As crianças aparecem como as principais vítimas de intoxicações |
Maioria dos casos envolve crianças – intoxicadas
com remédios, produtos de limpeza e até mesmo plantas venenosas–, mas há
relatos de tentativas de suicídio frustradas
No fundo de um dos corredores do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas de São Paulo há uma porta com uma discreta placa:
Ceatox. A sigla significa Centro de Assistência Toxicológica. Dentro da
pequena sala, trabalha a equipe que recebe as ligações do telefone
gratuito que estampa praticamente todos os rótulos dos produtos de
limpeza nacionais.
Mas não são só ingestões acidentais de produtos
de limpeza que as pessoas do outro lado da linha relatam. Há também
ingestão de remédios, seja por acidente ou por tentativa de suicídio,
acidentes com pesticidas, plantas e até mesmo veneno, como os raticidas.
No
Ceatox, serviço gratuito que funciona 24 horas por dia, atuam
estudantes e formados em medicina, farmácia e enfermagem,
treinados especificamente na área de toxicologia. Para auxiliar no
trabalho, todos os computadores contam com um sistema para consulta de
medicamentos e substâncias, bem como suas interações.
O centro
recebe cerca de 80 ligações por dia. A demanda maior é por conta da
ingestão acidental de medicamentos, mas há casos também daqueles que
tentaram tirar a própria vida e desistiram antes do fato consumado ou de
outros encontrados ainda com vida por algum parente que liga ao Ceatox
aflito por ajuda.
As crianças e os remédios
As
manhãs são mais tranquilas. Como a maior parte dos atendimentos se dá
por causa de crianças que ingeriram remédios ou produtos de limpeza, a
farmacêutica e coordenadora do Ceatox, Cristina Andrusaitis Sandron,
explica que é nas horas em que as crianças sentem mais fome que os
acidentes acontecem com maior frequência, ou seja, mais perto do horário
do almoço.
De repente, o telefone toca. Catharina Cardoso
Januário de Souza, estudante de medicina de 24 anos, atende uma mãe
preocupada após o filho de dois anos ter ingerido uma pequena quantidade
de um produto químico. Apesar de o teor da substância assustar,
Catharina tranquiliza a mãe: nesse caso, especificamente, basta deixar o
pequeno sem beber água, leite ou qualquer outra substância durante
duras horas. Depois desse período, alimentar a criança com uma fruta
pode ajudar. Claro, cada caso é um caso, e a intoxicação também depende
da quantidade de produto ingerido, por isso o ideal é sempre,
absolutamente sempre, ligar para o Ceatox.
Antes de desligar,
Catharina alerta a mãe: é possível que a criança venha a ter algum outro
problema mais sério, como a pneumonite química. Caso o menino tenha
tosse e febre de três a quatro dias depois da ingestão do produto
químico, a mãe precisa procurar o serviço médico.
Veja as principais coisas que podem causar intoxicação:
- Aranha: muitos são intoxicados pelo veneno de aranhas peçonhentas
- Botulismo: alguns alimentos podem ser contaminados pela bactéria Clostridium botulinum e causar botulismo, uma intoxicação grave
- Cobras venenosas: são um perigo também. Há antídotos para grande parte dos venenos, mas é preciso correr para um serviço médico
- Comida também pode intoxicar: alguns pratos são mais sensíveis e devem
ser manuseados na temperatura adequada para que não estrague e não cause
danos.
- Escorpiões: também costumam picar e, se não a pessoa não for socorrida a tempo, o veneno pode matar
- Metais pesados: o mercúrio, por exemplo, que está presente em
termômetros, pode intoxicar uma pessoa se ela ficar em contato direto
- Produtos de limpeza: estão em segundo lugar de intoxicações. Cores fortes atraem crianças
- Outro problema são os produtos de limpeza usados simultaneamente: alguns
jamais devem ser misturados com outros, por formarem gases tóxicos
- Remédios: qualquer remédio pode causar intoxicação
* Muitos remédios são derivados de plantas, mas nem todas as plantas são
comestíveis. Plantas que soltam aquele leite branco são cáusticas
Os acidentes com medicamentos acontecem mais na faixa
etária de um a quatro anos, época em que a criança quer explorar o
ambiente e se sente atraída pelas cores chamativas dos remédios. O
comportamento de alguns pais também não ajuda. Muitos, para convencer a
criança a tomar o remédio necessário, dizem que é “balinha, docinho, que
vai deixar bem forte”. Diante disso, a criança pode entender que não é
algo perigoso e pode voltar a tomar escondido dos pais.
Em segundo
lugar no ranking de intoxicações estão os produtos de limpeza. E,
novamente, o perigo maior está em crianças de até quatro anos. “As cores
da embalagem dos produtos chamam a atenção das crianças, pois são
rosinhas, amarelinhos”, alerta a coordenadora do Ceatox. Já nos adultos,
essa intoxicação acontece na maioria das vezes por pura confusão. “Há
muitos produtos de limpeza clandestinos, vendidos em garrafas PET.
Muitas vezes a pessoa bebe achando que é água, depois vê que bebeu
produto de limpeza”, conta.
Papel preventivo
Não
só pessoas intoxicadas têm vez no Ceatox. O centro também está
disponível para tirar dúvidas sobre interações medicamentosas, por
exemplo. “Às vezes, um paciente não sabe se pode tomar um determinado
remédio junto com outro e liga para a gente”, explica a farmacêutica. Os
profissionais também ajudam quem tem dúvida se pode tomar certo
medicamento na gravidez ou durante a amamentação.
Vez ou outra, o
Ceatox recebe ligações sobre intoxicação de bichinhos de estimação ou
até mesmo animais de maior porte, como ovelhas e bois. “O princípio de
absorção de substâncias é quase o mesmo, então a gente consegue
orientar”, diz Cristina.
Recomendações em caso de intoxicação
Ninguém
melhor que o Ceatox (0800 0148110) para orientar em casos de
intoxicação. No entanto, é importante saber que algumas coisas não devem
ser feitas em nenhuma hipótese: dar leite ou água para a pessoa que
ingeriu alguma substância, seja ela medicamento ou produtos químicos, é
piorar o problema. “Se a pessoa ingeriu soda cáustica, por exemplo, que é
super corrosiva, e toma água, não adianta nada. A água vai diluir um
pouco da soda, que continuará corrosiva e vai atingir mais partes do
estômago ainda”, alerta.
O mesmo vale para o leite. Além de
espalhar o problema, ele pode ainda ajudar na absorção de produtos
derivados do petróleo, como querosene, removedor, gasolina e outros,
fazendo com que a proporção do dano seja muito maior do que seria.
Provocar
vômito também não é uma boa ideia. Só vale quando é orientado pelo
Ceatox. Se a criança bebeu algo corrosivo, por exemplo, vomitar só vai
queimar ainda mais o caminho que o líquido vai percorrer ao voltar pela
boca.
Por isso, a recomendação é ligar para o Ceatox para orientações e, nunca, jamais, tentar solucionar o problema sem ajuda médica.
Serviço
Ceatox - 0800 0148110 ou (11) 2661-8800 / 2661-8571
iG
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