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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Síndrome da Solidão: Psicólogo diz que isolamento social traz prejuízos similares ao do cigarro



O que é mais prejudicial ao organismo: fumar 15 cigarros por dia ou sentir-se sozinho? De acordo com o psicólogo John Cacioppo, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, as duas ações fazem igualmente mal, a longo prazo. O norte-americano baseou-se em pesquisas de outros cientistas com idosos e notou que o sentimento de solidão, mais do que o isolamento físico em si, aumenta os níveis de cortisol — hormônio ligado à resposta ao estresse — no corpo. A presença do cortisol eleva a pressão arterial, reduz o sistema imunológico e pode, entre outros fatores, contribuir para o declínio da performance do sistema cognitivo. A falta de interação com amigos e familiares também colabora com o aparecimento da depressão, da demência precoce e de problemas cardíacos.

A dona de casa Larissa Mota, 23 anos, entende bem os males que sentir-se solitária proporciona. Em dezembro de 2009, a mãe da jovem passou em um concurso público e saiu de Brasília com as filhas e a neta para morar em São Luís, no Maranhão. Embora tivesse parentes na cidade, a relação com primos e tios não foi das melhores. “Eles eram muito controladores, queriam nossa presença o tempo todo e não nos deixavam ter liberdade. Comecei a me sentir sufocada e a me afastar”, comenta.

Morar em um lugar diferente, ter que conviver com pessoas com as quais não se dava bem e sentir muita saudade do então namorado — atual marido —, que ficou em Brasília, fizeram com que Larissa se sentisse cada vez mais isolada. E, embora tentasse fazer amizades no curso preparatório para concursos no qual se matriculou, não obteve sucesso. “Então, não queria mais sair de casa. Não conseguia me interessar por nada em São Luís, achava tudo horrível. Eu vivia na internet conversando com meu namorado, me lamentando”, recorda. “Não era só eu que sentia esse desespero. Eu, minha mãe, minha irmã e minha filha não gostávamos de ficar lá. Todos ficaram abalados.”

Ela reconhece que a falta de adaptação, o esforço necessário para fazer a filha se sentir bem com uma nova rotina e a sensação de desamparo afetaram sua saúde. “Apenas nos sete meses que passei lá, fiquei doente várias vezes. Tive crises de coluna e febre”, lembra a jovem. Larissa disse ter notado na pele como sentir-se sozinha baixou sua imunidade, pois ficava doente facilmente. A solução foi voltar para Brasília com a filha. A psicóloga Janaína Gomes compreende a situação da dona de casa. “O isolamento social é caracterizado não apenas pela ausência de contatos sociais. Em algumas situações, o contato até existe, mas o que não há é interação”, explica.

Em entrevista ao Correio, Cacioppo esclarece a diferença entre estar só e sentir-se assim. “As pessoas podem se sentir solitárias em meio a uma multidão, como quando alguém está sentado na arquibancada lotada de um time rival durante uma partida de futebol.” Ele acrescenta que, no último censo feito nos Estados Unidos, constatou-se que as pessoas vivem cada vez mais isoladas, seja devido ao envelhecimento da população, aos casamentos cada vez mais tardios ou à diminuição do número de filhos. “Com isso, o número de confidentes, com quem se pode desabafar, diminui”, registra.

Subjetividade
O pesquisador ressalta que o isolamento físico, embora possa afetar a saúde, é menos prejudicial que o isolamento social, que está mais ligado à qualidade do que à quantidade das interações sociais. “O sentimento de estar sozinho é influenciado por fatores objetivos e subjetivos, como a genética, o ambiente familiar em que a pessoa viveu quando criança, normas culturais, deficiências físicas e discrepâncias entre expectativas das relações e como elas realmente ocorrem”, completa. A questão das expectativas nos relacionamentos é, para a psicóloga Kelly Gennari, de grande importância. “Somos seres sociáveis, treinados a viver pelo outro. Estar perto de alguém é necessário para que nos sintamos valorizados, mas o que esperamos das demais pessoas e como nos relacionamos com elas é ainda mais relevante.”

