Estudos apontam que a sexualidade dos mais velhos é um dos aspectos do envelhecimento que mais sofre preconceito |
" Embora sejam observadas mudanças afetivas e fisiológicas na velhice, os sentimentos e as sensações não se degeneram, implicando a vivência contínua da sexualidade, apesar das interferências que as doenças podem gerar" , afirma a enfermeira Danielle Lopes de Alencar. Em sua pesquisa de mestrado " Fatores associados ao exercício da sexualidade de pessoas idosas" , realizada no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, ela entrevistou 235 idosos inscritos nos cursos da Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O trabalho contou com a orientação da professora Ana Paula de Oliveira Marques.
" Os estudos mostram que a cultura da assexualidade dos idosos, a viuvez, o padrão da beleza jovem, a presença das doenças crônicas, o uso de medicamentos e as mudanças na fisiologia do indivíduo são fatores que interferem na sexualidade" , explica Danielle. Ela correlacionou o exercício da sexualidade (pensamento sobre sexo, o que faz quando tem desejo por sexo, atividade sexual e autoerotização) a dados sociodemográficos, condições de saúde e imagem corporal autopercebida. Entre os entrevistados, 51,5% afirmaram pensar em sexo, embora 71,1% disseram ser indiferentes ao desejo sexual; 32,3% contaram ter atividade sexual; e 23% disseram realizar autoerotização.
Ligada à Pró-Reitoria de Extensão (Proext), a UnATI existe desde 1996 e oferece cursos sobre assuntos tão diversos como psicologia e família, laboratório da memória, desconstrução da velhice, psicoenvelhecer, construindo a saúde, nutrição e envelhecimento, ioga, iniciação a língua portuguesa, alfabetização, espanhol, inglês, italiano, bordado em fitas, renascença e tricô. Como havia mais mulheres do que homens matriculados nas turmas durante o período da pesquisa, no primeiro semestre de 2012, a amostragem foi proporcional, incluindo 224 entrevistadas e 11 entrevistados. Curiosamente, os idosos que praticavam atividade física apresentaram probabilidade menor de pensar sobre sexo e ter atividade sexual.
" Os recentes estudos apontam que a sexualidade dos mais velhos é um dos aspectos do envelhecimento que mais sofre preconceito, muitas vezes considerado como um período de assexualidade e de renúncias, devendo o idoso reservar seu tempo para adotar o papel de avô e avó, reprimindo os desejos e vontades no campo sexual" , afirma Danielle. Segundo ela, a sexualidade deve ser compreendida não apenas pelo ato sexual, mas também por sentimentos como amor, carinho e companheirismo. " A sexualidade faz parte da vida do ser humano, estando presente em todas as fases de desenvolvimento, desde o nascimento até a morte" , conclui a enfermeira.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração é o aumento da taxa de incidência de casos de aids e doenças sexualmente transmissíveis na população brasileira com 60 anos ou mais. " A ideia subestimada do risco para essa faixa etária traduz o preconceito e a marginalização da sexualidade dos idosos" , considera Danielle. Por isso, a promoção da educação sexual dos mais velhos e a educação em saúde, ferramenta importante na atuação do profissional de enfermagem, deve levar em conta essa realidade. O objetivo é abordar as especificidades da sexualidade nessa fase da vida, pois ela se modifica, mas não se extingue, como indica a pesquisa de mestrado da enfermeira.
Fonte isaude.net
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