As formas primitivas de cozinhar alimentos no interior de uma casa, usadas pela metade da população mundial, provocam cerca de dois milhões de mortes por ano, revelou um estudo nesta quinta-feira, que destaca um plano do Peru para resolver o problema.
Cerca de três bilhões de pessoas em todo o mundo cozinham no interior de suas casas com combustíveis como madeira ou carvão, mas pouco se sabe sobre o que a OMS (Organização Mundial de Saúde) descreve como a principal causa de morte global de origem ambiental.
A fumaça que emana dessas formas de cozimento primitivas enche os espaços sem ventilação das moradias, provocando pneumonia e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), afetando especialmente mulheres e crianças que passam mais tempo dentro de casa.
Facilitar o acesso de moradores de regiões remotas ou pobres a cozinhas mais eficientes poderá ajudar a melhorar a saúde de milhões de pessoas ou permitir que as crianças frequentem a escola em vez de perder tempo recolhendo madeira e outros combustíveis, informou o estudo publicado pela revista "Science".
"Muitas pessoas nos países desenvolvidos não se dão conta de que a fumaça do fogo empregado para cozinhar em espaços interiores é um terrível flagelo para a saúde de um grande número de pessoas", disse um dos pesquisadores, Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
"Os esforços internacionais para combater esse flagelo estão começando. O papel dos NIH é apoiar a pesquisa que determinará as formas mais eficientes e rentáveis para fazer isso, protegendo ao mesmo tempo a saúde humana".
Um programa nos Andes do Peru teve certo êxito. Nessa região, onde vive 30% da população peruana (10 milhões de pessoas), cerca de 40% das mulheres têm problemas cardíacos e doenças crônicas de obstrução pulmonar.
Além disso, até 60% das crianças estão desnutridas e sofrem de "doenças respiratórias incessantes", afirmou um editorial que acompanha o estudo, escrito pela ex-primeira-dama do Peru, Pillar Nores Bodereau.
A mulher do ex-presidente Alan García fundou um programa chamado Sembrando, uma iniciativa privada que ajuda membros locais da comunidade a construir cozinhas melhores, latrinas e fornos familiares, tudo a um custo de R$ 200 por família.
Nos últimos cinco anos, o projeto atendeu 92 mil famílias nos Andes (cerca de 500 mil pessoas) e os primeiros estudos mostram uma "diminuição substancial das doenças broncopulmonares e um claro aumento na taxa altura/peso das crianças menores de cinco anos", escreveu.
O projeto "inspirou o governo peruano a iniciar uma campanha para construir 500 mil cozinhas limpas em todo o país", completou.
A Fundação Nações Unidas lançou sua própria associação público-privada para estabelecer um mercado para cozinhas limpas e combustíveis eficientes no mundo em desenvolvimento, chamada Aliança Global para Cozinhas Limpas.
A meta desse grupo, que envolve mais de 175 países, fundações, corporações e outras ONGs (Organizações Não Governamentais), é alcançar os 100 milhões de lares com cozinhas e combustíveis mais limpos para o ano 2020.
Fonte Folhaonline
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