agudo e imediato da função de
algumas regiões e, com o passar dos anos, gera alterações estruturais
irreversíveis podendo levar a demência, neuropatia periférica, entre outros
problemas.
Por que quando bebemos ficamos confusos e sem coordenação
motora?
LT - Após ingerir o álcool esse se difunde rapidamente para
o sangue e é distribuído por todo o corpo. O cérebro recebe cerca de 20 % do
sangue que sai do coração. O impacto é imediato, o sistema atencional localizado
nos lobos frontais é o primeiro a sofrer, ficamos desatentos, eufóricos, com
respostas motoras mais lentas e desajeitadas. A segunda região cerebral a acusar
o golpe é o cerebelo, ficamos sem coordenação, cambaleantes e com a fala mole.
Por fim surge a sonolência que se aprofunda progressivamente. Já não fixamos
nada na memória e se não houver muito cuidado a pessoa pode entrar em coma
alcoólico com risco de vida.
Como o álcool destrói os neurônios e suas conexões?
LT - O álcool age negativamente no sistema nervoso por
diversas vias. Primeiro, há uma toxicidade direta do álcool ao corpo do neurônio
e ao seu prolongamento (axônio). O álcool em excesso destrói diretamente
células, conexões e redes inteiras. O cérebro que quem bebe demais envelhece
precocemente e pode ficar atrofiado. Além do efeito direto, que bebe está mais
sujeito a traumas na região da cabeça e a carência de algumas vitaminas
fundamentais para o bom funcionamento do cérebro como a vitamina B1 (tiamina),
vitamina B3 (niacina), B6 (piridoxina) e principalmente a vitamina B12
(cianocobalamina).
Quem bebe com frequência e se abstém pode ter problemas neurológicos?
LT - O álcool vicia psíquica e fisicamente. Isso significa
dizer que a pessoa necessita cada vez mais da substância para ter tranquilidade
e sentir-se próximo do seu normal. Quando um viciado fica sem sua droga surgem
sempre sintomas de abstinência: irritabilidade, taquicardia, pressão alta,
excitação psíquica, confusão mental e até alucinações. Neste momento é
fundamental a intervenção médica para preservar a saúde do paciente e ajudá-la
na transição para a cessação do etilismo.
Afinal, um pouco de vinho tinto faz bem ou mal ao
cérebro?
LT - Consumo regular de baixas doses de vinhos esteve
relacionado a uma melhora do perfil cardiovascular. O cérebro fica sim mais
protegido quando os vasos que o nutrem ficam mais saudáveis. A substância do
vinho tinto responsável pelo efeito benéfico é o resveratrol, presente
principalmente na casca das uvas tintas. Agora, não podemos esquecer que tem o
álcool envolvido na formulação do vinho. Algumas pessoas tem tendência ao abuso,
outras doenças clínicas ou mesmo uso de medicamentos que não combinam com a
ingestão de álcool. Essas últimas devem sim evitar essa substância. Portanto, a
questão do custo versus benefício no uso regular de vinho deve ser avaliada caso
a caso.
Fonte Zero Hora
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