Com rouquidão há algumas semanas, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, 66 anos, internou no hospital Sírio Libanês em São Paulo na sexta-feira 28 de outubro. Após avaliação cuidados e exames complementares teve diagnóstico de câncer de laringe confirmado algumas horas depois e seu tratamento programado para iniciar na segunda-feira seguinte.
Bem longe dali, outro paciente coincidentemente chamado Luis, 56 anos, apareceu no consultório. Morava no interior do Rio Grande do Sul. Iniciou em abril dor abdominal. Procurou posto de saúde e, apos 8 semanas, consultou com médico que receitou remédio para gastrite. Como não melhorou, retornou ao posto. Foram solicitados ultrassom abdominal e radiografia de tórax. Apos mais 8 semanas retornou ao posto com exames que sugeriam câncer disseminado no fígado. Indicada biópsia. Mais 8 semanas e foi feita punção hepática. O resultado sugeria câncer, mas o laudo solicitava complementação com exame chamado imuno histoquímica. Muito estressado e notando perda já de 10 Kg, familiares se reuniram e trouxeram para Porto Alegre. O paid do paciente falecera aos 50 anos com quadro muito semelhante. Compreendiam que tinha que consultar em uma instituição de referência, mesmo que particular. Avaliei o paciente e confirmei se tratar de câncer de cólon com metástases hepáticas e pulmonares. Agora este calvário piora. Conseguir encaminhar paciente com parcos recursos financeiros para fazer tratamento com quimioterapia através do sistema único de saúde. Tratamento, cabe mencionar, diferente do que faria se tivesse recursos irrestritos.
O primeiro Luis tem um câncer curável, cuja etiologia é diretamente relacionada ao consumo de cigarro e álcool. Muito possivelmente o diagnóstico felizmente foi feito a tempo e as chances de cura são boas. O segundo Luis tem um câncer avançado, com correlação familiar conhecida. Se ele tivesse se submetido aos exames de detecção precoce, os quais ele nunca tinha ouvido falar, preconizados pela sociedades científicas de combate ao câncer, possivelmente faria detecção mais precoce e haveria chance de cura.
Evidentemente ambos os pacientes não são culpados por seus infortúnios. O fato é que esta diferença de manejo chama a atenção para um cenário de inequidade cruel, principalmente pela diferença de acesso. O primeiro Luis representa menos de 20% da população que tem algum plano de saúde e fonte pagadora confiável. O segundo Luis depende do sistema público que, mesmo bem intencionado, está assoberbado e com orçamento insuficiente.
Não se pode culpar o tabagista por sua doença. Mas temos que culpar o tabagismo. Da mesma forma que temos que oferecer suporte e tratamento que permita o tabagista abandonar o vicio, temos que promover uma política de saúde preventiva e de detecções precoces. Em resumo: todo processo deve funcionar adequadamente para se garantir excelência e atendimento. Educação e acesso são palavras chaves nesta equação.
Há alguns meses o rei da Espanha foi submetido a um procedimento cirúrgico para retirada de um tumor. A lesão foi diagnosticada como benigna e o monarca passa muito bem. Tudo ocorreu em hospital público.
Não é justo que se peça para o ex-presidente brasileiro ser tratado no SUS… o justo é pedir que todo paciente do SUS seja tratado com o ex-presidente será.
Por Stephen Stefani
Fonte SaudeWeb
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