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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Entenda a relação entre obesidade e genética

Saiba quais genes favorecem a obesidade e como a hereditariedade influencia no problema
 
Por: Dra. Alessandra Rascovski Gobbi Endocrinologista e Metabologista
 
Já há comprovação de que a obesidade tem causa genética. Mas o estilo de vida influencia e muito!                             
 
A obesidade é uma doença crônica que se caracteriza principalmente pelo excesso de gordura corporal. Essa gordura que se acumula no corpo pode causar sérios problemas à saúde do indivíduo com obesidade. É importante ressaltar que apesar da obesidade estar relacionada com o aumento de peso, nem todo aumento de peso significa obesidade, pois existem muitos atletas que tem um peso alto, mas não são tem este quadro devido a massa magra corporal.                             
 
O número de crianças e adultos com obesidade vem crescendo cada vez mais nos últimos anos devido às mudanças da sociedade moderna. A obesidade atinge tanto os países ricos quanto os países pobres, e até mesmo países como o Japão que era tido como um país de população magra está sofrendo com esse tipo de problema. A Organização Mundial da Saúde considera a obesidade nos dias de hoje um problema de saúde pública tão sério quanto a desnutrição.                             
 
Quando ambos, pai e mãe, tem obesidade, o risco da criança desenvolver obesidade é de 80%. Quando apenas um tem a condição, este risco diminui para 40%. Quando pai e mãe não tem obesidade, o risco de ter filhos obesidade é de apenas 10%. Estudos feitos com gêmeos univitelinos, já mostraram que, mesmo que as crianças vivam separadas, há semelhança de peso. Com crianças adotivas ocorre o mesmo fenômeno: o peso é mais parecido com o dos pais biológicos do que com os pais adotivos, independentemente do estilo de vida e hábitos alimentares.                             
 
Antigamente, criança gordinha era sinônimo de criança saudável. De certa forma, havia lógica nesse conceito. Numa época em que não existiam antibióticos, crianças mais nutridas resistiam melhor aos processos infecciosos na infância. Hoje, a obesidade infantil transformou-se num problema sério de saúde, numa epidemia que se alastra e já atinge parte expressiva da população nessa faixa de idade. As causas são muitas, mas os hábitos alimentares baseados no fast food, salgadinhos e guloseimas e as horas passadas em frente da televisão ou jogando videogame são relevantes.                             
 
A preocupação não é só estética, já que as crianças estão apresentando doenças de adultos: diabetes, alterações nos níveis de colesterol e são descriminadas pelos amiguinhos e alvo de brincadeiras de mau gosto.                             
 
Existem muitas causas para a obesidade infantil, mas não podemos deixar de mencionar as características genéticas. Milhões e milhões de anos atrás, sobreviveram nossos ancestrais que tinham genes capazes de estocar calorias e transformá-las em energia.                             
 
Os que não tinham, morreram precocemente e a maioria dos sobreviventes tem genes que favorecem o aparecimento da obesidade. Se o ambiente for favorável, ela irá manifestar-se.                             
 
Hoje já sabemos que o peso da mãe define o futuro peso da criança. Engordar muito durante a gestação, favorece o desenvolvimento de tecido adiposo, de gordura, no primeiro ano de vida da criança. É ruim quando a mãe engravida muito acima do peso, mas quando ela engorda muito durante a gestação principalmente, ela deve passar algum hormônio, que faz com que o hipotálamo do bebê ordene: armazene energia! O que significa estocar gordura. Por outro lado, se a mãe é desnutrida, especialmente no primeiro trimestre da gestação, a criança que em geral nasce com baixo peso, talvez por aumento de insulina já dentro do útero entre outras causas, estimula uma alimentação mais farta durante a vida, com menos sensação de saciedade e maior risco de guardar gordura.                              
 
Vale ressaltar também que filho de mãe diabética tem maior tendência a formar células de gordura e também quando a mãe faz hipoglicemias, estimula o pâncreas da criança a liberar mais insulina e a tornar-se mais sujeita a desenvolver diabetes.                             
 
O número de pessoas com obesidade costuma ser maior nas áreas urbanas, e também tem relação com o nível financeiro da família. Quanto maior a renda maior a prevalência de obesidade, mas a tendência é diminuir em classes mais elevadas. O problema se agrava nas classes mais baixas, mas tende a se estabilizar.                          
 
Os dados mais recentes da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) divulgados pelo Ministério da Saúde são de 2011. Após a coleta de informações em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, o resultado mostrou que 48,5% da população brasileira está acima do peso. O número aumentou em relação aos resultados anteriores: em 2006, a proporção era de 42,7%. No mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%. Em 2006, 47,2% dos homens e 38,5% das mulheres estavam acima do peso, enquanto que, em 2011, as proporções passaram para 52,6% e 44,7%, respectivamente.                             
 
