Mariana Eliano/Folhapress Marina Olga Rueda quer ir para o litoral CAtarinense |
São profissionais que, em sua maioria, preocupados com a instabilidade
financeira no país e em busca de um salário melhor, decidiram se inscrever no
Mais Médicos.
Na segunda fase de seleção do programa do Ministério da Saúde, que terminou
na sexta, 94 profissionais da Argentina se inscreveram --21 a mais do que na
primeira etapa.
Segundo uma funcionária do consulado brasileiro em Buenos Aires, depois que o
jornal "Clarín" divulgou o salário do Mais Médicos, o número de inscritos
aumentou.
Nem todos que se cadastraram pela internet (ela calcula em mais de 400)
entregaram depois os documentos para concluir o processo.
Dos 94 que concluíram a inscrição, a maioria escolheu trabalhar em postos de
saúde do Paraná, de São Paulo e de Santa Catarina.
O argentino José Luiz Fernandez, 40, de Missões, fugiu à regra e escolheu uma
cidade fluminense: Niterói.
Ele, que já arrisca uma conversa em português, diz que começou a estudar a
língua há três anos. Planejava revalidar seu título e trabalhar no Brasil, "caso
acontecesse outra hecatombe" na Argentina, diz, referindo-se à crise econômica
de 2001.
"Não me sinto seguro no meu país por causa da instabilidade econômica",
afirma o médico à Folha.
Clínico-geral e infectologista, recebe 170 pesos (R$ 65,47) por consulta e
também trabalha em hospital. A remuneração de R$ 10 mil oferecida pelo Mais
Médicos mais moradia, segundo ele, "é três vezes mais do que ganho aqui".
O salário também pesou para a inscrição da clínica e cardiologista Marina
Olga Rueda, 46. Plantonista em dois hospitais de Buenos Aires, ela também atende
em um consultório particular e recebe 100 pesos por consulta (R$ 38,49).
"Além de meu salário aqui ser menor, nós pagamos muitos impostos, não sobra
muito dinheiro", explica. O marido, que é mestre de obras, topou se mudar com
ela.
Sua primeira opção na lista de cidades para trabalhar foi Bombinhas, no
litoral catarinense, porque muitos argentinos vivem no Estado.
Enquanto aguarda ser convocada pelo governo brasileiro, Marina já começou as
aulas de português. "Acho que os pacientes vão me entender, mas tenho receio de
escrever receitas [médicas]."
Ela também tem medo de não ser bem recebida pela classe médica brasileira,
como aconteceu com os colegas cubanos. "É importante que os médicos brasileiros
saibam que não vamos roubar postos de trabalho. Nosso contrato é de três anos, e
eles também podem se inscrever."
A confirmação da vaga em um posto de saúde de Dionísio Cerqueira (SC) ainda
não saiu, mas María de Los Angeles Escudero, 29, outra argentina inscrita no
Mais Médicos, também teme a recepção dos colegas brasileiros.
"Eles são fechados e acham que vamos roubar trabalho." Ela trabalha em um
serviço de resgate em Buenos Aires.
Folhaonline
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