Jason Henry/The New York Times Mark Rosen diz que a dor fetal é improvável antes da 27a semana, mas outros cientistas discordam |
Segundo esses grupos, estudos mostram que os fetos já podem sentir dor a
partir da 20a semana de gravidez. Um dos cientistas citados acredita, no
entanto, que os poucos abortos realizados após esse período ainda podem ser
feitos de modo a se evitar a dor.
As opiniões de alguns cientistas evoluíram com novas pesquisas. O doutor
Nicholas Fisk, especialista em medicina materno-fetal no Hospital Real Brisbane
e Feminino, na Austrália, disse que já considerou a dor fetal precoce "uma
grande possibilidade", mas que a pesquisa o convenceu de que ela não é possível
antes de 24 semanas.
Os defensores das leis da dor fetal também dizem que o uso pelos cirurgiões de anestesia e analgésicos em operações de fetos no útero é prova de que eles sentem dor.
Os defensores das leis da dor fetal também dizem que o uso pelos cirurgiões de anestesia e analgésicos em operações de fetos no útero é prova de que eles sentem dor.
Entretanto, cirurgiões fetais dizem que as drogas são dadas por motivos
alheios à dor, como relaxar o útero e bloquear efeitos prejudiciais da reação
hormonal ao estresse do feto.
Um cientista cujo trabalho é citado em apoio às leis é o doutor Kanwaljeet
Anand, do Centro de Ciência da Saúde da Universidade de Tennessee, em Memphis. O
doutor Anand disse que há a probabilidade de dor nos fetos de 18 a 24 semanas.
Mas acrescentou que, para os "muito poucos" abortos que ocorrem depois dessa
fase, existem técnicas que podem ser usadas para evitá-la.
Como há muito que ainda não foi determinado sobre a dor, a maioria das
discussões científicas acaba entrando no território da teoria.
"Existe muito mais que não sabemos do que o que sabemos", disse o doutor Mark
Rosen, que em 2005 analisou muitos estudos sobre o tema, concluindo que a dor
fetal é improvável antes de aproximadamente 27 semanas.
O relatório disse que a sensação de dor exige conexões neurais com o córtex. Segundo Rosen, o córtex começa a surgir por volta da 23a semana, não está
funcionalmente desenvolvido até a 26a semana e continua se desenvolvendo após o
nascimento.
Em 2010, um painel nomeado pelo Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas do
Reino Unido disse que "a maioria dos neurocientistas acredita que o córtex é
necessário para a percepção da dor", por isso "o feto não pode sentir dor em
qualquer sentido antes" da 24a semana.
Em 2012, o Congresso de Obstetras e Ginecologistas dos EUA concordou. Os defensores da lei da dor fetal afirmam que o córtex não é necessário para
sentir dor e que o tálamo, que se desenvolve por volta da 20a semana, é
suficiente. Mary Spaulding Balch, do Comitê Nacional pelo Direito à Vida, grupo
antiaborto, cita um artigo de 2007 do neurocientista sueco Bjorn Merker. Ele
inclui observações de crianças com hidranencefalia, nas quais a maior parte do
córtex está ausente. O doutor Merker escreveu que elas pareciam sorrir e chorar
e teorizou que "o consenso tácito sobre o córtex cerebral como 'órgão da
consciência'" pode "estar seriamente errado".
Balch disse que essa pesquisa, envolvendo crianças de um a cinco anos, "é
evidência convincente de que a criança sente dor já na 20a semana de gestação". Mas o doutor Merker disse que sua pesquisa continha "indícios secundários" de
dor fetal e que a política havia "contaminado" a questão.
O doutor Anand disse que alguns adultos continuaram sentindo dor depois da
remoção do tecido do córtex e outros tiveram a dor eliminada quando apenas os
nervos do tálamo foram removidos.
O doutor Rosen, professor emérito na Universidade da Califórnia em San
Francisco, disse que a dor envolve "complexos ciclos de retroalimentação entre
diferentes estruturas", de modo que os receptores da dor devem se estender pelo
cordão espinhal e o tálamo até o córtex.
"Você pode fazer uma ligação telefônica, mas só depois que haja um cabo
conectando nossos telefones", disse. "Você pode dizer que os cabos já existem,
mas ninguém ligou o serviço."
As teorias da dor fetal do doutor Anand surgiram de pesquisas que ele fez com bebês prematuros há cerca de 25 anos, que mostraram que os bebês que sofreram cirurgias sem anestesia tiveram reações hormonais ao estresse que impediram a recuperação. Ele disse acreditar que as reações refletiam a dor, possível em bebês tão prematuros quanto 22 semanas.
Em 2004 o doutor Anand testemunhou sobre dor fetal em julgamentos sobre leis
que proibiam procedimentos no final da gravidez, que seus adversários chamam de
abortos de nascimento parcial. Em 2005, ele depôs diante de uma comissão do
Congresso que avaliou a legislação sobre dor fetal.
Recentemente, o doutor Anand disse que pretendia esclarecer a ciência, não
apoiar opiniões contrárias ao aborto. Ele disse que as mulheres e os médicos
devem tomar decisões sobre o aborto caso a caso.
"Nos muito poucos abortos em que a dor fetal poderia ocorrer", disse ele,
"considere o que pode ser feito para evitar causar dor ao feto."
Um método comumente usado depois da 20a semana -injetar nos fetos ou no
fluido amniótico medicação para parar o coração- seria uma "maneira compassiva
de fazê-lo", disse o doutor Anand.
Os adversários do aborto discordam, comparando as injeções com infartos.
O doutor Anand disse que se as injeções não puderem ser feitas ele
recomendaria "alguma espécie de anestesia fetal".
Folhaonline
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