Para enfrentar o problema do sobrepeso e obesidade, a detecção de sua origem seria grande aliado de médicos e pacientes para resolver a melhor orientação. Qual será a melhor dieta? Que tipo de atividade física produzirá os melhores resultados em cada pessoa? Haverá necessidade de medicação específica? Responder estas perguntas requer conhecimento profundo dos genes envolvidos na elucidação dos mecanismos de ação dos mediadores químicos e dos circuitos que os neurônios estabelecem até chegar aos centros cerebrais encarregados do controle da fome e da saciedade e queima calórica. Engordar ou emagrecer está longe de ser só mera questão de vontade e hábitos de vida, já que as mutações genéticas podem contribuir em até 70% dos casos de ganho de peso. 
                            
Seguem alguns exemplos de genes relacionados a obesidade e como atuam:                             
 
- Gene FTO (fat mass and obesity associated): é muito expresso no hipotálamo e tem papel no controle da ingestão alimentar e da queima calórica. Suas mutações estão ligadas ao ganho de peso e atinge 42% de caucasianos, 5% dos africanos e 21% dos Asiáticos e quem as apresenta, come fartas refeições e alimentos gordurosos! Estudos já mostraram peso de 3kg a mais e aumento de 1,6 vezes no risco de obesidade em adultos com e sem mutação
 
- Gene de receptor da leptina, que é uma proteína produzida pelas células de gordura que controla o quanto comemos, além do nosso gasto energético
 
- Gene APOA5: crucial para o metabolismo dos óleos e gorduras e para regulação dos níveis de triglicérides no sangue
 
- Gene PPAR: são proteínas influenciadas por fatores externos, como alimentação, exercícios e medicação, que regulam o estoque e fornecimento de energia. Normalmente este gene armazena gordura favorecendo obesidade e também controla a resistência à insulina predispondo ao diabetes. As pessoas com mutação nesses genes perdem mais peso e melhoram a sensibilidade à insulina, só que são mais sujeitas ao efeito sanfona?, já que perdem peso mais facilmente, mas também o recuperam mais fácil. Sabendo disso, a dieta deve eliminar gorduras saturadas e controlar com mais rigor o consumo de carboidratos!
 
- Gene ADIPOQ: controla um hormônio produzido apenas nas células de gordura, que através do sangue, chega aos músculos e fígado, iniciando a queima de gordura e controlando níveis de insulina. Esta mutação promove propensão ao sobrepeso e diabetes
 
- Gene ADRB3:regula gasto energético e quebra de gordura. Organismos que apresentam esta mutação precisam de 10% a menos de energia pra funcionar, por isso se o consumo de alimento for igual ao de alguém com ADRB3 normal engordará mais. Também precisam de mais atividade física do que alguém normal para conseguir o mesmo resultado
 
- Gene MC4R (melanocortina): controla uma proteína do hipotálamo, área do cérebro que regula sono, temperatura corporal, apetite e saciedade. Esta proteína é uma espécie de sensor. Quando há muita energia (entenda-se calorias) ofertadas para o organismo, esta proteína avisa para o cérebro: saciado! E da mesma forma, quando o nível de energia estiver baixo, os neurônios, através desta proteína, enviam sinais de fome e a pessoa se alimenta. Esta mutação afeta 22% das pessoas e quando diminui o nível desta proteína, aumenta o apetite e atrasa saciedade, fazendo com que se coma pratos mais ricos em carboidratos, com maior quantidade de alimento e ainda gerando a necessidade de "beliscar" (fazer lanches com mais frequência).
 
Parece mesmo que a obesidade é uma "cruz" carregada por pessoas geneticamente predispostas, num ambiente que lhes proporciona acesso farto aos alimentos. E, provavelmente, num futuro próximo, os testes genéticos poderão predizer o risco de ficarmos obesos e mais do que isso ajudarão a definir a intensidade de atividade física necessária à perda de peso, a dieta que ajudará a alcançar as metas estabelecidas para cada um de nós ou ainda se é necessário o uso de medicamentos e qual o melhor mecanismo de ação que eles devem ter.                               
 
Além disso, nosso cérebro através de hormônios e proteínas, ajusta o metabolismo e dispara ímpetos de fome para que o peso corporal volte sempre para o maior peso já atingido, por isso talvez seja mais lógico afirmar que tal pessoa come muito porque tem tendência a engordar; e não, está acima do peso porque come demais, enquanto a outra come pouco por ser magra e, muito disso, já vem determinado ao nascimento.                             

Minha Vida

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