Os casos de sarampo registrados no ano passado na cidade de São Paulo mostram o potencial danoso da opção individual da não vacinação.
Dos 13 casos confirmados no município, dez são ligados. O surto começou em uma creche no Butantã entre seis bebês menores de um ano (idade indicada para a primeira dose contra a doença).
A situação foi potencializada quando o vírus passou para quatro crianças com idades entre cinco e dez anos que não eram imunizadas -apesar de a vacina ser recomendada para a faixa etária.
Segundo orienta o Programa Nacional de Imunização, a primeira dose da tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) deve ser aplicada aos 12 meses.
Entre os que se vacinam, há um percentual pequeno dos que não ficam protegidos contra as doenças. Há ainda um grupo de pessoas que não pode tomar a vacina.
De acordo com Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, uma menina de seis meses da creche, na zona oeste de São Paulo, teve contato com a prima, de seis anos, que transmitiu a doença a uma colega de cinco anos da escola. "Ela também não era vacinada, porque a família é contra imunizar", diz Barbosa. A menina de cinco anos passou o vírus para os irmãos, de dez e sete anos.
Questão de classe
Esse aglomerado de casos foi o único no Brasil a chamar a atenção do ministério em 2011. Até 13 de dezembro, o governo federal registrou 41 casos de sarampo, todos importados ou vinculados aos casos trazidos do exterior.
No Estado de São Paulo, foram 26 casos no ano, 61% deles entre não vacinados, segundo boletim da secretaria estadual de saúde. Entre 2006 e 2010, o Estado não registrou casos da doença.
Barbosa diz que grupos como o citado preocupam porque a última epidemia no país, em 1997, teve presença importante em colégios da alta classe média. Naquele ano, o Brasil teve mais de 53 mil casos registrados de sarampo.
O secretário cita um estudo feito nas capitais, levando em conta o esquema completado de imunização. Segundo a pesquisa, 76% das pessoas de classe A dão as vacinas na época correta. Na classe B, o percentual é de 85%.
"A pessoa diz: 'Meus filhos são bem nutridos, a complicação de sarampo é mais rara'. Mas isso é um certo 'egoísmo social', porque a empregada dela pode transmitir para o filho, que pode ter um caso grave", diz Barbosa.
Renato Kfouri, presidente da Sbim (Associação Brasileira de Imunizações), lembra do impacto social da não vacinação. "Você tem todo o direito de não tomar vacina, mas a opção leva a consequências sociais, para os que não podem tomar vacina, e a maiores gastos do Estado para bloquear o surto."
Monica Tilli, da coordenação de Vigilância em Saúde de São Paulo, conta que o surto de 2011 não se disseminou mais porque a cobertura vacinal é alta. Além disso, segundo ela, a ação da vigilância foi rápida para deter uma circulação maior do vírus.
"Na suspeita, fazemos um bloqueio vacinal entre professores, funcionários e alunos não vacinados. Vamos à escola, ao quarteirão, aos clubes. Você é obrigado a fazer uma 'operação limpeza'."
Tilli calcula ter gasto 4.000 doses de vacina nesse caso.
Por opção
A designer Ana Maria Lucas Fachina, 46, de São Paulo, só deu vacinas para sua filha Ana Beatriz, hoje com nove anos, até os quatro meses.
Ela conta que, nessa época, começou a se aproximar dos princípios da medicina antroposófica, que defende o uso de medicamentos alopáticos só em emergências.
"As infecções acontecem quando o corpo tem baixa defesa. Nosso estilo de vida inclui cuidados na alimentação, observação dos ritmos naturais do corpo, atenção e carinho. O corpo dela está em perfeitas condições para se defender", afirma.
Fachina diz que, mesmo em caso de surtos de doenças como o sarampo, não vacinaria a filha. "As doenças da infância são importantes para a criança criar resistência. Ninguém pode ser obrigado a tomar um medicamento contra sua vontade."
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário