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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Médicos: o que eles pensam do futuro?

Enquanto muitos imaginam o futuro da medicina high-tech, os jovens médicos Victor Fernandes e Irene Bernabé, de 27 anos, esperam pela evolução da cura e preferem consultórios ao plantão
 
Ao som de gargalhadas e piadas de bom gosto. Assim foi minha recepção na casa de um dos dois jovens médicos ali reunidos, que se divertiam com a ideia de serem entrevistados por uma revista segmentada. Mas engraçado mesmo é a visão deles sobre o futuro da medicina: que determinadas doenças possam ser prevenidas e tratadas no tempo certo, que outras sejam erradicadas.
 
Enquanto muitos imaginam o futuro com uma medicina high-tech, os jovens Victor Fernandes Medeiros e Irene Bernabé, ambos de 27 anos, esperam pela evolução da cura. Aquele jeito menino sai de cena e entra um profissional, jovem, porém realista. “Não vejo a hora de inventarem a vacina contra o HIV. Também gostaria que o tratamento do câncer fosse mais curativo”, anseia Irene.
 
Filha de médico, a recém-formada relembra que, por alguma influência indireta, desde criança desejava estudar medicina. Por outro lado, na época do vestibular, a médica conta que chegou a questionar sobre se era essa carreira que deveria seguir, uma vez que ao fazer essa escolha sabia que teria de abdicar de muita coisa, inclusive de formar uma família cedo, fato que a preocupava.
 
Ao perceber que estava apenas ansiosa e insegura, talvez por consequência de uma mente com ainda 17 anos, Irene bate o martelo e após três anos de cursinho ingressou no vestibular, em 2006. “Lembro que na época, minha mãe conversou bastante comigo. Ela disse: ‘você não tem amigas com mães médicas?’ E foi aí que percebi que estava apenas apreensiva”, recorda.
 
Hoje, com o diploma em mãos, Irene revela que a ideia que tinha ao iniciar o curso era bem diferente da realidade que enfrentou ao se formar. Num mundo além da medicina dos livros, a predominância da insegurança no dia a dia, segundo ela, vem com situações que envolvem não somente as doenças, mas a complexidade do ser humano.
 
É essa a realidade que a fez mudar de opinião sobre o seu futuro profissional. “Sempre achei que me especializaria em dermatologia, mas no último ano decidi não prestar provas para residência e optei por trabalhar um ano e pensar melhor em qual área devo seguir”, conta Irene, que hoje está decidida a fazer clinica médica e depois, endocrinologia.
 
Não tão distante está a história de Victor Fernandes, que também ainda criança ouvia nos almoços na casa de sua avó materna discussões de casos clínicos entre três tios médicos. Os nomes diferentes, as soluções engenhosas e os desfechos felizes, memorados por ele, fizeram com que sua carreira fosse definida durante a adolescência.
 
Como se não bastasse, o jovem médico, graduado em 2009, estava certo não só da profissão que seguiria, mas de um indício de especialidade a seguir. “Um dos meus tios é ginecologista e obstetra e, felizmente, ele sempre teve muito interesse em me levar para o hospital para assistir partos normais e cesáreas, fazendo com que eu conhecesse e me sentisse muito à vontade no centro cirúrgico”, diz.
 
Para Fernandes, a pressão para entrar na faculdade começou a pesar no final do segundo ano do ensino médio. Período em que esteve disposto a aproveitar a vida, deixando os estudos em segundo plano. “Se eu pudesse voltar atrás e dizer a mim mesmo que a diversão começaria na faculdade, eu teria feito diferente”, revela.
 
Como consequência, o então hoje médico não conseguiu aprovação em nenhuma faculdade enquanto cursava o terceiro ano, o que o levou ao cursinho. Hoje, já maduro, Fernandes assume que, há nove anos, quando ingressou na faculdade, sabia que demoraria, no mínimo, mais de uma década para me estabelecer na especialidade. “Hoje estou concluindo meu segundo ano em cirurgia geral e acho que vou precisar de uns 20 anos.”

