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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Burocracia deixa SP sem tratar leucemia

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou ontem que não recebeu qualquer orientação formal do Ministério da Saúde sobre um possível remanejamento de recursos entre os hospitais da região para sanar a restrição de remédios imposta pelo governo aos portadores de leucemia mieloide crônica (LMC). Anteontem, o JT noticiou que uma portaria recente limitou em até 15%, por unidade de saúde, a porcentagem de pacientes com permissão para receber o tratamento de segunda linha – única opção para quem deixa de responder às drogas de primeira linha.

Também ontem, a reportagem encontrou problemas ligados à portaria da LMC, nº 90/2011, em mais duas instituições paulistas: o Hospital A.C. Camargo e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Anteriormente, a Santa Casa de São Paulo, o Hospital do Câncer de Barretos e o Hemocentro da Unicamp já haviam informado que o índice de pacientes que necessitam das drogas de segunda linha ultrapassa os 15% fixados pelo Ministério.

A hematologista Belinda Pinto Simões, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, chegou a entregar uma carta ao ministro da saúde, Alexandre Padilha, na qual sugere o fim do teto. Segundo ela, “com cinco anos de uso do imatinibe (tratamento de primeira linha), em torno de 35% dos pacientes necessitarão da troca para um inibidor de segunda geração.”

O oncologista clínico Garles Matias Vieira, do Hospital A.C. Camargo, tem a mesma opinião. “O que vemos é que cerca de 35% dos pacientes vão perder a resposta ao imatinibe ou desenvolver intolerância ao remédio e precisarão mudar o tratamento”, diz. Segundo ele, esse é o número observado na literatura e também na prática clínica. O médico afirma que a portaria é “arbitrária” e que não ficou claro como o Ministério chegou aos 15%.

Vieira cuida do relações públicas Caio Del Roveri Ferreira, de 25 anos, diagnosticado com LMC há quase um ano. Após tomar o imatinibe por alguns meses, ele desenvolveu uma mutação genética e seu corpo passou a não responder ao remédio. Mesmo encaminhando à Secretaria de Estado da Saúde a documentação que comprova a necessidade do tratamento de segunda linha, o pedido foi negado.

“Foi um absurdo. O caso dele estava todo documentado. Ou nem olharam o pedido ou a pessoa que o avaliou não entende nada do assunto. Só queremos tratar o paciente da melhor forma”, diz o médico.
No caso do Hemocentro da Unicamp, em que 14 pacientes, nominalmente apontados em uma lista, tiveram seus pedidos para drogas de segunda linha negados, o assunto será discutido hoje, em reunião dos médicos com o reitor da universidade, Fernando Ferreira Costa.

Presidente da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), Cármino Antônio de Souza afirma que algumas instituições têm usado verbas de outros setores para pagar tratamentos considerados “excedentes”. Segundo ele, a ABHH está tentando “todas as ações de caráter administrativo e político” para resolver o caso. O Ministério da Saúde, diz, ainda “não retornou aos pedidos de reunião.”

Dados nacionais, argumenta o Ministério, mostram que a parcela de doentes que precisam de drogas avançadas não chega a 10%. Segundo a coordenadora-geral de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, Maria Inez Gadelha, hospitais com excesso de demanda devem entrar em contato com a Secretaria Estadual de Saúde para que o órgão possa remanejar verbas a partir de unidades que não atinjam o teto. A Secretaria, por sua vez, afirma desconhecer a recomendação, mas afirma estar “aberta ao diálogo.”

Fonte Jornal da Tarde

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