Cacioppo afirma que “o momento entre o fim da vida adulta e o início da terceira idade é quando o isolamento se manifesta mais intensamente, porque essas pessoas perderam seus pais, cônjuges, irmãos, amigos próximos e, em alguns casos, um ou todos os filhos”. Foi a morte de um ente querido que abalou a professora Ilma Gentil, 56 anos, e causou problemas em sua saúde. Em 19 de dezembro de 2010, o marido de Ilma morreu de câncer, após passar quase dois meses internado. Perder Paulo, com quem faria 35 anos de casados em 27 de dezembro do ano passado, foi um grande baque na vida dela e dos dois filhos, Cristiane, 34 anos, e Paulo Roberto, 33. “Ele tinha sido meu primeiro namorado e, mesmo depois de tantos anos, nos amávamos muito e continuávamos fazendo planos para o futuro, como viajar”, conta.

A ausência do marido lhe fez descobrir, meses depois, doenças que não tinha quando estavam juntos, como diverticulose e bico de papagaio — calcificação de ligamentos e cartilagens — no joelho. Além disso, o choque de não estar mais com Paulo fez com que seu lado emocional fosse tão abalado que ela admite que, desde então, sua memória tem falhado vez ou outra. Foram parentes e amigos que a fizeram se reerguer da dor e a impediram de se isolar. Para não passar tanto tempo sozinha em casa, Ilma desistiu de se aposentar e fica muito com Cristiane e Paulo Roberto, que não moram com ela. “Seria errado dizer que fiquei solitária, porque minha família é muito unida e me deu muito apoio. Nos dois primeiros meses após a morte do meu marido, fiquei na casa da minha filha. Se não fosse por ela, pelo meu filho, meu genro e meus netos, eu não teria resistido”, admite.

A professora, que mora sozinha, afirma que os programas em família melhoram seu estado emocional. “Mantemos nosso hábito de, aos domingos, passarmos o dia juntos. Valorizamos estar uns com os outros. Vou com meus netos, (os gêmeos Caio e Bia, 3 anos), ao shopping, levo os dois ao cinema”, detalha. Segundo Ilma, ela às vezes sente que os papéis de pais e filhos se inverteram, por receber tanto cuidado, carinho e atenção. Essa presença da família é essencial para mudar o comportamento de isolamento de um indivíduo, garante a psicóloga Janaína Gomes. “Quando se vê que uma pessoa não quer sair e interagir com os outros, os parentes devem ser os primeiros a intervir e saber o que está acontecendo”, descreve. “Só em seguida vêm os amigos e toda a rede social para completar a ajuda.”

Interação
Segundo Janaína, muitas vezes o isolamento social existe porque o desenvolvimento infantil não ocorreu adequadamente. “Tem crianças que passam muito tempo brincando sozinhas, usando redes sociais em contato com pessoas com as quais não interagem realmente e não buscam se entrosar com outras crianças na vida real, porque têm medo”, descreve. Ela ressalta, contudo, que é mais fácil para os pequenos resolverem esse problema, já que são mais abertos à adoção de novos hábitos de comportamento.

Que hábitos seriam esses? John Cacioppo destaca o primeiro passo, que, embora pareça simples, é considerado um dos mais difíceis de ser cumprido, principalmente por adultos e idosos: se abrir à possibilidade de fazer novos amigos. A psicóloga Kelly Gennari sugere outras atitudes que podem melhorar a qualidade dos relacionamentos interpessoais e, consequentemente, a saúde individual. “Primeiramente, reveja suas expectativas frente às outras pessoas. Pense: ‘O que espero de uma boa companhia?’”, indica. Ela ressalta que é essencial equilibrar as facetas familiar, pessoal, social e profissional, para que uma crise em uma dessas áreas não desestabilize completamente o indivíduo. E completa: “Se você quer ser abraçado, abrace. Procure ser uma pessoa agradável de estar perto e de conviver. Faça atividades saudáveis, seja gentil, solidário e, principalmente, lembre que ninguém é perfeito”.

Complicações
O divertículo é uma saliência que aparece na parede de diferentes áreas do sistema gastrointestinal, mais comumente encontrada nas paredes do intestino grosso. A presença de grande quantidade dessas saliências — onde podem se alojar bactérias e fezes — no intestino é chamada de diverticulose. Cerca de 20% das pessoas com diverticulose sofrem complicações, que podem causar a diverticulite, inflamação dos divertículos. Esse problema de saúde é caracterizado por dores abdominais e febre.

Fonte Correio Braziliense

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