A comida por quilo é uma grande invenção, mas é preciso refletir o que vai escolher |
Entre os paulistanos, quem tem o hábito de comer fora de casa tem também
maior risco de estar acima do peso. Essa é a conclusão de um estudo da Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), que também mostrou que a
variedade de alimentos consumidos em restaurantes e lanchonetes, mais ricos em
gordura, está associada a um maior índice de hipertensão.
O estudo se baseou em dados do Inquérito de Saúde de Base Populacional no
Município de São Paulo (ISA-Capital), feito entre 2008 e 2009 e financiado pela
Secretaria Municipal da Saúde. Foram 834 pessoas entrevistadas, entre
adolescentes, adultos e idosos, das quais 32% afirmaram fazer pelo menos uma
refeição fora de casa por dia.
Segundo os resultados da pesquisa, 59% dos frequentadores de restaurantes
apresentam excesso de peso ou obesidade. Já na população geral adulta da cidade
de São Paulo 47,9% se enquadra na categoria de excesso de peso, de acordo com a
pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2011. Ainda segundo o estudo, 26% dos que
comem fora têm hipertensão. Na população geral, de acordo com a Vigitel, esse
índice é de 22,5%.
As refeições mais frequentemente realizadas fora são as intermediárias, como
o lanche da manhã ou o lanche da tarde: 45% dos que comem fora afirmaram ter
consumido essas refeições em estabelecimentos comerciais; 30% consomem o almoço;
15% consomem o café da manhã e 10% consomem o jantar.
A média de calorias consumidas fora de casa por refeição foi de 628
calorias.
Gordura
Segundo a autora do estudo, a nutricionista Bartira
Gorgulho, o consumo de alimentos gordurosos é facilitado em restaurantes e
lanchonetes.
"De maneira geral, as pessoas comem mal independentemente do lugar.
Observamos que, quando comem fora de casa, há um consumo maior de gordura. A
oferta de gordura é maior e as pessoas procuram comer o que não têm tanta
oportunidade de comer dentro de casa, como uma variedade maior de carnes e
frituras", observa.
Bartira acrescenta que é perfeitamente possível ter uma alimentação saudável
fora de casa sem gastar muito com isso. Restaurantes por quilo, por exemplo,
geralmente oferecem várias opções de verduras e legumes.
Na opinião do médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação
Brasileira de Nutrologia (Abran), quem come fora de casa não costuma observar o
tamanho das porções e, com isso, corre o risco de exagerar. Ele observa que
pratos maiores oferecidos pelos restaurantes podem induzir as pessoas a pegar
mais comida.
"A comida por quilo é uma grande invenção, mas é preciso refletir o que vai
escolher", diz o nutrólogo. Um dos erros mais comuns, segundo ele, é servir-se
de vários tipos de carboidratos - juntando num mesmo prato arroz, purê de batata
e macarrão, por exemplo - ou vários tipos de proteína, como carne bovina,
linguiça e frango. "Por outro lado, o espaço para salada geralmente é pequeno.
As pessoas não dão muito esse direcionamento. É o erro mais comum", aponta Ribas
Filho.
Para a nutricionista Ariana Fernandes, da Associação Brasileira para o Estudo
da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), um dos motivos que elevam a
quantidade de calorias das refeições feitas fora de casa é a falta de tempo.
"Muitas vezes, as pessoas optam por um lanche rápido, que quase sempre é bem
mais calórico que uma refeição balanceada."
Desafio diário
Para quem tem de comer fora todo dia, manter
uma dieta balanceada é um desafio. A assistente de marketing Karla Ikeda, de 25
anos, conta que a alimentação diária acaba variando conforme a companhia que ela
escolhe. "Às vezes, se saio com o pessoal que come besteira, acabo comendo
também. Mas, sempre que posso, tento comer em restaurante por quilo", conta.
A estratégia para balancear o cardápio, segundo Karla, é preencher metade do
prato com salada e a outra metade com arroz, carne e algum legume cozido.
O brasileiro come fora cada vez mais. A Pesquisa de Orçamentos Familiares do
Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) aponta que, em 2003, os
gastos com alimentação fora do domicílio entre a população urbana representava
25,7% dos gastos totais com alimentação. Em 2009, essa parcela subiu para
33,1%.
Fonte Estadão
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