Pesquisa mostra que mutações de câncer de ovário e de endométrio são reveladas
em teste feito com material colhido pelo exame ginecológico
O papanicolau já tem o posto do exame mais eficiente em ginecologia, por sua
capacidade de detectar células precursoras do câncer de colo do útero. Agora
pesquisadores descobriram que, na mesma secreção coletada pelo exame, é possível
detectar também sinais de outros dois tipos de câncer: de ovário e de endométrio
(ou corpo do útero). Isso é feito por meio de um teste genético chamado
PapGene.
A novidade traz esperança principalmente quanto à prevenção contra o câncer
de ovário. Hoje, não existem exames de rotina eficazes em detectar precocemente
esse tipo de tumor, por isso 75% dos casos são descobertos em estágio
avançado.
O estudo, que resultou de uma parceria da Universidade Johns Hopkins com a
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), partiu da hipótese
de que células cancerosas dos tumores de ovário e do endométrio "viajam" até o
colo do útero, de onde é colhido o material do papanicolau. Os resultados foram
publicados na revista Science Translational Medicine.
Para identificar essas células, o estudo estabeleceu as principais mutações
presentes nos tumores de ovário e de endométrio. Em seguida, foram selecionadas
22 pacientes com câncer de ovário e 24 com câncer de endométrio de várias
instituições, até mesmo do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
(Icesp).
Todas fizeram coleta de papanicolau. As amostras passaram, então, por
sequenciamento genético, com o objetivo de buscar aquelas mutações. Em todas com
câncer de endométrio foi possível detectar a presença das mutações indicadoras
da doença. No caso do câncer de ovário, as mutações apareceram na amostra de 41%
das pacientes.
Para o ginecologista Jesus Paula Carvalho, professor da FMUSP e um dos
autores do estudo, os resultados foram animadores. "Pela primeira vez, por meio
de um exame simples, feito com material de papanicolau, a pesquisa por alteração
no DNA de células cancerosas pôde detectar o câncer de ovário", diz.
Ele acrescenta que o estudo abre a perspectiva para a criação de um teste que
possa ser aplicado em larga escala. "É só uma questão de evoluir e refinar o
método. O passo seguinte é fazer um banco de tumores e tecidos para poder testar
isso em várias outras situações", diz Carvalho. O procedimento não deve ser
caro, segundo o médico, já que a tecnologia é semelhante ao que já é utilizado
para identificar o papilomavírus humano (HPV).
O ginecologista Glauco Baiocchi Neto, diretor do Departamento de Ginecologia
Oncológica do A.C.Camargo, observa que, apesar de menos frequente, o tumor no
ovário é responsável por 54% dos óbitos por câncer ginecológico. "O grande
problema do câncer de ovário é que, quando se faz o diagnóstico, a doença já
está avançada."
Estudos mostram que ultrassom e teste para marcador tumoral dão margem a
falsos positivos, o que inviabiliza a estratégia.
Fonte Estadão
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