Hannah Daisy/Armpits4August Ativista do grupo Armpits4August, em 2012, na Inglaterra |
A síndrome do ovário policístico (SOP) é a causa mais importante de
infertilidade feminina e é um dos problemas hormonais mais comuns em mulheres.
Cat Gray recebeu o diagnóstico quando tinha 19 anos, e hoje, com 31, diz que
o problema faz com que se sinta "menos mulher", devido à ausência do ciclo
menstrual mensal e às barreiras à formação de uma família.
"Minha mãe foi quem reagiu pior, com medo de não ter netos. Para mim, são os
efeitos colaterais visíveis que incomodam mais." Gray diz que sua adolescência
foi marcada pelo fato de ela ser "gorda, cheia de espinhas e, o pior de tudo,
peluda".
Amy de Luca não nada nem toma sol desde os 12 anos. "A puberdade e a SOP
desencadearam o crescimento de pelos por todo meu peito e minhas costas."
Para a mulher hirsuta, enfrentar sua pilosidade excessiva pode parecer uma
batalha que ela está fadada a perder, não importa quão grande seu arsenal de
lâminas ou lasers. O hirsutismo não é um simples excesso de pelos corporais
--pode manifestar-se como o crescimento de pelos grossos no peito, na barriga,
queixo e buço, resultando numa aparência masculina.
De Luca diz que é o medo do olhar alheio, e não a condição de hirsuta, que a
leva a seguir a rotina da depilação: "Adoraria não sentir mais a necessidade de
me raspar sempre, mas morro de medo do que os outros pensam."
Em agosto, um grupo de mulheres vai romper esse ciclo, deixando os
barbeadores de lado para levantar fundos e promover a conscientização da
síndrome de ovários policísticos. A organização britânica Armpits4August (axilas
para agosto) é um coletivo de mulheres hirsutas, policísticas e que decidiram
aceitar seus pelos corporais.
Elas se dizem fartas da pressão para se depilarem e estão propondo o desafio
de suspender a prática em uma área do corpo por um mês. Quem não quiser aderir
pode fazer doações à ONG Verity, que apoia mulheres com ovários policísticos.
A experiência suscita algumas perguntas curiosas. Você se sente pressionada a
aderir a padrões de beleza relativos a seus pelos corporais? Como é o
crescimento de seu "matagal" axilar?
Algumas integrantes do grupo Armpits4August já vivem "ao natural" e estão
acostumadas às críticas do campo majoritário, pró-depilação, para o qual ser
peluda está vinculado a ser desagradável e pouco higiênica.
Contudo, pesquisas científicas identificam uma função útil dos pelos
axilares, que afastam da pele o suor e as bactérias que provocam odores. Laura
Brown, que está deixando seus pelos crescerem pela primeira vez, concorda: "Até
deixar de raspar meus pelos, nunca tinha percebido que ficar uma pele úmida
encostada em outra pele úmida é nojento. Simplesmente pensar nisso me deixa
incomodada."
A ideia de recusar-se a fazer depilação é realmente tão difícil de ser
aceita? "Faz sentido que seja assim já que vivemos cercadas de imagens de
mulheres com pernas totalmente lisas, sedosas", diz Brown. Com a exceção das
celebridades flagradas por paparazzi em momentos de descuido, sem se depilarem,
e convertidas em alvos de comentários desairosos, a maioria das fotos de atrizes
e cantoras é editada para remover espinhas, poros abertos, rugas, celulites,
estrias e pelinhos indesejáveis.
Aconselhamento e redes de apoio podem ajudar as mulheres a jogar para o alto
a imagem corporal negativa.
"Sou classificada medicamente como mulher hirsuta", conta Sarah, uma das
responsáveis pelo Armpits4August. "Antigamente, odiava profundamente meus pelos,
por causa do bullying que sofria. Mas me sinto melhor em relação a isso desde
que conheci outras feministas."
Desde que recebeu seu diagnóstico, na virada do século, Cat Gray aprendeu a
conviver com seus ovários policísticos. "Não tem sido fácil", diz ela, "porque
não existe cura médica e tenho dificuldade para engravidar de modo natural." Ela
conta que viver de forma saudável a ajuda a controlar seus níveis de colesterol
e que a eliminação total de trigo e laticínios de sua dieta reduziu um pouco seu
peso, os pelos e a acne.
"Algumas coisas não podem ser mudadas, mas o fato de ver outras mulheres que
expõem sua condição e são lindas mesmo assim me convenceu de que as atitudes
podem e vão mudar."
Fonte Folhaonline
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