Brasília – O uso do remédio para ajudar a prevenir a infecção pelo vírus HIV,
conhecida como terapia pré-exposição, começará a ser testado no país a partir de
agosto. A pesquisa é coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com a
participação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Centro
de Referência e Treinamento DST-Aids, da Secretaria de Saúde do estado. Os
pesquisadores vão acompanhar, por um ano, 400 voluntários homens que fazem sexo
com homens e travestis.
O medicamento a ser testado será o Truvada. O uso dele como estratégia de
prevenção já foi demonstrado pelo estudo internacional Iniciativa de Profilaxia
Pré-Exposição (iPrEx), do qual o Brasil fez parte. Nos Estados Unidos, o uso
preventivo do comprimido é aprovado. No Brasil, é permitido somente para o
tratamento da doença – não é adotado como preventivo.
“O objetivo é oferecer o medicamento para as populações mais vulneráveis a
adquirir o HIV”, explica a infectologista Brenda Hoagland, coordenadora do
projeto na Fiocruz. Ela diz que é necessário fazer um estudo demonstrativo para
que o uso da pílula como prevenção seja autorizado no país.
De acordo com a pesquisa iPrEx, a utilização diária do Truvada por homens
saudáveis, que fazem sexo com homens, reduziu de 43% a 92% a infecção pelo
vírus, dependendo da adesão da pessoa ao tratamento. O estudo avaliou 2.499
homens sem o HIV.
Entretanto, a infectologista ressalta que o remédio não substitui o uso de
preservativos e não tem ação sobre as demais doenças sexualmente transmissíveis.
“O remédio é uma proteção adicional para aquelas pessoas com alto risco de
adquirir o HIV que, por alguma razão, [a proteção] falha com o uso do
preservativo. A gente não estimula o não uso do preservativo e nem estamos
substituindo o uso do preservativo pelo comprimido”, explica.
A pesquisa terá início com o recrutamento dos voluntários. No total, serão
400 voluntários, sendo 200 no Rio de Janeiro e 200 em São Paulo. O perfil
buscado é homem com mais de 18 anos, sem o vírus HIV e que faz sexo com homens
ou travestis.
De acordo com o infectologista e especialista em pesquisa clínica da
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alexandre Naime Barbosa, os estudos
sobre a prevenção e cura do vírus HIV têm alcançado resultados animadores no
mundo. Atualmente, há pesquisas de vacinas terapêuticas e preventivas.
A vacina terapêutica estimula o organismo de um indivíduo infectado pelo HIV
a montar uma resposta imunológica contra o vírus. Pesquisa feita pela
Universidade de Barcelona conseguiu demonstrar o controle temporário do vírus
com a vacina.
"A vacina conseguiu fazer com que os indivíduos ficassem, pelo menos um ano,
sem ter que tomar os remédios. O que, às vezes, pode ser útil em um cenário em
que o indivíduo esteja tendo muitos efeitos colaterais, por exemplo. Isso pode
ser para o futuro, uma estratégia a ser adotada".
Um tipo de vacina preventiva foi testado na Tailândia. “Ela [a vacina]
conseguiu cerca de 40% de proteção em um ano, em uma população de altíssimo
risco – principalmente homens que fazem sexo com outros homens, e profissionais
do sexo. Isso durante um ano. Ela mostrou que tem uma eficácia não tão ampla
[40%] em relação à prevenção do HIV. Esse é o resultado mais conhecido”,
detalhou Barbosa.
Em outra pesquisa sobre o tratamento do HIV, foram divulgados em junho casos
de dois pacientes com o vírus. Eles foram submetidos ao transplante de medula
óssea e alcançaram a “cura funcional”, situação em que os níveis do vírus no
sangue caem e são incapazes de desencadear sintomas.
“Eles receberam transplante de medula óssea, continuaram usando medicação
durante a fase pós-transplante e conseguiram, então, erradicar o vírus da
circulação sanguínea. São casos com acompanhamento entre dois e quatro anos e
até agora o vírus não voltou na circulação”, disse.
O infectologista alerta, no entanto, que são casos isolados. “É importante
dizer, deixar muito claro, que esse não é um tratamento de rotina e muito menos
um tratamento a que as pessoas podem se candidatar. Isso são casos extremos, são
situações em que o indivíduo teve um câncer no sangue, um linfoma, e a
quimioterapia não funcionou. Então, o último recurso é o transplante de medula
óssea”.
Fonte Agência Brasil
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