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Gabriel Montagnani foi hospitalizado por causa da
Staphylococcus Aureus resistente à meticilina
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O prefixo super pode assustar, mas o temor em relação às superbactérias tem fundamento. Uma das grandes preocupações médicas atuais é a escassez de medicamentos para combater esses micro-organismos cada vez mais resistentes. Algumas atitudes simples, como um sistema imune fortalecido e medidas de higiene fáceis de incorporar na rotina podem ajudar a mantê-las longe do corpo.
Por muito tempo, o uso indiscriminado dos antibióticos foi negligenciado pela população e pelas autoridades de saúde. O resultado desse longo período de abusos foi a mutação das bactérias. Muitas se tornaram resistentes à maioria dos antibacterianos convencionais disponíveis no mercado, existindo até mesmo casos de resistência total – de onde veio a denominação super.
Atualmente, as superbactérias mais temidas são a MRSA ( Staphylococcus Aureus resistente à meticilina), KPC ( Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase ) e a NDM-1 ( New Delhi metallo-B-lactamase-1 ), esta última responsável pelas recentes infecções hospitalares em hospitais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
"É importante ressaltar que desde a descoberta da penicilina as bactérias têm sofrido mutações", explica Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
"Elas querem sobreviver a qualquer custo e sob qualquer condição, por isso adquirem a capacidade de transmitir códigos genéticos entre si e para outras bactérias de outra espécie e começam a neutralizar os antibióticos. Elas podem destruir o antibiótico com que entraram em contato, podem expulsar o medicamento da célula ou até mesmo inativá-lo", explica o infectologista.
Erra quem pensa que as pessoas afetadas pelas bactérias resistentes são somente aquelas que se medicaram frequentemente com antibióticos, seja ele prescrito pelo médico ou administrado por decisão própria, a conhecida automedicação.
Erra quem pensa que as pessoas afetadas pelas bactérias resistentes são somente aquelas que se medicaram frequentemente com antibióticos, seja ele prescrito pelo médico ou administrado por decisão própria, a conhecida automedicação.
A maioria dos casos de infecção hospitalar é causada por bactérias endógenas, ou seja, por aquelas que carregamos naturalmente no organismo. Um exemplo disso é a Escherichia coli (E. Coli), que habita o intestino. Quando ela migra para outras partes do corpo provoca uma infecção difícil de tratar.
"Se algumas bactérias do intestino vão para o trato genital, por exemplo, podem causar infecções. Para serem consideradas bactérias boas, elas têm de permanecer no lugar que foi designado a elas", explica Gorinchteyn.
Infecção hospitalar
No caso hospitalar, a infecção acontece, na maior parte dos casos, no paciente que já está internado há algum tempo, já tomou muitos antibióticos e tem o sistema imunológico fragilizado. Muitos pacientes com a imunidade fragilizada são preventivamente tratados com antibióticos, para evitar que as bactérias internas se manifestem, caso contrário ele será literalmente atacado por um "fogo amigo".
Os outros casos causados por bactérias que não vivem no corpo, considerados minoria em relação às bactérias que já carregamos, já têm a atenção dos hospitais, que trabalham para minimizar qualquer tipo de surto ou infecção. Muitos hospitais já têm UTI com controle da pressão do ar, uma medida para evitar a disseminação de bactérias.
"Se alguém estiver com tuberculose, eliminando bactérias para o ar, o paciente ficará em um quarto com com pressão negativa. Quando a porta se abre, o ar de fora entra. Se o ar sair, as bactérias podem sair junto, contaminando outros espaços", explica o diretor do departamento de infectologia do Hospital Heliópolis (SP), Juvêncio Furtado.
Novas regras
Há pouco mais de um ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) regulamentou a venda de antibióticos. O medicamento só pode ser vendido mediante a apresentação e retenção da receita, que vale somente por 10 dias, além de outras normas de controle. Segundo Jean Gorinchteyn, além da restrição da Anvisa, médicos estão recebendo orientação sobre a prescrição racional de dessa classe de remédios. Quem faz esse controle são as comissões de controle de infecções hospitalares.
“O controle da ingestão de antibióticos está sendo feito, mas só vamos ver o resultado provavelmente depois de 5 anos ou 10 anos”, explica Furtado.
Ele também ressalta que seria necessário um controle no uso de antibióticos na agricultura e na pecuária. “Se você come uma carne de um boi que foi tratado com antibióticos, você ingere antibióticos também”, explica Furtado, que é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Susto no Exterior
Outra bactéria comum que circula por aí causando preocupação nos médicos é a Staphylococcus Aureus. Na versão ‘original’, ela é combatida por antibióticos comuns sem maiores complicações. O problema está na versão super, mutação que agora resiste à maioria dos antibióticos existentes no mundo.
O publicitário Gabriel Montagnani, 24 anos, foi uma das vítimas dela. Ele teve uma infecção na glândula salivar parótida (localizada um pouco abaixo da orelha, responsável pela produção de saliva).
“No hospital, fui medicado com antibióticos comuns que não mataram a bactéria, apenas mascararam a infecção”, conta.
O publicitário foi liberado do hospital, e, sentindo-se melhor, embarcou para Nova York no dia seguinte. A infecção e o inchaço voltaram com força total em plena viagem e lá foi Gabriel para o hospital. Após uma junta médica norte-americana diagnosticar que a Staphylococcus Aureus resistente à meticilina (MRSA) era a visitante indesejada, ele foi medicado com um antibiótico eficaz contra a mutação ‘super’ da tal bactéria.
“Voltei mais cedo dos EUA porque a assistência médica lá é muito cara”, diz Montagnani. Para efeitos de comparação, uma dose intravenosa ou 1 comprimido desse antibiótico custa cerca de R$ 200 – e foram necessárias duas por dia – por três semanas.
Prevenção
O infectologista Juvêncio Furtado, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia esclarece que ninguém pega uma bactéria simplesmente por andar na rua.
"Elas precisam de uma porta de entrada. Para pegar uma infecção, a pessoa precisa ter um machucado, ou levar a mão com a bactéria à boca ou por meio de soluções não estéreis injetadas no sangue", explica.
Para prevenir o contágio por bactérias é importante lavar as mãos com frequência, evitar colocá-las em contato com boca, nariz, olhos e ouvidos quando estão sujas e manter o corpo descansado e bem alimentado – isso ajuda o sistema imunológico a se manter forte para lutar contra qualquer visitante indesejado.
“É um mito a história de que pessoas saudáveis que visitam doentes em hospitais contraem superbactérias”, esclarece o médico.
Fonte iG
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