Confundir as dores pélvicas com cólica menstrual pode atrasar o diagnóstico da paciente em um tempo superior a cinco anos |
Entre 10 e 15% das mulheres brasileiras são portadoras da endometriose. A doença acontece quando o tecido que reveste o útero, o endométrio, se desloca da parede uterina em direção a outros órgãos do corpo, como intestino e bexiga, ocasionando uma reação inflamatória. O maior problema da doença são os sintomas silenciosos: a dor pélvica, muito confundida com a cólica menstrual, pode atrasar o diagnóstico da paciente em um tempo superior a cinco anos, resultando em quadros de dor incapacitante e até infertilidade.
Não há faixa etária exata para que a mulher apresente um quadro de endometriose, pois a doença surge durante a idade reprodutiva.
— A endometriose é uma doença que ainda não sabemos a verdadeira causa. A única certeza que temos é que ela está relacionada à menstruação — afirma a médica ginecologista Raquel Dibi.
Segundo a especialista, pacientes que já têm um histórico familiar e apresentam dores persistentes durante o ciclo menstrual devem procurar o médico.
— Quando utilizamos analgésicos recomendados para eliminar essa dor e o procedimento não funciona, é sinal de que devemos procurar uma orientação especializada — alerta.
Outra dificuldade está na análise dos sintomas correlacionados à extensão da doença. Além da dor pélvica, principalmente quando provém da menstruação sem o uso de pílula anticoncepcional, dores na relação sexual e para urinar, dificuldade e incômodo para evacuar, podem ser sintomas da endometriose, porém não estão restritos à enfermidade. Isso também vale para intensidade das dores em relação ao avanço da doença, que vai do estágio I ao IV.
— Alguns estudos demonstram que os focos de endometriose parecem apresentar uma inervação autônoma, explicando porque alguns casos são mais sintomáticos — comenta Raquel.
Como tratar
O tratamento pode ser cirúrgico, clínico ou combinado, segundo a médica. No consultório, o médico deve fazer uma avaliação detalhada dos sintomas e uma análise de toque, pois esses dados vão ajudar na hora do diagnóstico do estágio da endometriose. Em um primeiro momento, a pílula anticoncepcional pode aliviar os sintomas e reduzir os focos da doença, já que o endométrio fora do útero cresce sob ação dos hormônios femininos. Em outros casos, a cirurgia pode ser a melhor alternativa.
— Um tipo mais agressivo da doença, a endometriose profunda, tende a responder muito pouco ao tratamento clínico. Em casos de infertilidade, por exemplo, deve-se realizar apenas cirurgia ou, dependendo do grau de infertilidade, reprodução assistida — explica a ginecologista.
Infertilidade e câncer têm relação com a doença?
A infertilidade, uma dúvida comum que surge nos consultórios, é um problema sério desencadeado pela endometriose, descoberto pela paciente geralmente quando ela decide engravidar. A reação de inflamação que causa a doença do endométrio pode resultar em aderências entre os órgãos reprodutivos, ocasionando alteração na anatomia e, como resultado, causando a infertilidade. O problema não tem cura, mas dispõe de tratamento, segundo especialistas.
— A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina da atualidade, sendo a fertilização in vitro seu principal tratamento quando se está buscando um filho. O congelamento de óvulos pode auxiliar as mulheres que ainda não desejam engravidar ou aquelas em que a doença compromete os ovários e, consequentemente, a quantidade de óvulos no futuro — explica o ginecologista e especialista em reprodução humana Fernando Badalotti.
Outra dúvida comum é a associação da endometriose com o câncer de endométrio. Apesar de se desencadearem de formas parecidas, as enfermidades não têm relação uma com a outra. As células da endometriose crescem e se multiplicam fora do útero da mesma forma que acontece o processo de carcinogênese, mas o problema não desencadeia um tumor maligno do endométrio, que acomete principalmente as mulheres na pós-menopausa, depois dos 60 anos.
— Não existe ainda nenhum estudo que comprove esta associação — esclarece a ginecologista Raquel Dibi.
Zero Hora
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