Acompanhamento médico é visto como maior atrativo pelos pacientes que se dispõem a fazer parte de pesquisa
A aposentada Maria Isabel Menescal Fiuza Thiry, de 65 anos, está participando de uma pesquisa clínica para avaliar a eficácia de um medicamento para osteoporose. Soube do ensaio clínico por amigas, pouco depois de receber um diagnóstico da doença.
"Fui muito bem tratada", afirma. Ela comemora os inúmeros exames e a atenção que recebeu dos médicos. De tempos em tempos, entregam-lhe um relatório detalhado sobre sua saúde. Ela conta que já animou companheiras do prédio onde mora a participar dos estudos.
No protocolo de pesquisa, ela devia guardar uma hora de jejum após o almoço e ingerir a cápsula do produto. Maria Isabel ainda não sabe se pertence ao grupo que recebeu a nova droga ou um produto controle, para comparação. Seu último retorno será no início do próximo ano, quando receberá a avaliação final dos médicos. "Depois, vou esperar um ano (prazo necessário para participar de um novo estudo) e procurar um ensaio sobre artrose para me inscrever", comenta.
Ela foi atendida no CCBR Brasil, um centro de pesquisa clínica na zona sul do Rio. O médico Luis Augusto Russo dirige o centro e realizou um estudo, publicado na revista científica Ciência e Saúde Coletiva em 2008, sobre o perfil de cem pacientes que participaram de testes clínicos.
Segundo o trabalho, 59% das pessoas aceitaram participar de um estudo clínico para "saber mais sobre sua saúde" e 47% mencionaram "beneficiar outras pessoas no futuro" como um dos motivos para ingressar no teste de medicamentos. Cerca de 57% tinham renda familiar mensal inferior a R$ 1.050.
Um quarto concluiu o ensino fundamental, mas 66% chegaram à quarta série, nível de escolaridade suficiente, segundo os autores, "para assinar e compreender o que está assinando". No caso, o termo de consentimento informado que especifica as regras do estudo. Cerca de 3% tinham ensino superior.
"Tapete vermelho." Para o frei Anacleto Gapski, relator do Comitê de Ética em Pesquisa da Unifesp, a razão que leva muitas pessoas a participar dos testes clínicos é clara: trocar a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo "tapete vermelho" do atendimento diferenciado nos centros de pesquisa clínica - públicos ou privados.
Augusto Eduardo Ferraz concorda. Ele é um dos fundadores da Alleco Trials, uma empresa brasileira que recruta pacientes para testes clínicos de indústrias nacionais e estrangeiras. "Temos um banco de dados com mais de 20 mil pessoas que desejam participar dos ensaios." Ele também atua na Associação Brasileira de Apoio e Proteção aos Sujeitos da Pesquisa Clínica (Abraspec) e dá palestras em associações de classe, sindicatos e comunidades para explicar as pesquisas clínicas. "A possibilidade de um acompanhamento sério é o principal motivo para as pessoas participarem."
A Conep exige que a empresa assuma o compromisso de fornecer o tratamento depois dos testes se o médico considerar conveniente, algo previsto na Resolução 156/1996 do CNS.
A coordenadora da comissão, Gyselle Tannous, afirma que muitos voluntários "nem imaginam seus inúmeros direitos" e defende a regra. "É justo depois de contribuir para um estudo que poderá render muito lucro."
Vitor Harada, diretor-presidente da Abracro, afirma que a exigência de manter o tratamento depois dos testes clínicos faz com que muitos estudos não sejam feitos no País. Ele defende que pessoas com síndromes genéticas raras e de evolução agressiva, bem como pacientes com tumores que reagiram bem ao tratamento experimental, continuem recebendo a medicação. "Mas não dá para justificar o fornecimento do remédio em doenças crônicas como diabete ou hipertensão", considera.
Fonte Estadão
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