Nutricionista atesta que uso moderado do produto é seguro para o controle de peso
Os adoçantes artificiais já tiveram seus dias de glória. Em décadas passadas, eles foram considerados a salvação do emagrecimento. As famosas "gotinhas" ou o pozinho em sachês eram presença garantida na mesa de quem estivesse em dieta. Embora tenham ficado na berlinda por muito tempo, depois inocentados — e a todo momento tenham sido divulgadas questões sobre o risco destas substâncias —, seu uso por pessoas não diabéticas ou que não tenham problema de sobrepeso está sendo cada vez menos recomendado.
A mudança ainda é tímida nos consultórios, até mesmo porque se trata de uma alternativa fundamental para quem não pode desfrutar do açúcar e para quem não pode usufruir do paladar doce sem aumentar o nível de glicose do sangue. Além disso, o risco de aumentar de peso com açúcar continua sendo maior.
Desde a década de 70, muitos trabalhos científicos revelaram um potencial cancerígeno atribuído a eles. Doenças neurológicas, autoimunes e degenerativas poderiam ser causadas por adoçantes, causando muitas dúvidas e insegurança aos consumidores. Com o passar do tempo, essas suspeitas foram caindo por terra. Isso ocorreu pelo fato de que a maior parte dos trabalhos científicos que relatava resultados deletérios dos adoçantes usava quantidades extremamente elevadas desses compostos. Alguns protocolos de pesquisa chegaram a utilizar nos ratinhos o equivalente a mais de 2 mil latinhas de refrigerantes por dia. Assim, esses resultados não foram comprovados em humanos e os adoçantes ganharam a confiança do mundo acadêmico, recebendo o aval da maioria das agências reguladoras mundiais.
Há cerca de três anos, um estudo levantou uma nova questão acerca dos adoçantes: segundo os pesquisadores, eles podem levar ao ganho de peso. Foram estudaram dois grupos de ratos — um grupo ingerindo uma dieta com adoçantes e outro grupo com dieta normal — e foi notado que os animais que faziam refeições com adoçantes comiam mais e, por conseguinte, engordavam mais do que o grupo alimentado sem adoçantes. Com isso, foi levantada a hipótese de que ao sentir o sabor doce na boca, o corpo se prepararia para receber as calorias do açúcar e, quando elas não vêm, passaria a buscar esse nutriente em vários alimentos, principalmente carboidratos. Dessa forma, estaria predisposto a comer mais — e a engordar.
Adoce com moderação
Fora as ligações perigosas do uso dessas substâncias com uma série de doenças, o ideal, segundo os médicos, é a parcimônia.
— Há um abuso por parte da população com relação a produtos diet e light — esclarece a endocrinologista Jacqueline Rizzolli.
Segundo Jacqueline, há necessidade de conscientizar a população que a alimentação saudável — com produtos naturais, orgânicos, com baixo consumo de gorduras animais e de açúcares refinados — é sempre a alternativa mais recomendada. Já o consumo da adoçantes artificiais em pequenas doses, com acompanhamento médico e nutricional, pode ser mantido para a restrição de calorias.
E não se pode esquecer que produtos adoçados artificalmente, por si só, não emagrecem ninguém. Muitos têm bastante gordura e calorias. Hoje, preconiza-se que eles devem ser usados conforme o peso e massa corporal do indivíduo. Para Carlos Gouvea, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres Diet e Light (Abiad), o estudo que defende que os adoçantes engordam apenas uma teoria e não é conclusivo. Segundo a Abiad, os próprios autores apontam para a complexidade da questão e da dificuldade em comparar-se os modelos de consumo animal e humano, o que deve ser de fato questionado. De acordo com Gouvea, o poder de adoçar dos edulcorantes (adoçantes) é maior que o açúcar branco, o que justifica sua baixa utilização em termos de volume. Entretanto, nem todos alimentos adoçados desta forma estão isentos de calorias.
Conforme a nutricionista Daniela Casagrande, estudos evidenciam que há segurança no uso de adoçantes, desde que com moderação.
— Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), um adulto de 60 kg pode consumir diariamente até 2.400 mg de aspartame, o que equivale a cerca de 60 sachês de um grama de adoçante ou quase quatro litros e meio de refrigerante adoçado só com aspartame. Como a maioria dos alimentos é formulado com a mistura de adoçantes, esse limite fica ainda mais distante — diz Daniela.
— O consumo consciente e uma dieta equilibrada são os melhores instrumentos para o controle do peso. Não há propósito algum em basear uma dieta só no controle da ingestão de açúcar — afirma Gouvea.
Quem é quem
Os adoçantes disponíveis no mercado são bem diferentes entre si. Seu consumo teve início na década de 1960 e podem ser divididos em produtos de 1ª geração (os mais antigos) e os de 2ª geração. Alguns possuem efeitos colaterais.
1ª Geração
:: Sacarina — Foi o primeiro adoçante artificial a ser descoberto. É um adoçante de baixo custo, porém com sabor amargo e metálico.
:: Ciclamato — É usado em associação com a sacarina. É mais doce que a sacarose, porém com sabor também amargo. Pode ter efeito laxativo.
:: Aspartame — Em doses elevadas, pode ser tóxico. Há risco para quem em pessoas com fenilcetonúria por conter fenilalanina, prejudicial aos indivíduos que apresentam esta malformação genética.
2ª Geração
:: Acessulfame — K — Tem alto poder adoçante e pequeno sabor residual. Está presente em misturas de adoçantes utilizados na indústria alimentícia.
:: Sucralose — É o que tem gosto mais similar ao do açúcar. Pode ser usado por diabéticos e gestantes. Entre os efeitos colaterais está a enxaqueca.
:: Esteviosídeo ou Stevia — Por ser de origem natural, é o mais recomendado por nutricionistas. Em algumas apresentações comerciais, ele é usado associado ao ciclamato. Tem sabor amargo.
Cuidados à mesa
:: Lembre sempre que produtos light e diet também têm calorias.
:: Tenha moderação, é possível comer açúcar, mantendo e até perdendo peso. O segredo é a quantidade.
:: Teste seu paladar, reflita se o uso de adoçantes não está mais para um hábito que possa ser revisado.
:: Opte por água, chás ou sucos naturais. Os refrigerantes e alimentos adoçados artificialmente são geralmente produzidos com uma combinações de adoçantes artificiais e foram idealizados para permitir que diabéticos pudessem consumir este tipo de alimento. Nenhuma opção (diet, zero, light ou adoçado com açúcar) é considerada saudável e nutritiva.
:: Priorize uma alimentação saudável, acima de tudo. Os dietéticos não possuem calorias nem glicose, mas também apresentam grandes quantidade de sódio. Além disso, as bebidas gaseificadas causam distensão gástrica (dilatam o estômago). O ideal é consumir o mínimo possível. Comer bem não é só ingerir menos calorias.
Fonte Zero Hora
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