No Dia Nacional de Combate ao Fumo, a psiquiatra Analice Gigliotti desmistifica a crença de que o tabaco acalma
Rio - No Dia Nacional de Combate ao Fumo, nesta sexta-feira, a
psiquiatra e diretora do Espaço Clif, Analice Gigliotti, comenta as
consequências do tabaco na saúde mental. Na clínica de dependência
química, em Botafogo, na zona Sul do Rio, 45% dos internados até hoje
fumavam. Entre os pacientes psiquiátricos, 33% fumavam.
De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no ano passado, o cigarro é o causador de seis milhões de mortes no mundo por ano, a maioria em países de baixa e média renda. O documento mostra ainda, que, se essa tendência se mantiver, o número de mortes ligadas ao fumo deve aumentar para oito milhões ao ano em 2030, e 80% desses óbitos deverão acontecer nos países mais pobres.
De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado no ano passado, o cigarro é o causador de seis milhões de mortes no mundo por ano, a maioria em países de baixa e média renda. O documento mostra ainda, que, se essa tendência se mantiver, o número de mortes ligadas ao fumo deve aumentar para oito milhões ao ano em 2030, e 80% desses óbitos deverão acontecer nos países mais pobres.
Além disso, no século XX, o cigarro teria causado a morte de mais de
100 milhões de pessoas, segundo estimativa do relatório Global Tobacco
Epidemic 2013 (Epidemia Global do Tabaco 2013).
Como que a saúde mental pode melhorar depois que uma pessoa para de fumar, já que se acredita que o cigarro diminui a ansiedade?
Como que a saúde mental pode melhorar depois que uma pessoa para de fumar, já que se acredita que o cigarro diminui a ansiedade?
Parar de fumar diminui a ansiedade. O estudo “Mudança na saúde mental
após a cessação do tabagismo: revisão sistemática e meta-análise”
publicado em fevereiro deste ano na “British Medical Journal”
evidenciou que os índices de ansiedade e de depressão diminuem, embora
as pessoas achem que o cigarro deixa menos ansioso. A síndrome de
abstinência de nicotina aumenta a ansiedade. A nicotina fica no
organismo da pessoa durante duas horas. Quando os níveis plasmáticos da
nicotina vão caindo, a pessoa começa a sentir falta da substância e
sente que tem que fumar de novo. Ou seja, a falta da nicotina aumenta a
ansiedade.
As pessoas que não estão com uma boa saúde mental têm mais tendência em procurar o cigarro?
Com certeza. Existe uma prevalência maior de tabagismo de pessoas com transtorno mental. Existem várias teorias para explicar isso. Por exemplo, de que seria uma coisa secundária. Isto é, a pessoa está depressiva usa o cigarro como antidepressivo. Se está ansiosa, usa para diminuir a ansiedade. Mas é importante ressaltar também que o cigarro aumenta a vulnerabilidade aos transtornos mentais. O tabagismo precoce aumenta as chances de a pessoa ter esquizofrenia, depressão. Perturba o cérebro, já que é uma droga que entra em contato com o cérebro.
As pessoas que não estão com uma boa saúde mental têm mais tendência em procurar o cigarro?
Com certeza. Existe uma prevalência maior de tabagismo de pessoas com transtorno mental. Existem várias teorias para explicar isso. Por exemplo, de que seria uma coisa secundária. Isto é, a pessoa está depressiva usa o cigarro como antidepressivo. Se está ansiosa, usa para diminuir a ansiedade. Mas é importante ressaltar também que o cigarro aumenta a vulnerabilidade aos transtornos mentais. O tabagismo precoce aumenta as chances de a pessoa ter esquizofrenia, depressão. Perturba o cérebro, já que é uma droga que entra em contato com o cérebro.
Por que pacientes dependentes de outras drogas acabam também fumando cigarro?
Existem várias teorias que explicam isso. Existem questões de
neuroquímica. Algumas vezes o que existe é que uma droga aumenta o
reforço positivo da outra. Por exemplo, fumar enquanto bebe aumenta o
prazer de fumar e vice-versa. Da mesma forma que fumar cigarro aumenta o
prazer quando fuma maconha ou quando cheira cocaína. Isso é uma coisa
de reforço positivo conjunto. Outro fator é que algumas situações,
alguns ambientes desencadeiam o desejo de uma droga, que acabam
desencadeando o desejo de outra. Algumas situações que são permissivas a
uma droga são permissivas para outra. Uma pessoa que fuma maconha, fuma
cigarro muito mais frequentemente. Ambas são drogas fumadas, ou seja, é
a mesma via de entrada. É muito comum também o cigarro ser uma porta de
entrada. O fumante de cigarro tem três vezes mais chance de fumar
maconha, e vice-versa.
Parar de fumar pode ajudar uma pessoa na recuperação de outra dependência química?
Sim. É difícil você largar as drogas se não for conjuntamente. As
situações que você usa uma droga normalmente são as mesmas situações que
você usa outra droga. É comum pessoas beberem e fumarem ao mesmo tempo.
Os locais onde se bebe e onde se fuma são os mesmos. A outra é que a
nicotina fica estimulando os mesmos centros de recompensa das outras
drogas.
Algumas pessoas começam a fumar mesmo tendo casos na família
de morte pelo tabaco, algo que normalmente traria algum trauma. Existe
alguma explicação psicológica para isso?
Normalmente, se começa a fumar na adolescência. Adolescente não pensa
muito em consequência futura. Isso é coisa típica da idade.
Biologicamente não estão preparados para medicar riscos da atitude. Os
pais têm que guiar, e a melhor forma de fazer isso é dar exemplo, não
usando nenhuma substância psicoativa. Não devemos banalizar o consumo
das drogas. A coisa mais importante é conversar com o filho sobre isso.
Não de uma maneira professoral, mas com um tom próximo.
Há muitos casos também de pessoas que conseguem parar de fumar e depois de um tempo voltam. Isso ocorre normalmente por que?
A dependência de droga é uma doença crônica que está susceptível a
recaídas. Um paciente dependente de qualquer droga provavelmente vai ter
recaída. Situações de maior estresse como morte ou coisa mais grave
podem desencadear essa vontade de consumir a droga novamente.
O Globo
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