J. Duran Machfee/Futura Press
Médicos protestam contra medidas anunciadas pelo
governo em São Paulo
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A partir de 2015, quem ingressar em um curso de medicina no Brasil precisará passar oito anos na graduação, sendo os últimos dois dedicados ao Sistema Único de Saúde (SUS) . A mudança, que divide opiniões de especialistas, faz parte do pacote de soluções proposto pelo governo federal para melhorar a formação, distribuir melhor os profissionais pelo País e sanar o déficit de médicos.
O modelo parece com o aplicado na formação na Inglaterra, onde os médicos precisam passar por um trainee de dois anos antes de seguirem para residência. Mas, ao contrário dos médicos ingleses, os brasileiros ainda não precisarão passar por um teste de averiguação de competências, nos moldes do exame da OAB para advogados, para aturarem no mercado.
Entre os profissionais que criticaram a decisão, pesou a obrigatoriedade de trabalhar em hospitais sem estrutura, além do atendimento da população por alunos ainda não graduados. Já entre os que gostaram da mudança, os argumentos mais ouvidos são a formação mais completa do profissional antes de obter o diploma e a “retribuição” ao governo, no caso de estudantes de instituições públicas. A mudança, entretanto, servirá para todas as universidades, privadas ou públicas.
Na semana passada, ao anunciar a mudança, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que para o Brasil se equiparar à Inglaterra, que tem 2,8 médicos para cada mil habitantes, o País precisaria de mais 170 mil médicos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice brasileiro é de 1,8 médico para cada mil habitantes, o mesmo desde 2008.
Veja como é formação em medicina na Inglaterra, Estados Unidos, Cuba, Espanha, Suíça e Argentina:
Inglaterra (2,8 médicos/mil hab)
Os estudantes ingleses de medicina, após passar pela faculdade por cinco anos, precisam ser aprovados em um programa de trainee remunerado com dois anos de duração, o Foundation Programme. No primeiro ano, que tem no mínimo três meses de prática de clínica geral, os estudantes atendem ao público do sistema de saúde público inglês, supervisionados por médicos-professores. A partir do segundo ano, com uma licença profissional provisória, eles já passam a atender os pacientes sozinhos. Durante o segundo ano, um exame do equivalente ao Conselho Federal de Medicina (o General Medical Council) avalia se o estudante pode receber o seu CCT (Certificado de Conclusão do Trainee, em tradução livre) e então serem reconhecidos como clínicos gerais. O exame também pode ser realizado até um ano após o treinamento. Depois, os estudantes podem seguir para especializações, que podem durar de 3 a 8 anos.
EUA (2,8 médicos/mil hab)
Antes de entrar numa escola de medicina nos Estados Unidos (EUA), o estudante precisa se graduar bacharel em alguma área que abranja os ciclos básicos de biologia, física, química e matemática da universidade norte americana. Essa formação dura quatro anos. Trabalhos extracurriculares na área de saúde também são diferenciais na hora da avaliação para ser aceito em curso de medicina. No teste de admissão para a faculdade, o MCAT (sigla em inglês), são avaliados conhecimentos de biologia, química e física. O curso de medicina dura mais quatro anos, divididos em atividades em salas de aula, e, no final, em trabalhos em hospitais, em diversas especialidades, com a supervisão de médicos. Para fazer a residência e se especializar, os estudantes precisam passar por outro exame na faculdade escolhida, e o curso pode durar de três a oito anos, dependendo da instituição e da área. Antes de serem reconhecidos como médicos, os estudantes precisam obter a licença passando em um exame, o U.S. Medical Licensing Examination (Exame de licenciamento médico, em tradução livre, ou USMLE, sigla em inglês).
Cuba (6,7 médicos/mil hab, dado de 2010)
O estudante de medicina em Cuba precisa realizar um exame admissional para entrar no curso, que dura seis anos. Os cinco primeiros anos de estudos são divididos entre sala de aula e acompanhamento de consultas e plantões em hospitais. O sexto funciona como um trainee, onde o estudante trabalha em um hospital supervisionado pelos professores e médicos da universidade, e no qual pode ser reprovado. Para exercer medicina no País, é preciso passar por um exame estatal, o Examen Estatal Externo Nacional, composto por um exame prático e outro teórico, e ser aprovado no trainee. As faculdades de medicina cubanas são gratuitas, e a Escuela Latinoamericana de Medicina (ELAM) oferece bolsas para os estudantes latino-americanos.
Espanha (4 médicos/mil hab, dado de 2010)
Para entrar nas faculdades espanholas, os estudantes precisam primeiro passar por uma seleção no modelo do Enem brasileiro, na Prueba de Acceso a la Universidad (PAU – ou prova de acesso a universidade, em português). O estudante pode se inscrever nos cursos e universidades de acordo com a nota obtida no teste. Após completar os seis anos da faculdade de medicina, o estudante precisa prestar o exame para se tornar um Médico Interno Residente (MIR). De acordo com a nota obtida no MIR o estudante poderá escolher em qual área da medicina e na instituição em que fará sua especialização, que pode durar de três a cinco anos. Durante o período como interno até se tornar especialista, os estudantes de medicina trabalham nos hospitais vinculados às universidades em que estudam.
Suíça (4,1médicos/mil hab, dado de 2010)
O curso de medicina é o único que exige um exame seletivo para os estudantes suíços, por conta do número limitado de vagas oferecidas anualmente. A duração média da formação de um médico suíço é de 10 anos, dos quais seis anos são em sala de aula e, nos outros quatro de sua formação, o profissional trabalha como médico assistente. Não existe residência nos moldes como é no Brasil. Os sistemas de saúde e de formação médica na Suíça são complexos, e o atendimento é estruturado em médicos da família que fazem o primeiro contato com o paciente, que só depois é encaminhado para as outras especialidades. Não são todos os serviços públicos de saúde que são gratuitos.
Argentina (3,2 médicos/mil hab, dado de 2010)
O sistema de formação de médicos na Argentina parece com o atual modelo brasileiro. A duração do curso de graduação é de seis anos. Para se especializar, o recém-formado estudante precisa passar por uma nova avaliação para entrar no curso de residência escolhido. O curso varia de dois a quatro anos de duração, dependendo da área de estudos.
Noruega (4,2 médicos/mil hab, dado de 2010)
Para se formar médico, o estudante norueguês precisa primeiro da graduação de bacharel, em cursos oferecidos em universidades públicas e particulares, que dura em média três anos. O aluno então poderá seguir para a faculdade de medicina, que dura seis anos e meio e concede o diploma básico. Para se tornar especialista, o recém-formado precisa se dedicar outros seis a oito anos de estudos, divididos entre atendimento em hospitais.
Canadá (2,1 médicos/mil hab, dado de 2010)
No mesmo modelo que os EUA, a maioria das escolas de medicina do Canadá exigem uma graduação de bacharel em uma área com matérias avançadas de química, biologia e física, que dura de dois a quatro anos no País, além da aprovação no MCAT para ingressar no curso. A faculdade de medicina dura quatro anos e, ao seu final, o estudante precisa passar por um teste do Conselho Médico do Canadá para exercer a profissão. Os cursos de residência no País podem durar de quatro a oito anos.
China (1,8 médicos/mil hab)
Para se formar médico na China, o critério de admissão é o exame nacional em que o aluno concorre a universidade e ao curso conforme a nota obtida. O curso de medicina é composto de quatro anos de estudo, sendo o último no formato de trainee, onde o estudante trabalha no hospital ligado a sua universidade. Após formado, o médico pode escolher especializações clínicas ou cirúrgicas, em cursos que duram de dois a três anos.
Fonte iG
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