"Hospitalistas precisam ter o seu próprio dashboard, que permita que eles próprios decidam pela aceleração ou desaceleração em determinados momentos"
Reforço e trago alguns novos desafios a serem enfrentados no Brasil por hospitais e hospitalistas. Se aplicam também para hospitais que queiram se manter apenas com o modelo tradicional. “Basta” (embora experiências demonstrem que algumas dificuldades são maiores) trocar hospitalista por médico em geral.
1. Hospitais e hospitalistas representarem concretamente um binômio, o que impõe profundas mudanças, como de modelos contratuais e de remuneração, na postura profissional de ambas as partes e, não menos importantes, culturais. Assunto amplo, passível de ser desdobrado por blogueiros de Saúde Web que têm expertises complementares: como criar um horizonte único para médicos e hospital?
2. Maior e melhor participação dos médicos (no sentido mais estrito conhecido da palavra) neste importante debate de fundo.
3. Desenvolvimento de lideranças entre médicos hospitalistas, dificuldade que parece ser do setor de um modo geral.
4. Não permitir hospitalistas como que pilotando um carro sem controladores e sinalizadores. Explico melhor:
É bem significativo o número de hospitais que têm contratado médicos em formato que permitiria a atuação deles como verdadeiros hospitalistas, dando boas condições de trabalho a estes profissionais no que diz respeito à ambiente que os premia com a dose certa de protagonismo e autonomia, mas que carecem de ferramentas mínimas para adequado controle do processo assistencial e de seus resultados.
Este diálogo NÃO é mera obra de ficção:
- E aí, como está o programa de vocês?
- Indo…
- Satisfeitos?
- Gostaríamos de estar ganhando mais… Acho que os pacientes estão indo bem.
- E os administradores, satisfeitos com vocês?
- Aparentemente sim…
- E aqueles números que era desejo deles mudar? Aumentou o giro de pacientes? Como anda o tempo de internação?
- Ahhhhmm… E quando tem outro evento de Medicina Hospitalar, hein?
Hospitalistas precisam ter o seu próprio dashboard, que permita que eles próprios decidam pela aceleração ou desaceleração em determinados momentos. Não é sempre que se tem tempo para discutir o que fazer com o comando central. Precisam ter o dashboard e aprender a usar!
Tempo de internação, ou mortalidade e readmissões, são itens básicos. Assim como o velocímetro para quem dirige. Certamente há parcela de culpa do comando pela falta da informação, mas, no caso acima ilustrado, acompanhei o surgimento do programa e quando o gestor tornou claras ao grupo algumas prioridades.
Historicamente, nós médico aprendemos a dirigir como se estivéssemos sozinhos no mundo, e então um carro sem controladores e sinalizadores, e sem rádio para comunicação com o comando, até que serviria. Não serve mais… Não somente para a prática através da Medicina Hospitalar, mas também no modelo tradicional. E o pior é que esses hospitalistas, bons internistas de formação, talvez percam a oportunidade ímpar que lhes está sendo oferecida e encerrem participação no projeto sem saber exatamente o que deu errado e onde falharam: e então a parcela maior de culpa terá sido deles próprios e de mais ninguém.
Seu hospital não possui um sofisticado sistema de TI? Façam vocês mesmos, hospitalistas, o controle dos itens básicos (uma planilha de Excel não é o ideal, mas já é alguma coisa), ou não reclamem depois. Facilitem a comunicação com o gestor, demonstrem proativamente valor, e na perspectiva da administração também!
Já o hospital precisa de um dashboard muito mais completo, com informações essenciais para decisões de equipe, como parada nos boxes, mudanças na máquina, ou até mesmo para tomada de decisões superiores, como troca do piloto. Um dashboard em saúde moderno contempla muito mais do que mortalidade e tempo de interação.
5. Adequado gerenciamento dos recursos humanos: O número de lideranças ou talentos mal aproveitados no setor é também significativo. Recentemente, ao assistir uma apresentação no Hospital de Clínicas de Porto Alegre de projeto de qualidade sobre alta hospitalar, elaborado por muitos, mas com dois clínicos de mão cheia na liderança do processo, pensei: “imagina se fossem hospitalistas”. Um deles, o Miguel, tem vários empregos e seu vínculo direto com pacientes se dá em outra organização. Agora imagine a possibilidade de juntar tudo através de um programa de Medicina Hospitalar, com ele trabalhando protocolos clínicos (outra de suas habilidades) a uma distância menor do resultado final (o cuidado efetivamente ofertado ao paciente)? Bah… Empolga-me até no pensamento…
Fonte SaudeWeb
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