K.J. Olival/EcoHealth Alliance/The New York Times Cientistas tentam determinar origem do vírus da Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) examinando morcegos em vilarejo saudita abandonado |
A procura pelos morcegos faz parte da investigação sobre uma doença viral
mortífera que está atraindo cientistas ao país. O vírus foi detectado aqui, no
ano passado, e já contaminou pelo menos 77 pessoas em oito países, matando 40
delas.
A doença é a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, ou Mers, provocada por
um coronavírus relacionado ao vírus causador da Síndrome Respiratória Aguda
Grave (Sars), que se originou na China e em 2003 provocou um surto
internacional, infectando pelo menos 8.000 pessoas e matando quase 800.
Os cientistas não sabem de onde veio a Mers, onde o vírus existe na natureza,
por que ele apareceu agora, como as pessoas estão sendo expostas a ele e se
existe a possibilidade de um surto muito maior.
É quase certo que a doença tenha começado com uma ou mais pessoas contraindo
o vírus de animais -provavelmente morcegos-, mas os cientistas ignoram quantas
vezes já houve essa transmissão ou quais as chances de ela continuar a
acontecer.
Dos casos conhecidos da doença, metade resultou em morte, mas é quase certo
que tenham ocorrido casos mais brandos que passaram despercebidos.
Mesmo assim, o vírus preocupa porque já demonstrou facilidade em se espalhar
entre pacientes num hospital. Ele provoca sintomas semelhantes aos da gripe, mas
que podem progredir para uma pneumonia grave.
A doença é um exemplo preocupante das chamadas infecções emergentes causadas
por vírus ou outros organismos que chegam aos humanos de maneira inesperada.
Muitas dessas doenças são zoonóticas, ou seja, seus portadores normalmente são
animais, mas, de alguma maneira, elas conseguem migrar para outras espécies.
A Arábia Saudita é o país que, até agora, teve o maior número de pacientes
com Mers (62), mas já houve casos da doença que se originaram na Jordânia, no
Qatar e nos Emirados Árabes Unidos. Viajantes da península Arábica já levaram a
doença ao Reino Unido, à França, à Itália e à Tunísia, infectando algumas
pessoas nesses países. Especialistas em saúde se preocupam também com o Hajj, a
peregrinação muçulmana que em outubro atrairá milhões de visitantes à Arábia
Saudita.
A doença pode ser transmitida por meio da tosse, do espirro ou de superfícies
contaminadas, e pessoas com doenças crônicas parecem ser especialmente
vulneráveis a ela.
Mais homens que mulheres adoeceram até agora, possivelmente porque as mulheres teriam sido protegidas pelo véu.
Thomas Frieden, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos
EUA, comentou que as doenças ficam "a apenas uma viagem de avião de distância",
não importa onde se originem. Embora a Mers não seja altamente contagiosa, como
a gripe, disse ele, "a probabilidade de ela se espalhar não é pequena".
Se a origem da doença for descoberta, talvez seja possível dizer às pessoas
como evitá-la. Os principais suspeitos são os morcegos, por constituírem uma
reserva do vírus da Sars e por serem portadores de outros corona vírus
geneticamente semelhantes ao vírus da Mers. Os morcegos podem estar transmitindo
a Mers diretamente a humanos ou a outro animal, que então o transmite aos
humanos.
Em outubro passado, uma equipe de cientistas do Ministério da Saúde saudita,
da Universidade Columbia (em Nova York) e da EcoHealth Alliance começou a
vasculhar cidades sauditas próximas aos locais onde foram relatados casos de
Mers.
Um homem os conduziu até um vilarejo abandonado que teria existido por
centenas de anos. Ali, os cientistas encontraram um cômodo pequeno ocupado por
cerca de 500 morcegos. Eles passaram a noite examinando os animais para
verificar a presença do vírus da Mers.
Os morcegos podem pesar apenas quatro gramas, mas ter envergadura de 20
centímetros. "São verdadeiras bolinhas peludas voadoras", comentou Kevin J.
Olival, especialista em ecologia de doenças junto à EcoHealth Alliance.
Quinze minutos são necessários para pesar e medir um morcego e para retirar
amostras de saliva, fezes, sangue e pele do animal, que devem ser submetidas a
exames de DNA para confirmar sua espécie.
Se os animais são portadores do vírus, isso significa que eles adoecem? Eles
contaminam os humanos ao tossir? Transmitem o vírus em suas fezes ou urina? Ou
contaminam pessoas que limpam suas cocheiras?
Para Olival, encontrar os animais que portam a doença "não é um simples
exercício acadêmico". Isso é feito para que possam ser tomadas "medidas de saúde
pública que barrem as doenças zoonóticas antes de elas contaminarem humanos".
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário