Mudança comportamental parece ter relação com muitas variáveis, incluindo
aumento no uso de outros contraceptivos
O número de vasectomias realizadas na Grã-Bretanha caiu mais de 50% nos
últimos dez anos, apontam registros do Sistema Nacional de Saúde (NHS) público
britânico.
Em 2001/2002, 37,7 mil homens britânicos fizeram o procedimento que impede a
passagem dos espermatozoides. Já em 2011/2012, a cifra passou para 15,1 mil,
menos da metade.
Analisando os números de 2010/2011, a taxa atual mostrou queda de 16%.
Os dados, compilados com base em registros públicos, foram publicados pelo
Serviço Britânico de Aconselhamento na Gravidez (BPAS, na sigla em inglês, ONG
de saúde reprodutiva que presta serviços ao NHS) e não incluem os procedimentos
feitos em clínicas particulares.
Em comparação, a taxa de abortos para mulheres entre 30 e 44 anos, que era de
9,1 a cada mil na Inglaterra e no País de Gales em 2001, subiu cerca de 10%,
para 10 por mil em 2011 nas mesmas nações.
Os pesquisadores do BPAS dizem que o declínio no número de vasectomias pode
ser uma das razões por trás do aumento na taxa de abortos entre as mulheres mais
velhas, mas ressaltam que muitas variáveis podem ajudar a explicar essa mudança
de comportamento dos homens na Grã-Bretanha.
A BPAS disse à BBC Brasil que não é possível estabelecer com certeza uma
relação direta entre a a redução das vasectomias e o aumento nos abortos entre
mulheres mais velhas, mas afirma que, como os dois fenômenos ocorrem
simultaneamente, parecem estar relacionados.
"Outros países com altas taxas de vasectomias muitas vezes apresentam menores
taxas de aborto entre essas mulheres, e vice-versa", diz a ONG. "Mas outros
fatores podem estar envolvidos, como o fato de ações de prevenção ao aborto
serem focadas geralmente em mulheres mais novas, em detrimento das mais velhas."
Variáveis
Outras variáveis são um esforço de redução de
custos públicos colocado em prática pelo governo britânico - o que pode levar a
uma redução no número de vasectomias - e o maior estímulo ao uso de
contraceptivos femininos como a pílula e o DIU (Dispositivo Intrauterino).
Além disso, há um crescente número de homens que se divorciam e optam por um
segundo casamento, situação na qual um método contraceptivo permanente como a
vasectomia pode ser indesejada. Operações para reverter o procedimento nem
sempre são bem-sucedidas ou mesmo pagas pelo sistema público de saúde.
No Brasil, de acordo com números do SUS (Sistema Único de Saúde), os números
de vasectomias vão no sentido oposto. Somente na rede pública o número desses
procedimentos passou de 7,7 mil, em 2001, para 34 mil em 2011, um aumento de
mais de 300%.
O SUS, que tem metas de aumentar a taxa de realização desse tipo de
procedimento, só permite que essa cirurgia seja realizada em homens com mais de
25 anos e que já tiveram no mínimo dois filhos.
Decepção
A relação entre a queda do número de vasectomias e
o aumento da taxa de abortos é algo notado também na França, onde poucas
cirurgias do tipo são feitas, mas muitas mulheres mais velhas optam pelo aborto.
Tradicionalmente cerca de 16% dos homens com menos de 70 anos fazem o
procedimento na Inglaterra, e a taxa de abortos para mulheres com mais de 30
anos tem se mantido relativamente baixa.
Ann Furedi, presidente do BPAS, se disse decepcionada com os números da
pesquisa.
"A vasectomia é um método confiável e seguro que dá aos homens a oportunidade
de ter um papel ativo na contracepção. É decepcionante que o único método de
longo prazo que permite aos homens ter esse papel esteja em queda. Nós devemos
garantir que todos os casais que queiram usar esse método possam ter acesso a
ele prontamente no NHS, reconhecendo que ele não é o melhor para todos. Ter mais
escolhas é vital."
Fonte Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário