Os lares são locais onde os idosos mais sofrem de depressão. Por isso, ocupar os tempos livres com várias actividades é uma das formas para evitar situações de depressão entre os mais velhos
A depressão é uma doença que afecta cada vez mais idosos. Em Portugal, mais de um terço das mulheres com idade superior a 80 anos e cerca de um terço dos homens sofrem com esta doença.
Os dados são confirmados pelo psiquiatra Horácio Firmino, responsável pela equipa da consulta de Gerontopsiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que sublinha o facto desta doença apresentar um maior risco de incapacidade e mortalidade associado a uma diminuição da qualidade de vida da pessoa e dos seus familiares.
No idoso, por exemplo, a depressão está associada a uma alta taxa de mortalidade, nomeadamente por suicídio, especialmente entre os homens.
"Estima-se que cerca de 75% dos idosos suicidas visitam um médico dos cuidados de saúde primários um mês antes de colocarem termo à vida", adianta Horácio Firmino.
Segundo o especialista, os riscos de desenvolvimento de sintomas depressivos nos idosos estão directamente relacionados com factores psicológicos, sociais, biológicos e físicos.
No entanto, na terceira idade, os sintomas de uma depressão – perda de memória, mudanças de estado de humor, tristeza, falta de apetite e perda de interesse em actividades do quotidiano – podem ser confundidos com o normal envelhecimento e resultarem até de uma polimedicação (vários remédios).
A população idosa que está mais vulnerável a quadros depressivos reside em lares. Cerca de 15% dos casos apresentam o que se chama ‘depressão major’ e 35% outros quadros depressivos.
A doença preocupa mais ainda porque pode agravar outras patologias, resultando num aumento da mortalidade após enfarte do miocárdio, ou piorar os resultados funcionais do pós-AVC.
A depressão tem tratamento e o primeiro passo é dado quando se procura ajuda. Com apoio médico adequado é possível recuperar funcionalidades e reduzir os sintomas.
LAR ATENTO A SINAIS DOS UTENTES
Segundo o provedor do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Alentejo, Rui Pão--Mole, estar atento aos sintomas de depressão nos idosos é tão importante como aos da glicémia ou da tensão arterial. "O flagelo da nossa sociedade, que é o abandono dos idosos, também potencia essas situações de depressão. Tentamos manter os nossos utentes o mais ocupados possível para que a sua mente se afaste um pouco dos problemas", disse ao CM o responsável da instituição alentejana, que conta com cerca de 140 utentes nas várias valências.
PAÍSES RICOS MAIS DEPRESSIVOS
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere que os países ricos têm maiores taxas de depressão. O estudo, que analisou a vida de 90 mil pessoas de 18 países nos cinco continentes, refere que 15% das pessoas que vivem em países com rendimentos altos já tiveram uma depressão, sendo que esse valor é de 12% nos países mais pobres. A França e os EUA tiveram as taxas mais elevadas, com 21 e 19%. China (6,5%) e México (8%) apresentaram os índices mais baixos.
DISCURSO DIRECTO
"DIÁLOGO É IMPORTANTE", Horácio Firmino, Médico Psiquiatra
Correio da Manhã – Como se detecta a depressão?
Horácio Firmino – É fundamental assinalar os sintomas: dores, falta de apetite, mal-estar geral. Se o médico tiver dúvidas, deve utilizar-se uma Escala de Depressão Geriátrica, que poderá ajudar a detectar a doença.
– Há outros sinais?
– A tristeza e a depressão podem gerar avaliações dúbias. Mas a perturbação depressiva manifesta-se também através de modificações a nível emocional, cognitivo, comportamental e do funcionamento somático.
– Que cuidados se deve ter com os doentes?
– Quando, sob o ponto de vista emocional, a pessoa não está bem, urge a intervenção dos profissionais de saúde. A intervenção deve englobar a medicação, a intervenção psicoterapêutica, a reavaliação regular e, sobretudo, o diálogo. O diálogo é muito importante nestes casos".
O MEU CASO: ROSALINA SERRA
"SENTIA UMA GRANDE INFELICIDADE"
Tem 66 anos e foi professora primária durante 32. Tinha quase 40 anos de idade quando sofreu o episódio mais grave do que viria a ser diagnosticado como uma depressão. A pressão do trabalho e a exigência que tinha consigo própria atiraram-na para uma cama. "Esgotei-me física e psicologicamente", contou, acrescentando que um dia perdeu o conhecimento. "Nem o meu nome conseguia escrever e sentia uma grande infelicidade", recorda, acrescentando que "nem tinha força para lutar pela vida".
Juntavam-se os choros compulsivos, os ataques de pânico, um sono intranquilo, dores de estômago, náuseas e falta de apetite, que a levou a perder peso em excesso. Desesperava, tal como a família . "O meu marido não entendia que o que eu tinha era uma doença, porque achava que eu tinha tudo para ser feliz", relata Rosalina, garantindo que nunca pensou em suicidar-se, mas sim em pedir ajuda.
Em desespero, telefonou para uma clínica em Coimbra, onde trabalhava o psiquiatra Horácio Firmino. Foi internada durante uma semana, para uma cura de sono, e medicada. "A minha sorte foi ter pedido ajuda", garante, sublinhando que é importante a pessoa reconhecer que está doente e pedir ajuda.
PERFIL
Rosalina Serra é natural da Lousa, no concelho de Castelo Branco. Nasceu a 20 de Março de 1945. Tem o bacharelato da Escola do Magistério de Castelo Branco. Leccionou durante 32 anos na escola do Carvalhal. Actualmente, reside na Sertã.
Fonte Correio da Manhã
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