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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Unimed inova com o antigo modelo do médico de família

Operadora inaugura clínica pioneira, com prioridade na atenção primária ao paciente e na prevenção de doenças

Tem se tornado cada vez mais comum o paciente passar horas e horas no pronto socorro até receber atendimento médico, mesmo estando com o plano de saúde em dia. Quando se tenta marcar consulta com um especialista, o tempo de espera pode chegar a meses.

“Esse modelo sobrecarrega o sistema, além de ser mais caro e menos eficiente”, diz Paulo Borem, Coordenador do Centro de Inovação e Qualidade da Unimed do Brasil e Fundação Unimed.

A solução para a crise no sistema de saúde brasileiro, proposta pela Unimed, se espelha no modelo europeu, que adota a atenção primária como prioridade. Entre as principais características, está o fato de ser a porta de entrada do serviço e a existência da continuidade do cuidado.

“A atenção primária soluciona 80% dos problemas de saúde, e ainda é mais barata e eficiente. O sistema de saúde baseado em especialistas não permite que os médicos conversem entre si sobre os pacientes e não há um cadastro unificado sobre as informações médicas”, diz Borem.

“Sempre se vendeu a ideia de que a medicina baseada em especialistas era melhor, mas a Europa provou que era mentira. Copiamos o modelo americano e agora estamos tentando mudar.”

Para se ter ideia, nos Estados Unidos, a medicina responde pela terceira causa de morte no país. “Salva muitas pessoas, mas também mata. São três aviões por dia de pessoas mortas por causa da má qualidade.”

No Brasil, a Agência Nacional de Saúde classifica a medicina como a terceira causa de morte entre os idosos. “O problema não é a qualidade dos profissionais e, sim, a organização do sistema de saúde, que aumenta as chances de erros médicos.”

A Unimed tirou o projeto do papel há um mês, quando inaugurou uma clínica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, que tem o médico da família como base de atendimento.

A ideia é seguir os critérios criados pelo Institute For Healthcare Improvement (IHI) – que prevê melhoria da saúde, aumento da satisfação do paciente durante o tratamento e o barateamento da medicina – na unidade que é a primeira do setor privado. “Medicina cara não é sinônimo de bom atendimento. Estamos tirando o foco do médico e transferindo para o paciente.”

Em termos práticos, isso significa que a clínica fica aberta de 8h às 20h todos os dias e que o paciente não precisa ficar doente para ser consultado. Pelo contrário, a ideia é prevenir doenças. Para isso, médico e paciente estabelecem metas – como diminuir o número de cigarros ou emagrecer em tempo pré-determinado – que serão revistas à medida que for necessário.

Além disso, já agendam os exames periódicas que precisam ser feitos. Caso o paciente não apareça na data marcada, o médico entra em contato para saber o motivo. Outra novidade é que o prontuário eletrônico pode ser acessado pelo próprio paciente, em um portal com senha e login.

“Caso tenha ele alguma dúvida, pode mandar e-mail para o médico que responde em até 48 horas”, afirma Borem, acrescentando que essas medidas evitam as enormes filas dos prontos socorros.

“O médico de família é o médico de antigamente, aquele que cuidava de todo mundo desde que nascia. Ele não está preocupado apenas com a doença, verifica as causas que podem ser relacionadas até ao estresse ou problemas domésticos. Isso fica mais fácil quando se conhece a realidade das famílias. A diferença é a quantidade de conhecimento que se tem hoje”, explica Rafael Nunes, coordenador da unidade de Guarulhos.

Na clínica, cada equipe (composta por médico, enfermeiros e auxiliares de enfermagem) é responsável pelo atendimento de 2,5 mil pacientes. “Não adianta pedir para um médico acompanhar 10 mil pessoas – desse jeito, ele só vai preencher ficha”, aponta Nunes.

Atualmente, os pacientes da clínica de Guarulhos são os colaboradores da Unimed e seus dependentes, que ficaram sabendo do projeto por meio de palestras. São atendidos por dia, em média, de 10 a 12 pessoas.

A ideia é que, a partir de agora, o boca-a-boca traga novos pacientes para a unidade. As próximas clínicas a serem inauguradas ficam em Belo Horizonte e Vitória.

“Nos perguntamos se íamos encabeçar essa mudança ou íamos seguir os outros. Decidimos pela primeira opção. É uma mudança muito grande, mas sabemos que o modelo atual vai entrar em colapso em algum momento”, analisa Borem.

“Isso porque o verdadeiro responsável pela saúde é o próprio paciente – é ele que toma a medicação, faz exercícios ou não.”

Nunes diz ainda que a questão não é apenas salarial. “Não adianta pagar o médico por exame realizado, porque assim se estimula tratamentos e intervenções desnecessárias. O que conta para o médico é ver que os pacientes estão ficando menos doentes. Esperamos mudar a relação paciente e médico – não estamos um contra o outro. Quero que eles vivam melhor e isso vai fazer bem para a minha própria vida”, destaca.

Fonte SaudeWeb

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