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Forma como refeição é apresentada tem mais poder sobre venda do que critérios nutricionais
Rio - Escolher um prato no cardápio pode exigir um olhar bem mais
criterioso do que se imagina. Uma pesquisa publicada pela “International
Journal of Hospitality Management” analisou as escolhas de 300 clientes
a partir de 217 menus e descobriu que, muitas vezes, os pedidos tinham
mais a ver com o design do próprio menu — ou com a imagem e a descrição
da comida — do que com a preferência de cada um. E o pior: a maior parte
das tentativas de influência dos restaurantes levava a escolhas menos
saudáveis.
Analisando o quadro mais a fundo, os autores Brian Wansink e Katie
Love descobriram que as descrições mais tentadoras correspondiam aos
pratos mais cheios de gordura, sal e outros componentes potencialmente
perigosos. Para comprovar esses efeitos, eles alteraram a descrição de
alguns itens. O “filé de pescado” virou “suculento filé de pescado do
mar italiano”, e o "arroz e feijão vermelho” foi transformado em "feijão
vermelho à moda cajun e arroz”. O resultado? As vendas desses itens
mais balanceados subiram 28%. Além disso, os clientes estavam dispostos a
pagar, em média, 12% a mais por alimentos com nomes atraentes.
Vai de purê ou creme aerado?
A
importância da descrição dos pratos é uma velha conhecida da
nutricionista clínica Virgínia Nascimento. Segundo ela, essa preocupação
faz toda a diferença na hora de elaborar uma dieta:
— Se falamos
em purê, as pessoas associam com coisas monótonas, sem gosto. Mas, se já
mudamos o nome para creme de legume aerado ou espuma de determinado
legume, o olhar das pessoas é outro.
Diante das constatações da
pesquisa, Wansink afirmou à revista “Time” que o segredo para garantir
uma boa refeição é conversar com o garçom.
— Pergunte quais são as
duas ou três entradas mais leves que recebem o maior número de elogios
ou qual é a melhor coisa no menu para uma pessoa que deseja uma refeição
light — recomendou.
As economistas Christina Ossich e Elaine
Tavares sabem disso. Enquanto almoçavam em um restaurante no Centro do
Rio de Janeiro ontem, elas garantiram que buscam extrair o máximo de
informações antes de fazer o pedido.
— Se não conseguir entender
tudo, peço orientação aos funcionários. Para mim, quanto mais
transparente for o cardápio, melhor — avalia Christina.
A colega Elaine reforça as conclusões da pesquisa. Para ela, é notório como alguns restaurantes realmente induzem os clientes.
—
Vejo que, muitas vezes, os pratos mais caros são mais destacados. Ou,
dependendo do horário, aqueles que são mais fáceis de preparar é que
ganham mais visibilidade — diz. — Para mim, é fundamental um cardápio
transparente e informativo.
Segundo a coordenadora de Design da
ESPM Rio, Eliana Formiga, o uso de adjetivos e nomes personalizados têm
aparecido crescentemente nos menus. Segundo ela, esse não é o problema:
— A princípio, isso não deve ser motivo de desconfiança. Mas é um direito do cliente saber exatamente o que está comendo.
‘Clientes estão mais atentos"’
O
chef Pedro de Artagão afirma que os restaurantes têm de tratar seus
pratos de maneira padrão. E sustenta não haver mais espaço para quem
tenta supervalorizar determinados itens para vender mais.
— Quem
age assim está fadado ao insucesso. Os clientes estão mais atentos a
esses detalhes — pontua, citando exemplos de frequentadores de
restaurantes que utilizam as redes sociais para fazer reclamações.
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