Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Chá feito com folhas de yacón em excesso pode causar danos graves ao rim

A planta do yacón costuma ser usada para reduzir a glicemia em diabéticos. Pesquisadora da USP, no entanto, não recomenda sua utilização (Sidney Lopes/EM/D.A PRESs)
A planta do yacón costuma ser usada para reduzir a glicemia em diabéticos.
Pesquisadora da USP, no entanto, não recomenda sua utilização

Úteis à humanidade há milênios, as plantas medicinais, quando utilizadas de maneira incorreta, podem causar efeitos colaterais tão severos quanto os ocasionados pelo mau uso dos remédios sintéticos comprados nas farmácias. O costume popular de usar as plantas, especialmente sob a forma de chás, sem a orientação de um médico ou sem observar a procedência de raízes e folhas, é responsável por graves casos de intoxicação. Um novo estudo, realizados na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), ligada à Universidade de São Paulo (USP), é um bom exemplo do perigo que esses produtos podem oferecer. Os pesquisadores concluíram que o chá feito com folhas de yacón — comercializadas em mercados e feiras do Brasil, do Japão e da Europa e usadas para reduzir a glicemia em diabéticos — pode causar lesões renais graves.

Para chegar a essa conclusão, os cientistas administraram o chá de yacón  por via oral em ratos durante três meses, em uma dose que equivaleria a três xícaras por dia para um humano de 70kg. “Nessa dose, e ao fim dos 90 dias de tratamento, os ratos apresentaram um quadro de doença renal crônica, com inflamação e destruição dos tecidos filtrantes do rim”, aponta Rejane Barbosa de Oliveira, autora da tese de doutorado Atividades antidiabética, anti-inflamatória e toxicologia do yacón.

A planta é originária da região dos Andes e pertence à mesma família botânica de espécies como o girassol e a arnica. Sua batata ou raiz, no entanto, é muito usada pelos povos andinos (veja Palavra de especialista). O estudo realizado na FCFRP/USP demonstrou que o chá preparado a partir de suas folhas tem duas classes principais de substâncias químicas: as lactonas sesquiterpênicas (responsáveis pelo dano renal) e compostos denominados ACGs, que causam o efeito benigno de redução da glicemia. Segundo Rejane, que é também bióloga e doutora em ciências farmacêuticas pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, o estudo demonstrou que apesar de as substâncias terem o potencial de reduzir o percentual de açúcar no sangue, o chá das folhas do yacón não deve ser usado pela população.

“A toxicidade desses compostos inviabiliza o uso oral. Uma alternativa seria o uso tópico, o qual demonstrou bons resultados em animais de laboratório, contudo não foram feitos estudos toxicológicos sobre a utilização prolongada dos extratos nesse tipo de tratamento”, diz.

O velho ditado “se é natural, não faz mal” é combatido por especialistas que apontam riscos bem maiores que os benefícios no uso indiscriminado de plantas, ervas e fitoterápicos. Para se ter ideia, são registrados anualmente nos centros de controle de intoxicações do Brasil cerca de 2 mil casos de intoxicações por plantas, muitos levando ao coma e até mesmo à morte. Parte das internações ocorre devido ao uso inadequado das plantas. “Especialmente devido a erros na dosagem, na forma de preparo do extrato vegetal e também na forma errada de identificação da planta”, ressalta a pesquisadora.

Outro órgão muito afetado por algumas plantas utilizadas para fazer chás no Brasil é o fígado, ressalta o chefe do Serviço de Hepatologia do Hospital Universitário de Juiz de Fora, Aécio Flávio de Souza. Segundo ele, muitas vezes, os chás são preparados da forma errada, o que potencializa seu efeito tóxico. “Em alguns casos, a parte que deve ser usada é o caule, mas a população utiliza as folhas.”

A erva conhecida popularmente como sacaca, vendida como remédio para emagrecer especialmente no Norte do país, é responsável por complicações hepáticas tão graves que é capaz de levar a pessoa a depender de um transplante de fígado. Bebidas usadas livremente como o chá verde, confrei e compostos chineses também podem causar complicações hepáticas graves. Até mesmo o conhecido chá de poejo, usado para gripes, e a valleriana, tomada como calmante, podem prejudicar o órgão. “Antes de começar a fazer uso de um determinado chá, a população deve consultar o médico. Assim, pode ter uma avaliação hepática, fazendo o uso da bebida com segurança”, recomenda Souza.

O fato é que antes de comprar uma planta medicinal, que pode sim fazer mal como qualquer outro medicamento usado de forma inadequada, é preciso levar em consideração alguns fatores importantes. Além de ouvir um médico, é preciso ter certeza de que a identificação da planta está correta e avaliar a procedência do material. A pesquisadora Rejane Oliveira frisa ainda que as doses e o intervalo entre elas devem ser seguidos rigorosamente. “As plantas medicinais podem interagir com outros medicamentos, potencializando, exacerbando ou impedindo a ação deles”, lembra.

Mulheres grávidas devem ficar especialmente atentas ao uso de plantas medicinais, pois muitas podem causar abortos espontâneos. No momento de escolher o chá, o melhor mesmo é optar pelas plantas geralmente cultivadas em horta, como hortelã, capim-santo e camomila. “Essas são muito conhecidas, estudadas e usadas há séculos na medicina tradicional da Europa, de onde têm origem”, sugere a professora de fitoterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria das Graças Brandão.


Palavra de especialista
Raiz pode ser consumida
“Na região dos Andes, as raízes tuberosas do yacón são utilizadas pela população como alimento in natura, na preparação de sucos e geleias. Elas não têm as substâncias lactonas sesquiterpênicas presentes na folha e, por isso, não são tóxicas e podem ser consumidas sem risco. Essas raízes são um excelente alimento para pessoas diabéticas, visto que são ricas em oligofrutanos, açúcares que não aumentam os níveis glicêmicos do sangue e ainda contribuem para o bom funcionamento e a manutenção da microbiota intestinal.”

Rejane Barbosa de Oliveira , bióloga

Fonte Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário