Brasília - A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu discussão em audiência pública ontem(27) para debater sobre a necessidade de apresentação de receita médica para compra de medicamentos de tarja vermelha. A proposta da Anvisa é implementar medidas de fiscalização e educação para alertar sobre os riscos da automedicação e estimular o consumo racional de medicamentos no país.
Os medicamentos de tarja vermelha correspondem a 65% do mercado de medicamentos e para a maioria desses produtos, a legislação sanitária exige apenas a apresentação da receita médica no ato da compra. As farmácias não são obrigadas a reter as receitas.
Maria Eugênia Cury, chefe do Núcleo de Gestão do Sistema Nacional de
Notificação e Investigação em Vigilância Sanitária, diz que existem “estudos
consistentes” apontando que 44% dos remédios comprados para a automedicação
estão nesse grupo de medicamentos.
Dirceu Barbano, diretor-presidente da Anvisa, diz que essa falta de controle,
considerada por ele danosa para a sociedade, é uma falha em um sistema que tem
um início de ciclo bem atendido. “A regularização tem sido muito eficiente na
produção, distribuição e pesquisa na área de medicamentos. Tudo isso tem regras
rigorosíssimas, mas quando chega na etapa de fechamento, quando o medicamento
vai para o paciente, o sistema foge de todos os padrões. O mesmo cuidado tomado
na produção tem que ser tomado na chegada do medicamento ao paciente”, disse o
diretor.
Barbano, entretanto, não acredita que a retenção de receita seja o melhor
caminho. “Seria necessário criar um prédio ao lado das farmácias para guardar as
receitas retidas”, ironizou. Em sua opinião, o mais indicado, por enquanto,
seria atuar na conscientização da população. “A prescrição médica é fundamental
para garantir um diagnóstico correto e o uso seguro e eficaz do medicamento ”,
disse Barbano.
A sugestão que teve mais força entre os representantes da indústria
farmacêutica foi a formação de um “grupo de trabalho” para a proposição de
ideias que tragam avanço que vá além de mostrar ou não a receita, como por
exemplo sistemas eletrônicos desenvolvidos para um maior controle
Representantes dos farmacêuticos sugeriram que haja uma nova classificação
que inclua medicamentos que possam ser indicados por profissionais da área.
O representante do Sindicato dos Farmacêuticos do Amapá, Cássio Sobrinho,
achou importante a discussão, mas alerta que na Região Norte do país há
municípios com pouco acesso ao serviço médico.
“A Região Norte tem suas peculiaridades e deve ter atenção especial nesta
discussão. Medicamento tem, farmácia tem, não tem é médico. Tem lugar do Amapá
que oferece [salário de] R$ 30 mil para um médico e a vaga não é preenchida”,
diz Cássio.
Dirceu Barbano mostrou-se empolgado com a ideia do grupo de trabalho,
renomeado por ele de “frente de interesse para a boa prática na dispensação de
medicamentos”, e adiantou que o edital público com convite para as entidades que
tenham interessa em manifestar ideias será publicado nos próximos dias.
“Queremos colocar as ideias em prática ainda este ano”, disse o diretor.
Fonte Agência Brasil
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