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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Perda auditiva atinge cerca de 36% das crianças e jovens com HIV

Pesquisa da USP também aponta que adolescentes portadores da doença têm dieta com alto consumo de açúcar, gordura saturada e sódio

A perda auditiva e a otite média supurada - uma inflamação no ouvido médio que pode ser causada pelo uso de um antirretroviral - têm alta ocorrência entre as crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids, atingindo pelo menos 36% dos indivíduos avaliados, de acordo com um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP).

Outra pesquisa realizada na USP mostra que os adolescentes portadores de HIV-Aids, embora necessitem, a princípio, de cuidados redobrados com a alimentação, apresentam uma dieta semelhante à dos não-portadores - com alto consumo de açúcar, gordura saturada e sódio e consumo insuficiente de cereais integrais e frutas.

Os dois estudos fizeram parte do projeto Qualidade de vida e sua relação com o curso de vida de crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular e coordenado pela professora Maria do Rosário Latorre, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Os estudos sobre a perda auditiva e sobre a dieta corresponderam, respectivamente, à tese de doutorado de Aline Medeiros da Silva e à dissertação de mestrado de Luana Tanaka. Ambas foram orientadas por Latorre e defendidas em 2011 na FSP-USP, com bolsas da FAPESP. Além dessas pesquisas, o projeto gerou mais um doutorado e dois mestrados ainda em curso.

De acordo com Latorre, os estudos de coorte foram realizados com crianças potadoras de HIV-Aids atendidas no Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

" O projeto teve o objetivo de analisar a qualidade de vida de crianças e adolescentes portadores de HIV-Aids em relação à saúde, adesão ao uso de medicamentos, presença de lipodistrofia, perda auditiva e sobrevida" , disse Latorre à Agência FAPESP.

Silva, que é fonoaudióloga, avaliou 106 indivíduos portadores de HIV-Aids com idades de 5 a 19 anos, atendidas no Instituto da Criança, com o objetivo de estimar a prevalência de perda auditiva entre elas, identificando os fatores associados a essa ocorrência. Além do doutorado, Silva teve bolsas da FAPESP também na Iniciação Científica e no Mestrado.

Dois critérios foram usados para identificar a perda auditiva. O BIAP, uma classificação internacional que tira uma média dos resultados a partir de uma audiometria, é amplamente usado para diagnósticos de perda auditiva. O ASHA é um critério mais rigoroso, que classifica alterações muito pequenas como perda auditiva.

" Mesmo na classificação BIAP, essas crianças e adolescentes apresentaram uma prevalência muito alta de perda auditiva: 35,8%. Pela ASHA, a prevalência chegou a 59,4%. Estudos de base populacional feitos no Brasil mostram que, entre as crianças sem HIV-Aids, a prevalência de perda auditiva pode ir de 2% a 20%, dependendo do critério" , disse Silva.

A otite média supurada, segundo Silva, apareceu como um fator de risco para a perda auditiva. Foi detectada também uma correlação entre a perda auditiva e o uso do antirretroviral Lamivudina.

" As crianças que tiveram otite média supurada tiveram uma prevalência maior de perda auditiva, assim como as que utilizaram a Lamivudina. Tanto os indivíduos que apresentaram a inflamação, como os que utilizaram o antirretroviral, apresentaram uma chance seis vezes maior de apresentar perda auditiva" , afirmou.

A partir das conclusões do estudo, Silva recomenda que as crianças com HIV-Aids tenham acompanhamento em longo prazo e que sejam avaliadas periodicamente em relação à perda auditiva.

" Essas crianças têm o sistema imunológico muito debilitado e necessitam de um cuidado especial. O ideal seria que, no serviço público, essas crianças fossem valiadas a cada seis meses com uma audiometria, a fim de acompanhar a evolução do quadro antes que a perda auditiva se estabeleça" , declarou.

No estudo sobre a dieta, Tanaka utilizou os dados referentes a entrevistas com 88 indivíduos de 10 a 19 anos, portadores de HIV-Aids, atendidos pelo Instituto da Criança. A metodologia consistiu em aplicar uma adaptação brasileira do Índice de Qualidade da Dieta, que avalia consumo de itens como frutas, vegetais, óleos, cereais, cereais integrais, gorduras saturadas, sódio e outros.

" Alguns valores chamaram a atenção. Verificamos que 72% dos adolescentes não consomem cerais integrais. O consumo aumentado de sódio ocorre em 86% dos entrevistados. Também verificamos médias baixas para consumo de frutas e calorias provenientes de gorduras sólidas" , disse Tanaka.

Segundo Tanaka, os valores apresentados indicam uma dieta de baixa qualidade que, no entanto, não difere da dieta típica dos adolescentes brasileiros não portadores do HIV-Aids. De acordo com ela, o estudo indica que há necessidade de uma melhora da dieta entre os jovens infectados.

" A literatura internacional mostra que a terapia antirretroviral pode contribuir para o aumento de gordura na região abdominal e pode estar associada a valores aumentados de colesterol ruim. Por isso, muitos desses adolescentes estão submetidos a riscos maiores que a população não infectada quando se alimentam mal. Entretanto, a forma como eles se alimentam é semelhante" , declarou.

O estudo, segundo Tanaka, recomenda que o tratamento dos jovens portadores de HIV-Aids não seja focado apenas no rigor da terapia com antirretrovirais, mas que leve em conta a qualidade de vida dos pacientes, preocupando-se de forma geral com a alimentação, a atividade física, a perda auditiva e o surgimento de doenças oportunistas.

Fonte isaude.net

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