O descredenciamento de médicos das operadoras de saúde é uma tendência, sobretudo em especialidades como pediatria, anestesiologia e cirurgia torácica. No caso de pediatras, não aceitar planos de saúde é uma "filosofia", como explica o presidente da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), Fernando Barreiro. A entidade faz um trabalho de conscientização em consultórios e entre futuros profissionais para orientar médicos a não se vincularem a planos de saúde.
No geral, as operadoras remuneram melhor os médicos que realizam procedimentos, atividades incomuns aos pediatras. "A pediatria é sustentada pelo pilar da consulta, com o atendimento à criança e à família", diz Barreiro. "Não concordamos que uma outra entidade regule o valor do nosso trabalho", completa.
Qualidade
Os valores das consultas, segundo o presidente da Sobape, forçam os profissionais a atenderem mais pacientes para se manter. "Atendendo de forma particular, temos uma capacidade melhor de atender o paciente", afirma Barreiro. Para a pediatra Helita Azevedo, foi a necessidade de manter a qualidade do atendimento que a fez se desvincular de planos de saúde.
"Comecei a perceber que para sobreviver teria que diminuir o tempo da consulta e iria perder a qualidade. Fiquei preocupada e comecei a cortar os convênios", afirma a médica. Atualmente, ela cobra R$ 350 por consultas particulares.
Mesmo com o descredenciamento dos planos de saúde, a pediatra afirma que não perdeu pacientes. Para ela, caso algum usuário de plano de saúde passe por essa situação, é possível procurar o médico descredenciado e perguntar em que condições e por qual valor o atendimento poderia continuar. "O paciente que tem ligação com o médico deve procurar o profissional. Sempre se dá um jeitinho", afirma Helita Azevedo.
Para o diretor do Sistema Informativo de Atendimento Médico (Sinam), Augusto Holmer, médicos que optam por se desvincular dos planos de saúde, geralmente, já têm uma clientela definida. "Quem tem uma clientela boa prefere abrir mão do volume de clientes indicados por planos de saúde, e da obrigação de atender de 15 a 20 pacientes por dia", afirma.
Dificuldade
Se a migração, por um lado, pode ser uma boa opção para os médicos, do outro, ela é sinônimo de problema para os pacientes. A recusa dos pediatras aos planos de saúde acaba dificultando o acesso à especialidade, como aconteceu com o filho do analista de sistemas Jansen Araújo.
Após três anos levando o filho para uma mesma médica, teve dificuldade de encontrar uma nova profissional, mesmo pagando R$ 360 de mensalidade. "Agora vou a um hospital e nem sempre sou atendido pelos mesmos médicos. Acaba perdendo a aproximação médico-paciente", conta Araújo.
Marcar simples exame laboratorial pelo plano de saúde também pode ser um desafio, como aconteceu com a administradora Liliam Lopes. Na maioria das vezes, ela é informada de que as unidades listadas na rede referenciada de seu plano não são mais conveniadas.
"Para fazer um exame, preciso ligar antes para o plano e ver se o laboratório está atendendo naquele momento", conta Liliam.
A Tarde - BA
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