Antes de partir para a atividade física, a atleta - amadora ou profissional - deveria receber orientações da ginecologista do esporte |
Hoje já existe essa especialidade voltada ao atendimento da mulher praticante de atividade física
O número de mulheres praticantes de atividades físicas cresceu muito nos últimos anos. Profissionais ou amadoras, elas estão em busca de uma vida mais saudável e melhores resultados.
Mas, como todas as mulheres, estão sujeitas a incômodos que podem comprometer a realização dos exercícios – muitas vezes as afastando do esporte – e atrapalhar a performance.
Foi pensando nesse público que a ginecologia se uniu à medicina esportiva e passou a dar atenção especial a essas particularidades.
Para entender melhor a especialidade, conversamos com a ginecologista do esporte Tathiana Parmigiano, do Hospital do Coração (HCor). Formada pela Unifesp, ela atua nas seleções brasileiras de judô e basquete e no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo (SP). A convite do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Tathiana também integrou o corpo médico e acompanhou a rotina das atletas brasileiras nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, realizados em outubro no México.
iG- A partir de quando a mulher que pratica esporte passou a receber atenção especial?
Tathiana Parmigiano- Os estudos com esse público se intensificaram após 1972, quando o presidente americano Richard Nixon exigiu igualdade de oportunidades entre homens e mulheres nos esportes. O número de praticantes aumentou muito e suas particularidades passaram a exigir cuidados especiais. Hoje temos corridas de rua só para mulheres, artigos esportivos para mulheres, representamos 42% do número de participantes nas últimas Olimpíadas. Isso é um feito importantíssimo! A ginecologia do esporte surgiu para cuidar das mulheres esportistas.
iG- Como esse especialista pode ajudar?
TP- O objetivo é informar a mulher que pratica atividade física que ela deve estar atenta ao próprio corpo e que o ciclo menstrual não deve impedir a prática de esporte ou piorar o rendimento. Além disso, orientações sobre incontinência urinária e cuidados com as mamas, muitas vezes subestimados, estão na lista de temas e problemas abordados por esses profissionais.
iG- Cólica menstrual e TPM podem tirar a mulher do esporte?
TP- Elas podem ser incapacitantes para a prática de atividade física, sim. Desde levar a perda de uma aula, um treino, até comprometer o rendimento em um evento competitivo. Hoje podemos minimizar esses sintomas com contraceptivos hormonais, antiinflamatórios e outros recursos. Não é justo que algo tão feminino como o ciclo menstrual vire nosso inimigo. Nenhuma mulher deve se acostumar com cólicas ou TPM. Muito menos aquela que pratica exercício.
iG - Como a atleta pode driblar incômodos como dor, inchaço e cansaço excessivo?
TP- Esses sintomas podem e devem ser tratados garantindo que os hormônios se tornem aliados femininos. Podemos fazer isso de maneira muito eficaz. A ideia é que a mulher possa programar seu ciclo. A ausência de menstruação sem causa conhecida é perigosa e pode fazer parte de um quadro maior chamado Tríade da Mulher Atleta – que envolve alterações nutricionais, hormonais e ósseas. Entretanto, o desejo de não menstruar ou de regularizar o ciclo menstrual pode ser feito com segurança e deve estar ao alcance do conhecimento de toda mulher.
iG- É possível montar um treino de acordo com o ciclo menstrual?
TP- Sim. O primeiro passo é a mulher prestar atenção a seu rendimento e informar quando se sente melhor pra treinar. Isso é algo muito individual e deve ser valorizado. Nem todas se incomodam com o período menstrual. Algumas se sentem até mais fortes. No geral, 80% das atletas preferem competir após a menstruação e fogem do período pré-menstrual. Podemos ajudar fazendo um planejamento do ciclo menstrual em relação ao calendário competitivo, adaptando o período menstrual à percepção individual de melhor rendimento.
iG- Alguns esportes podem levar a maior risco de incontinência urinária?
TP- A incontinência urinária geralmente está associada a partos ou cirurgias vaginais, menopausa ou outras doenças. As atletas normalmente não passaram por estas situações, mas estão suscetíveis por sobrecarregar um grupo de músculos chamado assoalho pélvico. Esses músculos têm a função de sustentar os órgãos pélvicos – como útero, bexiga e parte do intestino –, absorver o impacto e garantir a continência urinária e fecal. Entretanto, a sobrecarga muitas vezes excede essa capacidade. Esportes como o fisiculturismo, corrida, ginástica de trampolim e esportes com bola são os de maior risco. O fortalecimento do assoalho pélvico deve ser preconizado entre as mulheres que praticam atividade física. É um trabalho muito importante feito por fisioterapeutas especializadas.
iG- Anticoncepcional pode ser considerado dopping?
TP- Pode. Por isso as atletas devem ser acompanhadas por profissionais conhecedores do assunto. Alguns contraceptivos contêm substâncias que podem ser confundidas com agentes anabólicos. Esse cuidado é imprescindível na prescrição à mulher atleta.
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