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terça-feira, 16 de julho de 2013

Doença celíaca está relacionada a infecções repetidas na infância, aponta estudo

Doença celíaca está relacionada a infecções repetidas na infância, aponta estudo Jefferson Botega/Agencia RBS
Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS
O tratamento é feito com a suspensão completa e
permanente do glúten da dieta
Problema afeta cerca de 1% da população mundial
 
A doença celíaca afeta cerca de 1% da população. De acordo com uma pesquisa publicada na revista BMC Pediatrics, infecções repetidas no início da vida aumentam o risco para a doença celíaca. O estudo, baseado em casos suecos, comparou o histórico de saúde de crianças diagnosticadas com a doença celíaca com o de crianças sem a doença. A idade média de desenvolvimento da doença foi aos 11 meses de idade, com diagnóstico quatro meses depois.
 
Segundo os pesquisadores, ter três ou mais infecções (relatadas pelos pais) aumenta do risco de doença celíaca em 50%. A gastroenterite por si só aumenta o risco em 80%. O risco mais elevado foi observado em crianças que tiveram várias infecções, antes dos seis meses de idade, e que também ingeriram grandes quantidades de glúten, logo após a introdução deste alimento.
 
Bebês que tinham parado o aleitamento materno quando o glúten foi introduzido na dieta também eram mais vulneráveis a desenvolver a doença celíaca. Os pesquisadores destacaram a importância da amamentação na redução do risco, especialmente em crianças que apresentam infecções frequentes.
 
Doença da moda?
Segundo o gastroenterologista Silvio Gabor, muitos pacientes o questionam se a doença celíaca é uma "nova doença", surgida nos últimos tempos.
 
— Na verdade, a doença foi descrita, pela primeira vez, no século II, pelo grego Arataeus da Capadócia, que informou a existência de uma diarreia que aparecia em crianças, após a ingestão de farináceos e que se revertia com sua suspensão. A essa ocorrência ele chamou de "Koliakos" (aquele que sofre do intestino). Em 1888, Samuel Gre descreveu a doença com mais detalhes e aproveitou o termo grego para chamá-la de "afecção celíaca", e concluiu também que a única maneira de tratá-la seria pela não ingestão de farináceos — explica o médico.
 
Durante a Segunda Guerra Mundial, em meio ao grande racionamento alimentar, um pediatra holandês verificou que crianças com afecção celíaca melhoravam, apesar da grave falta de alimentos, e atribuiu essa melhora à baixa oferta de cereais na época.
 
Ainda no século XX, médicos ingleses demonstraram que o glúten era o que provocava a doença e descreveram as alterações da mucosa do intestino de pacientes celíacos operados. Coube a dois americanos o desenvolvimento de um aparelho capaz de acessar e biopsiar a mucosa intestinal sem a necessidade de cirurgia, facilitando o diagnóstico da doença.
 
A doença celíaca é uma doença autoimune, que atinge cerca de 1% da população mundial e cerca de 900 mil brasileiros. É caracterizada pela intolerância permanente ao glúten em indivíduos geneticamente predispostos. Mais especificamente é uma intolerância a uma proteína presente no trigo, na aveia, no centeio e na cevada (e seu subproduto malte), cereais utilizados na composição de alimentos, medicamentos, bebidas industrializadas e até mesmo de alguns cosméticos.
 
Quando esses cereais são ingeridos e atingem a porção inicial do intestino delgado, provocam uma reação imunológica que leva a um processo inflamatório crônico desta região, prejudicando a absorção dos alimentos, dos sais minerais e de outros nutrientes.
 
— A doença celíaca é mais comumente diagnosticada entre o primeiro e terceiro ano de vida, mas pode manifestar-se em qualquer idade, inclusive em adultos e idosos — observa o gastroenterologista.
 
Sintomas da doença celíaca
De acordo com seus sintomas, a doença celíaca pode ser classificada em clássica, não clássica e assintomática.
 
Clássica: as primeiras manifestações podem ocorrer entre o primeiro e o terceiro anos de vida. Caracteriza-se por diarreia crônica devida a ingestão de trigo, emagrecimento, falta de apetite, desnutrição, déficit de crescimento e de ganho de peso, anemia por deficiência de ferro e/ou vitamina B12, distensão abdominal, glúteos atrofiados, braços e pernas finos, apatia e em casos mais graves de desnutrição que pode levar à morte. Os adultos podem apresentar esterilidade ou abortos de repetição, osteoporose, hemorragias, tetania e câncer de intestino delgado.
 
Não clássica: as alterações intestinais não chamam tanto a atenção. Anemia persistente por deficiência de ferro ou vitamina B12, baixo ganho de peso e de estatura, prisão de ventre, manchas no esmalte dos dentes, irritabilidade, fadiga, epilepsia sem causas aparentes, neuropatia periférica, miopatia, depressão, autismo ou esquizofrenia podem estar relacionados a essa forma da doença. Adultos podem apresentar esterilidade ou osteoporose antes da menopausa. Elevações dos níveis sanguíneos de enzimas hepáticas e perda de peso sem causas aparentes podem ser manifestações isoladas da doença celíaca.
 
Assintomática: não existe manifestação da doença apesar dela estar presente. Parentes de primeiro grau de celíacos têm cerca de 10% de chances de desenvolverem a doença e devem ser pesquisados. Se não tratados, estes casos podem evoluir com abortos de repetição, esterilidade, osteoporose precoce e câncer de intestino.
 
Diagnóstico e tratamento da doença celíaca
O diagnóstico da doença celíaca pode ser feito por meio de exames laboratoriais como o teste da absorção da D-xilose e da dosagem de gordura nas fezes, que mesmo sendo inespecíficos são bastante úteis diante da suspeita clínica.
 
— Outros exames como a dosagem de anticorpos anti-gliadina, anti-endomisio e anti-transglutaminase são mais específicos e podem chegar a quase 100% dos diagnósticos, com poucos casos de falso positivo ou falso negativo. A biopsia endoscópica do intestino delgado entre a terceira porção do duodeno e o jejuno proximal realizada com pelo menos quatro fragmentos fornece o diagnóstico certeiro da doença celíaca — explica Gabor.
 
O tratamento é feito com a suspensão completa e permanente do glúten da dieta.
 
— Pães, bolos, macarrão, bolacha, pizza, coxinha, quibe, cerveja, whisky, vodka e qualquer alimento ou bebida que possua o glúten na sua composição ou fabricação são proibidos. O glúten pode ser substituído por farinha de arroz, amido de milho, farinha de mandioca, fubá, fécula de batata, trigo sarraceno ou quinôa. O café industrializado deve ser evitado por conter cevada em sua composição. O café, em seu estado puro, é permitido — recomenda o especialista.
 
Convivendo com a doença
Como não existem medicamentos ou outros tratamentos diferentes da suspensão do glúten da dieta até os dias atuais, a observação da não ingesta de glúten deve ser rigorosa e para o resto da vida.
 
— Com isso, o paciente portador da doença celíaca poderá ter uma vida normal, tanto do ponto de vista pessoal quanto familiar e profissional — diz o gastroenterologista.
 
Por ter características hereditárias, os parentes de primeiro grau dos celíacos deverão ser avaliados. Quando diagnosticados como portadores da doença deverão ser orientados quanto aos seus hábitos alimentares e cuidados com descendentes diretos.
 
Fonte Zero Hora

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