O futuro dos sonhos
Estar longe dos plantões em pronto-socorros e ter consultório próprio é o cenário projetado por estes dois jovens médicos. Para um futuro próximo, eles esperam já contar com especializações e trabalhar em horários fixos, ter um bom número de pacientes e, claro, gozar de um período de férias.
 
Em 10 anos, Fernandes não descarta a possibilidade de se especializar fora do Brasil, embora não planeje residir definitivamente fora de São Paulo. Por outro lado, Irene assume ter tido bastante vontade de sair do País, mas ficar longe da família e amigos é uma decisão difícil para ela. “Por enquanto minha ideia é continuar por aqui mesmo”, completa.
 
Neste mesmo período de tempo, a médica pretende realizar atendimento em endocrinologia em sua própria clínica, já que seu namorado (sim, Fernandes, o nosso outro colega entrevistado) irá se especializar em cirurgia plástica. “Acredito que uma especialidade pode complementar a outra”, conta. O consultório do seu parceiro pessoal e de profissão é planejado com um pequeno centro cirúrgico acoplado para realização de pequenas cirurgias.
 
Tecnologia a favor da medicina
Além do anseio por prevenção e tratamento antecipado de algumas doenças, como mencionado no início da reportagem, os jovens médicos, em especial Fernandes, acreditam em um avanço imenso da tecnologia nos próximos anos, principalmente com uso de nano robôs. “Sem descartar o contato médico-paciente, que sempre foi e será fundamental”, destaca o médico ao dizer que não acredita na substituição de profissionais por computadores.
 
O futuro parece estar mais próximo do que se imagina em alguns casos, como, por exemplo, na utilização de dispositivos móveis para esclarecimento de dúvidas ou apoio em consultas. O uso diário de tablets e smartphones é muito comum e considerado fundamental no dia a dia destes profissionais. Para Fernandes, os programas mais utilizados são para pesquisar o Código Internacional de Doenças (CID) e códigos de procedimentos. “Também utilizo meu iPad para leitura de artigos e visualização de atlas de anatomia e cirurgia”, reforça. De acordo com ele, hoje em dia seu dispositivo tem tudo que precisa em uma rotina de trabalho.
 
Assim como Fernandes, Irene não dispensa o uso de seu smartphone como apoio durante os plantões. É no aparelho que a jovem médica tira dúvidas sobre medicações e protocolos de atendimentos de determinadas doenças. “Existe aplicativo para tudo que se possa imaginar dentro da medicina, assim fica difícil imaginar algo a mais em 10 anos. Porém sei que coisas novas surgirão e espero que apareçam mesmo, sou a favor da tecnologia como uma aliada”, diz.
 
A saúde brasileira
Quando questionados sobre o cenário médico atual e sua imagem no futuro, a troca de olhares entre eles não negava a resposta que viria: “Infelizmente a medicina no Brasil tem perdido seu prestígio, principalmente por conta dos convênios com sua baixa remuneração e grande interferência nas condutas médicas”, avalia Fernandes.
 
Mas sem deixar a esperança de lado, Irene arrisca: “Espero que a saúde pública melhore e é claro que isso depende muito dos nossos governantes. Sinto também que o paciente é desinformado, não entende os conceitos de tratamento de urgência, emergência e tratamento/acompanhamento ambulatorial e isso gera uma saturação do serviço de emergência – que também se aplica aos serviços privados”. Para a saúde melhorar, a médica acredita que a educação precisa ser aprimorada juntamente e é isso que espera nos próximos 10 anos.
 
Relação descontraída
O atendimento no pronto-socorro, local de principal trabalho destes jovens médicos, é considerado muito diversificado e, por isso, a relação médico-paciente depende muito mais da postura do cliente, sob o ponto de vista de Fernandes, que, particularmente, prefere uma consulta mais descontraída.

De acordo com ele, na minoria das vezes os casos atendidos no PS são graves, mas independente da situação, o paciente é sempre tratado da melhor forma possível, sem existir uma regra de postura diante do doente.
 
“Sempre observo a postura do paciente primeiro e a partir disso desenvolvo a consulta. Às vezes é melhor brincar, descontrair a favor da própria saúde da pessoa que está ali na minha frente”, considera.

Irene sorri: “Eu gosto de conversar com os pacientes. Uma consulta de pronto- socorro deve ser breve, mas gosto de saber do paciente, às vezes ouvir um desabafo. Muitas pessoas só precisam de alguém que explique bem o que devem fazer pra que se evite um desgaste na relação médico-paciente.”
 
Paciente sabe-tudo
É sabido que houve nos últimos anos o surgimento do paciente expert, que recorre ao “Dr. Google” e esse, por sua vez, o supre com uma enxurrada de informações que podem ser corretas ou não.

O fato é que, nos dia de hoje, esse tipo de paciente já está presente nas consultas médicas e pode acuar alguns dos profissionais sentados à frente da mesa. Porém, esse não é o caso de Fernandes, que tem notado essa realidade com mais frequência no ambulatório.
 
“Não me sinto constrangido por isso. Quando passamos confiança no que falamos os pacientes esquecem o que leram na internet”, conta. Para ele, certas vezes é preciso corrigir as informações obtidas pelos pacientes sabe-tudo no Google.
 
Ao contrário de Fernandes, esse é um dos desafios considerados por Irene, que vê a situação de desmentir ou corrigir a informação trazida pelo doente como uma ocasião de atritos. “É preciso ter jogo de cintura para saber contornar essa situação, mas nada que uma conversa esclarecedora não resolva”, conclui.
 
Mentes parecidas, gerações diferentes
Dois profissionais médicos atuantes, um de 27 e outro de 90 anos, diante da mesma realidade. A jovem recém-formada Irene Bernabé pode estar bem distante da maturidade de Raul Fialho de Faria Júnior, graduado em 1947 pela Faculdade Nacional de Medicina, da então Universidade do Brasil, mas suas expectativas sobre a medicina no futuro caminham lado a lado.
 
Faria é de uma época em que profissionais formados não tinham especialidade na área médica. Cada um entendia de tudo um pouco. Hoje Irene já se prepara para entrar na briga por uma vaga a residência médica no próximo ano.
 
Mas nem mesmo a diferença de idade nem de cenário é capaz de mudar a cabeça de um médico preocupado com a saúde do paciente. Assim como a jovem, Faria aposta que com a rápida evolução tecnológica, os progressos da medicina serão também crescentes. “Principalmente em relação a novos medicamentos e às medidas de prevenção das doenças”, diz.
 
Essa também era a esperança do médico há 65 anos, embora considere que neste período não houve uma mudança mais significa que outra. “Os enfoques sobre a prevenção das doenças e a adoção de hábitos de vida saudáveis, além do constante interesse pelo progresso dos tratamentos são todos significativos”, considera.
 
Na época de sua graduação, não havia inúmeros dos atuais métodos diagnósticos e medicamentos atualmente disponíveis; as dosagens hormonais eram escassas, segundo Faria, e medicamentos orais para tratamento de diabetes, por exemplo, eram inexistentes. “A realidade de hoje, portanto, correspondeu às perspectivas. Assim espero que aconteça nos próximos 10 anos.”
 
Quando o assunto é tecnologia, o médico é direto e assume que embora não saiba muito bem os detalhes de dispositivos móveis, tudo que representa progresso é bem vindo. Para ele, os maiores problemas frente aos jovens médicos não são a existência de smartphones e tablets, “que, aliás, não sei muito bem o que são, mas sim a mentalidade de privilegiar os exames complementares, ficando em segundo plano o exame clínico”, revela.
 
Fonte SaúdeWeb

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