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Mau humor pode mascarar um forma leve de depressão
conhecida como distimia |
Todo mundo tem seus dias de mau humor. Eles, em geral, são decorrentes de
brigas familiares, conflitos profissionais, dificuldades financeiras, excesso de
trânsito, calor, frio, sono... Motivos não faltam para perder a simpatia.
Até ai, tudo bem. Mas o mau humor é também um dos principais indicadores da
distimia, uma forma leve de depressão prevalente em 5% da população mundial. Sem
tratamento, ela evolui para depressão crônica em 80% dos casos, o que pode
implicar no uso contínuo de medicamentos.
“O problema é que muitos ignoram a doença acreditando estar apenas com mau
humor”, alerta Ricardo Moreno, psiquiatra do Hospital das Clínicas e diretor da
unidade de disfunções do humor.
A distimia não “derruba” como a depressão nos níveis mais avançados. Ela é
sutil. Aparece como um mau humor sem causa aparente, mas que facilmente encontra
algum bode expiatório em meio à correria cotidiana.
“São sintomas de intensidade mais leve se comparados com episódios
depressivos, mas que atormentam a pessoa por dezenas de dias seguidos”, explica
Moreno.
Para o psiquiatra Kalil Duailibi, professor da Universidade de Santo Amaro
(UNISA) e ex-coordenador de saúde mental da Secretaria municipal de Saúde de São
Paulo, estar com distimia é como andar com 70% das energias.
“A pessoa consegue trabalhar, mas é menos produtiva, consegue cumprir suas
tarefas diárias, mas nunca está 100%”, explica.
Início gradual
Ter a cara fechada por 15 dias seguidos é um forte indício da doença, mas o
diagnóstico requer avaliação clínica detalhada. “A maior incidência é no adulto
jovem, entre 20 e 25 anos, pois além de ser o período mais produtivo da vida, a
personalidade da pessoa já se formou”, observa Moreno.
Mas nem sempre o problema é percebido. “A doença surge lenta e gradualmente.
É um processo contínuo, sem mudanças bruscas, por isso pode não ser notado”,
esclarece Duailibi.
Além do mau humor, mais sintomas podem aparecer, embora muitos acabem se
manifestando discretamente. São eles: baixa autoestima, baixa tolerância,
excesso de melancolia, irritabilidade e alterações constantes de pensamento.
“Há uma certa tendência ao isolamento”, acrescenta o professor da UNISA. Nos
adultos, a doença causa mau humor. “É como se tudo fosse uma grande
dificuldade”, conta. Já nos adolescentes, a distimia costuma causar
irritabilidade.
Ponte sob pressão
Duailib conta que a expressão estresse surgiu na engenharia civil. “É um
termo relacionado ao quanto uma ponte pode suportar”, afirma. E isso passou a
ser usado para identificar o desgaste emocional nos seres humanos.
Por uma combinação de fatores genéticos e de estrutura emocional, cada pessoa
tem sua cota específica de desgaste. “Alguns aguentam mais, outros menos. Mas
todos estão sujeitos a sofrer um estresse grande demais e entrar em depressão”,
conta o psiquiatra.
Por conta desta variação individual, é difícil apontar situações nas quais a
pessoas poderá estar sujeita a ter distimia. “Um adolescente pode ter o problema
desencadeado porque não consegue entrar na faculdade que gostaria, enquanto
outros encaram essa dificuldade sem sofrer”, compara Duailibi.
Além disso, nem sempre é preciso que exista um fator desencadeador da doença.
A pessoa pode simplesmente ter uma predisposição e desenvolvê-la, sem aviso
prévio.
Final de ano
Enquanto os comerciais de televisão retratam famílias sempre unidas e
sorridentes no Natal, os consultórios psiquiátricos ficam com a agenda lotada.
“Final de ano é uma época complicada. Tem quem sinta falta das pessoas que
perdeu, há quem faça a contabilidade do ano e fique frustrado”, exemplifica o
médico.
Os próprios encontros familiares representam algum perigo. “Pode haver algum
problema mal resolvido entre os familiares”, afirma. E isso, somado à
necessidade de estar bem, imposta pela época, colocam ainda mais pressão sobre a
pessoa.
Controle constante
Como qualquer outro tipo de depressão, a distimia não tem uma cura
definitiva. Ela deve ser controlada e monitorada. O tratamento é duradouro,
feito com base em medicamentos e abordagens psicológicas e
psicoterapêuticas.
“Mesmo que o indivíduo venha a ter uma melhora significante, é importante
persistir no tratamento, para evitar o aparecimento de novos episódios”,
esclarece Moreno.
Duailib reforça a importância do tratamento medicamentoso. “Dizem que é
preciso só força de vontade para superar a doença, mas a verdade não é bem essa.
É preciso o uso de medicamentos para evitar que a distimia se torne uma
depressão crônica”, afirma.
Fonte iG
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