Desde a chegada do cachorro Zulu à casa da família Rabelo, em Ribeirão Preto (SP), há três meses, o número de crises convulsivas de Davi, rapaz de 19 anos que sofre de epilepsia, caíram de 20 para 5 ao dia.
O semblante sereno do filho garante a Juanita, 46, uma noite de sono tranquila. Ela sabe que pode ser alertada pelo barulho feito por Zulu se uma nova crise acontecer.
Cão da raça labrador, Zulo pode ser o primeiro cão do Brasil adestrado para identificar crises de epilepsia, segundo a psiquiatra Maria Priscila Cescato, do Centro de Cirurgia de Epilepsia do HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão, da USP.
O treinamento para essa função é comum em países como Estados Unidos e Reino Unido, mas não há conhecimento de outro cão com essa habilidade no Brasil, diz o psiquiatra Renato Luiz Marchetti, do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo.
Ambos os especialistas tomam o cuidado de dizer que não há estudos suficientes que comprovem a eficácia da ajuda animal na redução de crises em epilépticos.
Eles concordam, porém, com a possibilidade de consequências positivas na interação entre paciente e cão. "Ainda é incipiente o assunto, mas talvez possa ser algo indicado para os pacientes que não melhoram apesar de seguir o tratamento médico", disse Marchetti.
Era o caso de Davi. A mãe conta que, em 19 anos "de luta", o filho mais velho já havia tomado "todas as combinações possíveis de remédios que existem no mundo" e tentado diversas dietas.
IDEIA DE MÃE
A ideia do cão adestrado partiu da mãe, durante conversa com o policial militar Ricardo Cazarotti, em uma sessão de Davi de equoterapia (tratamento com uso de cavalos) no quartel da PM.
Cazarotti treina cães farejadores há 15 anos para a polícia. A cadela Isa, que ele adestrou, atuou no resgate de sobreviventes nas chuvas do Rio e no terremoto no Chile.
Silva Junior/Folhapress | ||
O labrador Zulu, de dois anos, ao lado de Davi Rabelo, 19; o cão ajuda adolescente nas convulsões de epilepsia |
SUTIL
O policial estudou os movimentos de Davi, durante o dia e enquanto dormia, para reproduzi-los com o cão. O movimento parece sutil. Em uma crise, Davi tomba a cabeça para trás e estica braços e pernas na cadeira de rodas. Algumas vezes, grita.
Zulu foi condicionado a começar a latir ao detectar esses sinais. Ele só para de fazer barulho quando alguém da família chega e aperta um dispositivo que emite uma espécie de estalo.
Para chegar a esse condicionamento, Cazarotti treinou Zulu por nove meses.
Com o cão, diz Juanita, os medicamentos se reduziram. Dos cinco comprimidos diários, Davi deixou de tomar dois do seroquel, uma espécie de antipsicótico.
Mas a mudança mais imediata, conta a mãe, foi a de Davi praticamente não ter mais crises à noite. "Eu deito na cama relaxada, certa de que nada vai acontecer."
Fonte Folhaonline
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