Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia Vidros de janelas quebrados e paredes sujas próximo à cama em que uma mulher dorme no abrigo de Paciência: muitos voltam para as ruas |
Rio - Mau cheiro, riscos de doenças e abandono. Tais condições poderiam ser
características de quem vive ao relento, mas, na verdade, é o cenário encontrado
por moradores de rua quando chegam ao Rio Acolhedor, abrigo da prefeitura em
Paciência, na Zona Oeste.
O DIA acompanhou a visita da vereadora Teresa Bergher (PSDB)
ao local ontem e constatou várias precariedades, como banheiro masculino em
condições insalubres e sem papel higiênico, alimentos na cozinha fora da
validade, proliferação de percevejos e colchões deteriorados.
Além disso, segundo a assessora técnica do abrigo, Michele
Larrubia, havia 107 pessoas a mais do que a capacidade do espaço (350) e
viciados em crack, tuberculosos, doentes mentais e alcoólatras conviviam com
demais frequentadores. Não há médicos trabalhando no local, apenas dois
enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem.
Na triagem, onde ficam 80 pessoas, algumas declararam estar lá há
50 dias, como Paulo Cristiano Souza, de 19 anos. “Quem não está doente acaba
pegando alguma coisa”, disse Paulo, que tinha picadas de percevejo no peito.
Cosme de Almeida, de 47, alegou que está há dois meses sem conseguir tirar
seus documentos e, por isso, era difícil sua reinserção na sociedade. Ele contou
que parte do pouco dinheiro que recebia como auxiliar de construção era usada
para pagar funcionários do abrigo para lavar suas roupas (cerca de R$ 20).
Em um quarto escuro, cinco tuberculosos convalesciam.
Frequentadores declararam que eles comem no mesmo refeitório de todos.
A Secretaria de Desenvolvimento Social informou que estuda ampliar abrigos e atribuiu a superlotação à chegada do frio e ao aumento do número de ações de abordagem.
Sobre os percevejos encontrados no local, disse que houve imunização e que os
banheiros passam por faxinas regulares, e a limpeza e a conservação seguem
normas de higiene para ambientes deste porte.
Vereadora: precariedade explica evasão
O cenário de ontem no abrigo, segundo a vereadora Teresa Bergher,
pode explicar o motivo pelo qual poucas das cerca de 70 pessoas que chegam
diariamente ao local, levadas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social, declaram que querem permanecer.
Ela fará nesta terça-feira, às 9h30, audiência pública sobre o tema na Câmara. “O abrigo não oferece nada. Só serve para comer e dormir” afirmou Teresa.
Sônia Silva do Nascimento, de 54, disse que aguarda desde março para receber
tratamento médico no joelho e na coluna. Outros moradores, que não quiseram se
identificar, relataram truculência por parte dos educadores. “Eles já jogaram
até uma pessoa à força na rua. Teve caso que foi parar na delegacia”.
Fonte O Dia
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