É o que alerta a professora de psiquiatria da Faculdade de
Medicina da Universidade de Brasília, Maria das Graças de Oliveira. A
especialista conta que muitas vezes esse transtorno é confundido com depressão
porque, na maioria dos casos, o psiquiatra é procurado na fase depressiva da
doença, quando os sintomas não são muito diferentes dos de quadros depressivos a
que qualquer pessoa está sujeita.
O transtorno bipolar é caracterizado por alterações de humor que se
manifestam como episódios depressivos que se alternam com estado de euforia,
também denominados de mania, podendo se manifestar em diversos graus de
intensidade. Ângela Scippa, presidente da Associação Brasileira de Transtorno
Bipolar (ABTB), alerta que entre 30% e 60% dos diagnósticos de depressão
escondem um caso de transtorno bipolar.
Maria das Graças explica que na fase de euforia o paciente sente-se muito
bem. “Quando estão em hipomania [quadro mais leve de euforia], a pessoa não
procura ajuda porque sente-se bem, eufórica, com agilidade mental, sentimento de
confiança, ego mais inflado, sente-se mais poderosa, um estado que geralmente
não a leva a procurar ajuda de um psiquiatra”, explica a especialista. Se o
médico não perguntar insistentemente pelo sintoma da hipomania, eles não vão
contar, portanto, muitos pacientes acabam recebendo diagnóstico de depressão,
quando na verdade é transtorno bipolar.
“Esses pacientes têm biografias que são verdadeiras montanhas-russas. São
pessoas que passam por vários casamentos, que têm dificuldade em crescer
profissionalmente, histórico de demissões ou de falências. Cada episódio de
depressão ou de exaltação de humor pode ter consequências muito ruins para a
vida do paciente”, destacou Graça.
Fernando*, professor de educação física, 27 anos, hoje sabe que tem
transtorno bipolar. Mas, aos 13 anos, foi diagnosticado com depressão. “Na minha
infância, antes dos 10 anos de idade, comecei a apresentar sinais de
irritabilidade, agressividade, comecei a ser levado a psicólogos, psiquiatras.
Só aos 16 fui diagnosticado com transtorno bipolar”, conta.
Depois de 11 anos de tratamento, Fernando disse que passou a perceber quando
está entrando em crise e toma as providências para se controlar e “não machucar”
e ofender outras pessoas. “No meu tempo de colégio eu cheguei a agredir tão
fortemente um colega que ele desmaiou e foi parar no hospital, eu virava o
verdadeiro Hulk [personagem de filme] nas crises de depressão”, contou. No caso
dele, a agressividade é um sintoma de sua crise depressiva.
Na fase de euforia, Fernando conta que fica brincalhão e cheio de si. “Eu me
sinto literalmente o Super-Homem, você acha que pode tudo, que é inatingível,
chegam cinco pessoas querendo bater em você e acha que pode enfrentá-las. Falta
achar que sabe voar” relatou.
Ângela também conta que há casos mais leves em que as pessoas convivem com a
doença por toda a vida, sem ter um diagnóstico. “Alguns descobrem a doença aos
80 anos, para ter ideia. Isso ocorre em pessoas que têm a doença de forma leve
e que, por isso, nunca notaram a necessidade de um tratamento. Mas, hoje, com a
ajuda da mídia, as pessoas estão mais atentas e com mais informações em relação
ao transtorno bipolar, o que diminui casos de descoberta tardia” explica.
*Fernando é um nome fictício já que o entrevistado não quis ser
identificado.
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário