Elas parecem saudáveis: não têm conservantes nem adição de açúcar e são
vendidas em sabores que poderiam ter saído da cozinha mais próxima, como
espaguete à bolonhesa e carne com legumes.
Mas, segundo um estudo publicado no "British Medical Journal", as papinhas
industrializadas têm menos nutrientes e menor diversidade de sabor e de textura
do que as feitas em casa.
Os pesquisadores da Universidade de Glasgow
analisaram 479 alimentos industrializados para bebês feitos entre outubro de
2010 e fevereiro de 2011 no Reino Unido.
Do total, 364 eram papinhas e mais da metade delas, 65%, eram doces. O
trabalho concluiu ainda que a papinha pronta fornece, em média, metade da
energia e das proteínas em relação à caseira.
Segundo os autores, bebês têm uma preferência inata por doces. E a exposição
repetida pode influenciar as preferências futuras.
No Brasil, não há uma análise semelhante recente, segundo a pediatra Roseli
Sarni, da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Editoria de Arte/Folhapress |
Ela conta que as papinhas mudaram de cinco anos para cá, atendendo a pedidos da entidade médica. "Tiraram açúcar, adicionaram leite em algumas delas. Mas não consideramos que seja um alimento completo."
O problema, diz ela, é que as papinhas salgadas quase sempre excluem algum
grupo de alimento, quando o bebê deveria comer de tudo.
Para a nutricionista Carolina Cabral da Costa Silva, outro porém são os
ingredientes em excesso. As de fruta não têm só fruta."Elas sempre têm um amido
e suco de maçã, para adoçar", afirma Carolina, uma das criadoras do blog
Fechando o Zíper (fechandoziper.com), que compara rótulos de alimentos.
"Já as salgadas têm mais de um alimento do mesmo grupo [como batata e
macarrão]. A criança não aprende a reconhecer sabores."
Pelo mesmo motivo, a nutricionista Cláudia Lobo, autora de "Comida de
Criança" (MG Editores, 248 págs., R$ 69,21), recomenda que as papinhas caseiras
tenham pedacinhos e sejam servidas com os alimentos separados.
"Se há maior variedade de sabores, a criança vai crescer gostando de mais
alimentos."
A gerente-executiva de Marketing de Nutrição Infantil da Nestlé, Ionah
Kochen, afirma que não há contraindicação quanto à ingestão diária das papinhas.
Segundo ela, de 2005 a 2012, a marca fez uma redução de até 56% de sal nos
produtos.
Feita em casa
Amanda Jardim Alves, 1, só come papinha industrializada aos fins de semana. Mas se dependesse dela... "Ela gosta de todas. Gosta mais do que da feita em casa", diz a mãe, a auxiliar administrativa Juliana Jardim, 29.
Amanda Jardim Alves, 1, só come papinha industrializada aos fins de semana. Mas se dependesse dela... "Ela gosta de todas. Gosta mais do que da feita em casa", diz a mãe, a auxiliar administrativa Juliana Jardim, 29.
Quando Amanda era mais nova, Juliana cozinhava os alimentos uma vez por
semana e congelava. "Fazia legumes, verduras e carboidratos separados e
combinava em três, quatro papinhas."
Hoje, a menina entrou para o cardápio da família. E é nessa hora que o
cuidado deve ser redobrado, diz Roseli Sarni. O maior risco, diz, é em relação
ao sal --ela recomenda não adicioná-lo até os 12 meses da criança.
Já de acordo com o pediatra Ary Lopes Cardoso, nutrólogo do Instituto da
Criança do HC, um pouco de sal não faz mal. "A criança tem que comer comida
gostosa."
Para ele, o lado bom da papinha industrializada é que os aspectos
nutricionais são garantidos. "A caseira depende da mãe seguir recomendações.
Pode dar trabalho cozinhar papinha saudável, mas, se ela conseguir, é melhor."
Folhaonline
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