O açúcar na alimentação infantil, como se sabe, deve ser introduzido de forma mais tardia possível e de preferência em pouquíssima quantidade. Em excesso, e aliado a um estilo de vida sedentário, o açúcar leva ao desenvolvimento do sobrepeso e obesidade (sem falar nos problemas na saúde bucal). Como consequência o organismo sofre com diversas outras condições associadas ao peso excessivo. Mas, apesar de ser culpado por diversos problemas de saúde, existe uma coisa que o açúcar não causa: alterações de comportamento.
Se você está atento aos filmes, séries e desenhos animados já deve ter ouvido ou visto, em algum momento, cenas onde crianças se refestelam de alimentos doces e, açucarados, mudam seu comportamento. É o que os americanos chamam de “sugar rush”. De acordo com essa ideia, o consumo excessivo de açúcar faria com que as crianças tivessem um pico de energia tão grande que seriam difíceis de controlar por quem quer que seja. Mas será que isso pode mesmo acontecer?
“O açúcar realmente parece interferir na produção da dopamina e da serotonina no cérebro. Mas alterar o comportamento da forma como foi descrita é bastante exagerado. Há pesquisas que tentaram comprovar essa alteração e nenhum chegou a comprovar a existência desse fenômeno”, explica Sylvio Renan, médico pediatra.
Para Renan o açúcar não causa hiperatividade em crianças. “O pode acontecer, de forma inversa, é que crianças hiperativas tenham maior necessidade de açúcar, por exemplo. Nessa hipótese há um maior gasto de energia que precisa ser reposta. Mas não que o comportamento se altere, o padrão é a hiperatividade”, diz.
Outra hipótese, aponta o especialista, é que mesmo crianças que não são hiperativas mas que não tem espaço para brincar possam, em determinado momento do dia, ter um momento de enfrentamento da autoridade dos pais e iniciar uma série de brincadeiras mais intensas.
“As crianças que não tem um local para gastar sua energia podem querer ocupar o espaço do apartamento onde moram com essas brincadeiras e os pais, com dificuldade para controlá-los, acham que aquilo foi causado por um outro fator que não a tendência natural da criança, que é brincar o máximo possível”, observa o pediatra. O mesmo pode acontecer no espaço a escola, caso os horários para brincadeiras não sejam o suficiente.
“Nesses casos, ao que parece, é mais fácil rotular o comportamento da criança do que entender o que causou essa necessidade repentina de fazer atividades físicas”, observa Renan. Os pais e educadores, completa o especialista, não podem se esquivar desta responsabilidade de permitir às crianças que elas tenham um local para correr e brincar. Essas atividades lúdicas servem para, entre outras coisas, o desenvolvimento motor e das habilidades sociais.
“O açúcar traz muitos impactos negativos à saúde, altera os horários e hábitos alimentares e pode levar à obesidade, mas esse fenômeno não tem nada a ver com o alimento. Sugar rush é, com ampla margem de certeza, um mito”, finaliza.
Fonte O que eu tenho
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