Cientistas forenses anunciaram nesta quinta-feira (19) ter descoberto o
ovo mais antigo do parasita causador da esquistossomose, revelando como
o progresso humano possibilitou que um minúsculo verme encontrado na
água doce se transformasse em uma maldição para milhões de pessoas.
Em carta publicada na revista The Lancet Infectious Diseases, uma
equipe de arqueólogos e biólogos anunciou ter descoberto um ovo com
6.200 anos do temido parasita intestinal em uma antiga cova no norte da
Síria.
O local, denominado Tell Zeidan, fica no vale do Eufrates, parte do
famoso "Crescente Fértil", onde os humanos se assentaram para introduzir
cultivos agrícolas quase 8.000 anos atrás, fazendo o histórico salto de
caçadores-coletores para agricultores.
A equipe escavou restos de esqueletos de 26 pessoas de sepulturas e
cuidadosamente peneirou os sedimentos coletados da região pélvica de
cada uma. O trabalho meticuloso resultou na descoberta de um ovo com
apenas 132 milionésimo de metro de comprimento.
O ovo, afirmaram os cientistas, é de uma das duas espécies de
esquistossomos: vermes planos que causam a esquistossomose, uma doença
que afeta centenas de milhões de pessoas em regiões tropicais de Ásia,
África e América Latina.
Os esquistossomos se refugiam na pele das pessoas que entram em cursos
d'água doce e viram vermes adultos antes de invadir rins, bexiga e
intestinos. Desenvolvendo-se no fluxo do sangue, eles acasalam e seus
ovos são excretados na urina e nas fezes, expondo mais pessoas à doença.
A infecção - normalmente percebida pela presença de sangue na urina -
pode resultar em falência dos rins, câncer de bexiga, desnutrição e
anemia.
Análises recentes de DNA dos esquistossomos sugeriam que os vermes
tinham evoluído na Ásia e se espalhado dali para a África e o mundo. Mas
como isto aconteceu permanecia um mistério até agora.
A migração através do assentamento remoto de pessoas no Oriente Médio,
através de sistemas de irrigação do Crescente Vermelho, é uma possível
resposta, segundo a carta.
As pessoas em Tell Zeidan plantavam trigo e cevada em condições de
muita aridez, o que sugere que desenvolveram um sistema de irrigação
para molhar seus cultivos, destacou.
Se foi assim, os canais de irrigação podem ter sido a fonte de infecção
provável para o indivíduo que carregava o parasita, segundo a
investigação chefiada por Piers Mitchell, da Universidade de Cambridge,
na Grã-Bretanha.
"Nossas descobertas sugerem que a irrigação de cultivos, 6.000 anos
atrás, no Oriente Médio, permitiu que a esquistossomose se espalhasse
para as pessoas que viviam ali e, portanto, foi o gatilho para o enorme
peso que a doença tem causado nos últimos 6.000 anos", diz a carta.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 42 milhões de
pessoas foram tratadas de esquistossomose em 2012, e 249 milhões
receberam tratamento preventivo com praziquantel, medicamento na linha
de frente para controlar o parasita.
R7
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