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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tese de doutorado desvenda como alimentos reduzem inflamações intestinais

Segredo está na liberação de substâncias chamadas ácidos graxos de cadeia curta

Um passo rumo à solução de problemas graves de saúde. Tese de doutorado feita na Universidade de São Paulo (USP) mostra que a ação de ácidos graxos em neutrófilos pode permitir a prevenção de doenças inflamatórias, incluindo as que atacam o intestino e até mesmo a obesidade e comorbidades associadas. A pesquisa, defendida no curso de doutorado do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo por Marco Aurélio Ramirez Vinolo, sob orientação do professor Rui Curi, rendeu ao estudioso o primeiro lugar no Prêmio Tese Destaque USP 2011 e é considerada um avanço no conhecimento das ações de nutrientes no organismo. “Sabia-se que as fibras têm efeito benéfico, diminuindo o processo inflamatório no trato gastrointestinal. No entanto, não se conhecia a ligação desse efeito com os ácidos graxos de cadeia curta, que são gerados na degradação das fibras”, diz o pesquisador.

A partir da fermentação de fibras no intestino, são produzidos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), principalmente acetato, propionato e butirato, que são moléculas simples compostas por cadeia de um a cinco átomos de carbono e um grupo carboxila. Essas moléculas, principalmente o butirato, têm efeitos importantes no trato gastrointestinal sendo essenciais para a manutenção das células que compõem o tecido intestinal. Alimentos ricos em fibras que liberam os AGCCs são o leite e a manteiga, por exemplo.

De acordo com o estudo, os leucócitos — células responsáveis pela destruição e remoção de patógenos, no caso em que a inflamação é decorrente da presença ou ação de um agente infeccioso — têm suas funções moduladas pelos AGCCs. Os leucócitos, em especial os neutrófilos, migram para o local da inflamação e, ao chegar lá, liberam moléculas como citocinas e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio (mediadores inflamatórios). Essas, por sua vez, sinalizam para a migração de outras células sanguíneas para o local de infecção e, dessa maneira, ampliam a inflamação. Os resultados obtidos por Vinolo demonstram que os ácidos graxos de cadeia curta são capazes de inibir a liberação de parte dessas moléculas e, por reduzir a produção desses mediadores inflamatórios, consequentemente atuam na redução da inflamação.

Pelo fato de esses ácidos graxos reduzirem a produção de mediadores inflamatórios pelos leucócitos, é possível que esses compostos reduzam a capacidade dos leucócitos de destruírem as bactérias.

Outro ponto relevante é que os AGCCs também são produzidos em altas quantidades por bactérias anaeróbias causadoras de doenças no tecido periodontal, onde esses ácidos graxos atuariam iniciando e intensificando o processo inflamatório. “Os neutrófilos são as primeiras células a migrarem ao tecido inflamado onde produzem uma ampla gama de mediadores. Além disso, atuam diretamente na destruição de micro-organismos invasores, via fagocitose, produção de espécies reativas de oxigênio e liberação de proteases (degranulação)”, diz o estudo.

Avanços
O pesquisador acredita que, a partir do resultado de sua tese e estudos mais aprofundados, seja possível que alimentos ricos em fontes de ácidos graxos de cadeia curta possam reduzir de maneira significativa o uso de medicamentos. Isso porque os AGCCs previnem o desenvolvimento de várias condições patológicas, principalmente as doenças inflamatórias. “A ingestão de fibras e também o uso direto de ácidos graxos de cadeia curta podem ter efeitos benéficos que variam desde a redução na propensão ao desenvolvimento de doenças inflamatórias intestinais até a diminuição de obesidade e comorbidades associadas. Contudo, vale ressaltar que são necessários mais estudos, principalmente em humanos, para uma melhor caracterização desses efeitos”, afirma.

Em parceria com outros dois professores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, Vinolo vem testando em animais o uso de derivados sintéticos do butirato para o tratamento de doenças. Segundo ele, por enquanto, apesar de o trabalho ainda não ter sido concluído, os resultados são promissores quanto à aplicação desses compostos em animais com inflamação aguda, sepse, lesão renal e até para tratamento de obesidade. “Sabe-se hoje que parte das alterações que ocorrem em indivíduos obesos, como o desenvolvimento de diabetes melito e alterações cardiovasculares, são decorrentes da produção de mediadores inflamatórios”, diz o pesquisador. Diante disso, os AGCCs foram testados em animais obesos e, apesar de o trabalho ainda não ter sido publicado, ele adianta que o tratamento à base de ácidos graxos de cadeia curta teve efeitos benéficos em decorrência da sua ação anti-inflamatória. Mas ele afirma que para melhor avaliação dos resultados é preciso realizar testes semelhantes em humanos.

Fonte Correio Braziliense

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