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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Plásticas feitas por médicos não especialistas é um risco real para saúde

Belo Horizonte —  Quem é obcecado pela ideia de melhorar o visual costuma ignorar preceitos básicos de segurança. Esticar, aumentar, desentortar, remodelar ou diminuir são verbos conjugados quase despreocupadamente por alguns profissionais da medicina estética.

Há regras, mas muita gente as desrespeita. Ginecologistas implantam próteses mamárias em suas pacientes, ortopedistas se aventuram em lipoaspirações, anestesistas reparam narizes e pediatras viram experts em toxina botulínica — e por aí vai. A reviravolta nesse mercado tem incomodado, e muito, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia, que denunciam: a qualidade desses procedimentos pode ser um risco real no Brasil, onde, em 10 anos, aumentou em 609% o número de processos relativos à área julgados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), passando de 11 em 2001, para 78 no ano passado.

Apesar de o mercado estéticoatrair profissionais de áreas diversas há pelo menos 10 anos, foi apenas recentemente que essa situação se intensificou e virou epidemia em território nacional. A grande questão, segundo apontam as entidades que congregam cirurgiões plásticos e dermatologistas, é que esses outros profissionais ingressam na área se submetendo a cursos não legalizados para conseguir o título de especialização em medicina estética — termo, inclusive, não reconhecido pelo CFM nem por outras entidades médicas. Há aulas que, vendidas como pós-graduação, chegam a custar R$ 20 mil e exigem do aluno o registro no CFM e o diploma de médico.

Para ser um cirurgião plástico, o médico, depois de seis anos na graduação de medicina, precisa fazer dois anos de cirurgia geral e mais três anos de cirurgia plástica, o que resulta em 11 anos de preparo. Por lei, o profissional que se forma em medicina tem o direito de se especializar no que quiser. No entanto, a medicina estética, para qual há cursos de um ano, não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, que a considera inexistente na área médica. “O grande desafio nessa história é que não há uma regulamentação e as coisas estão sendo feitas mesmo assim. Não vai demorar muito para essa bomba estourar”, alerta o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Lincoln Lopes Ferreira, explicando que o médico que recorre a esse tipo de curso não contará com o respaldo do conselho em caso de algum problema durante a operação. “Há muitos profissionais sendo cassados por isso”, frisa Ferreira. A SBCP estima que 90% das complicações em cirurgias ocorrem quando o procedimento não é feito por um especialista.

A bomba já atingiu a analista química G.L.M. Em 2008, ela colocou uma prótese mamária com um médico que se dizia cirurgião plástico. “Ele cobrava mais barato, uma diferença de R$ 3 mil. Não gostei do resultado, meus seios ficaram feios e, para piorar, no fim do ano passado, senti um nódulo na mama e descobri que o silicone tinha estourado”, conta ela, acrescentando que soube, recentemente, que o doutor responsável pela sua cirurgia não era cirurgião plástico. “Eles nos enganam. Hoje, vou gastar muito mais para resolver o problema, mas tenho a certeza de que nunca mais farei uma cirurgia sem antes saber que profissional é esse”, aconselha, revelando que vai acertar as contas na Justiça.

Fonte Correio Braziliense

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