Por Dr. Ricardo Nahas
As coxas abrigam os
grupos musculares mais potentes do corpo humano. E, não à toa, essa
massa muscular poderosa movimenta e dá estabilidade aos quadris e
joelhos, articulações decisivas nos saltos, deslocamentos e mudanças de
direção dos dribles que fazem os fundamentos da vida dos atletas nas
práticas esportivas.
Expostas, as coxas
são vitima de trauma direto, como chutes, encontrões e quedas ao solo.
Os boleiros conhecem bem o seu resultado: contusões dolorosas provocadas
por chute direto na coxa, para alguns conhecida por "paulistinha" e por
outros como "tostão".
O resultado destes
traumas vão desde simples marcas roxas na pele das coxas até rupturas
musculares dolorosas e hematomas musculares graves que exigem
intervenção médica e longos períodos de tratamento com afastamento dos
esportes.
Outra lesão que
ocorre nas coxas são as rupturas musculares por estiramento. Sem serem
exclusivas, mas bastante frequentes nos esportes, não respeitam nenhuma
modalidade ou segmento corporal.
Estes estiramentos
são produto de vários fatores mas, principalmente, de erros de balanço e
comando da contração muscular voluntária, associados a fadiga
muscular.
Manter o balanço
entre os músculos que agem sincronicamente contra e a favor (músculos
agonista e antagonista) ao movimento automatizado pelo treinamento
esportivo, ajuda a evitar rupturas de músculos das coxas, que ocorrem
pela complexidade de movimentos executados pelos quadris e joelhos.
Dos movimentos com
transferência de energia para manter a harmonia articular, o de flexão
do quadril e extensão do joelho em conjunto (chutes, saltos, dribles e
arrancadas, por exemplo), é um dos mais executados nos esportes e
depende, grosseiramente, da ação dos músculos anteriores das coxas,
principalmente do quadríceps, assim chamados de agonistas.
A modulação deste
movimento será feita por conjunto de músculos, isquiotibiais, que
auxiliam na extensão dos quadris e flexão dos joelhos, ou seja,
antagonizam o movimento principal absorvendo a energia transferida para
proteger essas articulações, evitando lesão.
Formado pelo
conjunto dos músculos bíceps femoral (cabo longo), semitendíneo e
semimembranoso, os isquiotibiais são assim chamados por terem origem no
ísquio (osso da bacia) e inserção na tíbia (osso da perna), percorrendo a
parte posterior da coxa. Os três trabalham em conjunto nesta função.
O noticiário
esportivo é pródigo em menções elogiosas aos jogadores que ficam após o
treino dito oficial praticando cobranças de falta, escanteios, pênaltis,
saltos e cabeceios. São movimentos que exercitam mais a extensão dos
joelho, favorecendo dos antagonistas aos isquiotibiais que, se não bem
treinados, bem balanceados, podem não suportar essa transferência de
energia e romperem, estirarem.
A falta de
compreensão deste mecanismo é um dos principais motivos que contribuem
para que a ruptura dos músculos isquiotibiais por estiramento seja um
dos problemas mais frequentes e sua incapacidade, mesmo que temporária,
causa comum de afastamento.
Uma vez ocorrida,
tanto a contusão como o estiramento, afasta-se o praticante da
atividade, protege-se o local afetado, compressas geladas de uso
intermitente são aplicadas, comprime-se na medida certa para diminuir
inchaço e sangramento, sem jamais interromper o fluxo de sangue e
eleva-se o membro atingido. Socorro especializado deve ser acionado e o
médico consultado o mais breve possível.
O processo de
cicatrização da lesão pode levar de 3 semanas até meses, dependendo da
sua gravidade e quantidade de fibras musculares acometidas. O tratamento
é ativo e exige participação efetiva e colaboradora do paciente em
todas as suas etapas.
Assim que a dor
permita, exercícios supervisionados são estimulados para ganho de força
muscular e de amplitude de movimento articular, principalmente dos
quadris e joelhos. É importante minimizar a perda de condicionamento
mantendo-se o paciente ativo, com exercícios alternativos que poupem a
região lesada, mas mantenham a capacidade física, durante todas as fases
do tratamento.
Sabe-se que a
recuperação pode ser completa e a função recuperada em sua totalidade
desde que as etapas do tratamento sejam respeitadas e o retorno ao
exercício feito no tempo certo, sem precipitações e antecipações.
Se, após a cura da
lesão, o equilíbrio muscular não for restabelecido a contento, uma das
mais frequente complicações seguramente terá seu espaço: a recidiva. E
com ela todo o tratamento será perdido e a caminhada, mais difícil, deve
ser retomada.
Não adianta tratar
a doença sem corrigir sua causa. Para isso, o treinamento com correto
balanço muscular do quadríceps e ísquiotibiais será o remédio, o mesmo
que deve ser prescrito na prevenção destas lesões, os estiramentos ou
rupturas musculares.
Minha Vida
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